Jan Dukes de Grey é uma daquelas joias raras e subestimadas da história do rock progressivo, cujo brilho, apesar de ofuscado pelo tempo, continua a fascinar aqueles que buscam conhecer além da superfície do gênero. Formada em 1969 como um duo, a banda inicialmente consistia na dupla, Michael Bairstow e Derek Noy, dois multi-instrumentistas de talento inquestionável. O grupo rapidamente chamou a atenção da Decca, uma gravadora que, ironicamente, também é famosa por ter rejeitado os Beatles em seus primórdios. Embora o primeiro álbum, Sorcerers, tenha sido um típico exemplo de folk ácido, sem grandes inovações, ele já mostrava o potencial dos músicos. Infelizmente, este disco teve pouco impacto e hoje só é encontrado em versões bootleg.
No entanto, foi o segundo álbum, Mice and Rats in the Loft, que realmente elevou a Jan Dukes de Grey ao status de lenda cult. Já como um trio, com a adição do baterista Denis Conlan, a banda criou um excelente disco composto por três faixas longas e imersas em psicodelia progressivamente inclinadas para o prog folk. A sonoridade livre e improvisada, em contraste com a estrutura mais convencional do álbum anterior, revela uma maturidade artística impressionante. O álbum apresenta uma vasta gama de instrumentos e influências que vão de Jethro Tull a Incredible String Band, mesclando elementos de folk, rock progressivo e psicodelia de forma única.
A peça central do álbum, "Sun Symphonica", é um épico de dezenove minutos que começa com um tema folk vibrante, sustentado por um baixo groove e vocais excêntricos. A calmaria inicial logo dá lugar a uma sonoridade frenética e ácida, com passagens instrumentais psicodélicas e solos de guitarra acústica que evocam uma sensação de caos controlado. Aos seis minutos, elementos sinfônicos e seções de cordas entram em cena, elevando a complexidade e a profundidade da composição. Os vocais, antes alegres, se tornam sombrios, refletindo letras que abordam temas obscuros e sinistros. A faixa evolui para um final caótico e psicodélico, onde uma cacofonia de instrumentos e sons se sobrepõe ao baixo repetitivo, criando uma experiência auditiva intensa e inesquecível.
"Call of the Wild", a segunda faixa, tem um início mais contido, com uma forte influência de Jethro Tull. As harmonias vocais e a sonoridade folk criam um clima sereno, mas a música rapidamente se desdobra em solos de guitarra e flauta que variam entre o folk acústico e algo mais sombrio e inquietante. Embora não tenha o mesmo impacto épico de "Sun Symphonica", "Call of the Wild" se destaca pela sua habilidade de criar uma sonoridade rica e encorpada com poucos instrumentos, culminando em um final frenético e psicodélico.
A faixa-título, "Mice and Rats in the Loft", é a mais obscura e estranha do álbum. Começando com o som estridente de uma sirene, a música rapidamente se aprofunda em um ritmo incomum, com vocais nefastos e seções instrumentais bizarras. Apesar de ser a faixa estruturalmente menos complexa do álbum, ela é também a mais visceral e intensa, encerrando a obra com uma nota de estranheza e intensidade.
É lamentável que Jan Dukes de Grey tenha lançado apenas este álbum antes de se dissolver. Porém, Mice and Rats in the Loft permanece como um testamento da criatividade e ousadia do grupo. Para os amantes do prog rock com inclinações para o folk, especialmente aqueles que apreciam experimentalismos e psicodelia, este disco é obrigatória. O fato de ter sido praticamente esquecido pela história apenas aumenta o fascínio e o valor dessa peça rara. Felizmente, a música é atemporal, e obras como esta eventualmente encontram seu merecido reconhecimento.
NOTA: 8.5/10
Tracks
Listing:
1.
Sun Symphonica (18:58)
2. Call of the Wild (12:48)
3. Mice and Rats in the Loft (8:19)
Ouça, "Sun Symphonica"
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