Yes - Relayer (1974)

 

Após o lançamento do controverso Tales From Topographic Oceans, a saída de Rick Wakeman para seguir uma carreira solo levou à sua substituição pelo até então relativamente desconhecido Patrick Moraz. O tecladista já havia substituído Keith Emerson com sucesso na The Nice, transformando a banda em Refugee, mostrando que suas credenciais eram sólidas. Contudo, o estilo de Moraz é distinto de Emerson e Wakeman; ele traz um som mais jazzístico, menos focado em solos virtuosos e mais em contribuir para a coesão sonora de cada música. Essa abordagem deu a Relayer uma sensação diferente de tudo que o Yes havia apresentado até então.

Cada membro da banda brilha neste álbum. Jon Anderson entrega uma de suas melhores performances vocais, e suas letras têm mais clareza e profundidade do que o habitual. Steve Howe está afiado em sua guitarra, complementada pelo baixo vigoroso e preciso de Chris Squire. Alan White exibe habilidades excepcionais na bateria, talvez uma das performances mais inspiradas de sua carreira. Patrick Moraz, como já mencionado, é menos voltado ao virtuosismo individual, mas sua contribuição é requintada e criativa em todas as músicas, adicionando uma nova camada de sofisticação ao som da banda.

O álbum contém apenas três faixas, mas cada uma delas é uma obra-prima em si. A abertura, "The Gates of Delirium", começa de maneira suave, com pratos, teclado, guitarra e baixo criando uma atmosfera acessível e diferente das introduções épicas anteriores do da banda. São cerca de dois minutos de preparação antes que os vocais de Anderson entrem, dando início à música propriamente dita. Desde o começo, a diferença no trabalho das teclas é evidente; enquanto Wakeman costumava dominar com solos, Moraz convida todos os músicos a se juntarem a ele, criando uma peça complexa, mas bem oleada, onde cada elemento tem a mesma importância.

Após uma breve seção vocal acompanhada brilhantemente por Squire, a música se transforma em um festival de caos controlado, com Howe liderando a "bagunça", sempre complementado por Moraz, Squire e a bateria forte e precisa de White. Nesta faixa, White parece mais confortável do que nunca, aproveitando a liberdade criativa que lhe foi dada. Por volta dos seis minutos, o ouvinte é levado a um território imprevisível, onde qualquer coisa pode acontecer; enquanto um membro tenta iniciar um solo, outro intervém, criando um caos musical intencional e desafiador. Howe, Squire e Moraz constroem um conflito sonoro maravilhoso, com mudanças radicais e ataques violentos aos instrumentos, desafiando o ouvinte e a si mesmos de uma forma que poucas bandas se atrevem a fazer. A música culmina no delicado "Soon", que traz uma calmaria ao épico, encerrando-o de maneira sublime e de tirar o fôlego.

"Sound Chaser" é uma faixa que começa de forma perturbadora, sem aviso prévio, com uma maravilhosa mistura de jazz e progressivo. É um verdadeiro ataque aos sentidos, onde parece que cada músico foi autorizado a fazer o que quisesse em uma espécie de free jazz. Contudo, se ouvirmos com atenção, percebemos uma estrutura muito bem elaborada, onde cada nota e som têm um propósito claro. As guitarras nervosas de Howe, os teclados atmosféricos de Moraz, e a cozinha rítmica refinada de Squire e White criam uma sinfonia técnica de pura maestria. A única coisa que talvez não acrescente tanto à música são os "cha cha cha" cantados por Anderson, mas isso é um detalhe insignificante em uma obra tão grandiosa.

"To Be Over" oferece uma espécie de alívio após a tempestade das faixas anteriores. A música começa de maneira bela e serena, com teclado e guitarra tecendo uma introdução tranquila. Esta faixa contém alguns dos vocais mais bonitos da discografia do Yes e as melhores letras do álbum. Após quase dois minutos de introdução, os vocais e a bateria entram, mantendo a cadência suave até que a música se torna mais dramática e enérgica. A faixa inclui um excelente solo de guitarra sobre uma base instrumental sólida e bem estruturada. Os vocais retornam de forma dramática e bela, e há um curto solo de teclado que soa refrescante, oferecendo uma nova perspectiva sonora que ainda não havia sido explorada no álbum. Relayer termina de forma vibrante, deixando o ouvinte imerso em sua grandiosidade.

Este é um dos discos mais icônicos do Yes, uma obra onde tudo é cuidadosamente elaborado. Relayer é provavelmente o álbum mais melódico e emocionalmente satisfatório da banda, mostrando o Yes em um de seus momentos mais inspirados. Não é essencial apenas para os fãs de rock progressivo; é obrigatório para qualquer amante de música complexa e bela.

========
========
========
========

After the controversial release of Tales From Topographic Oceans, Rick Wakeman's departure to pursue a solo career led to his replacement by the relatively unknown Patrick Moraz. The keyboardist had previously replaced Keith Emerson with success in The Nice, transforming the band into Refugee and proving his credentials. However, Moraz's style is distinct from Emerson and Wakeman; he brings a jazzier sound, less focused on virtuosic solos and more on contributing to the sonic cohesion of each song. This approach gives Relayer a different feel from anything Yes had presented before.

Each band member shines on this album. Jon Anderson delivers one of his best vocal performances, and his lyrics have more clarity and depth than usual. Steve Howe is sharp on guitar, complemented by Chris Squire’s vigorous and precise bass. Alan White displays exceptional drumming skills, perhaps one of the most inspired performances of his career. Patrick Moraz, as mentioned, is less focused on individual virtuosity, but his contribution is refined and creative across all tracks, adding a new layer of sophistication to the band's sound.

The album contains only three tracks, but each is a masterpiece in itself. The opener, "The Gates of Delirium," begins gently, with cymbals, keyboards, guitar, and bass creating an accessible atmosphere, different from the band's previous epic introductions. There are about two minutes of preparation before Anderson’s vocals come in, marking the start of the song proper. From the beginning, the difference in keyboard work is evident; while Wakeman used to dominate with solos, Moraz invites all the musicians to join him, creating a complex but well-oiled piece where each element holds equal importance.

After a brief vocal section brilliantly accompanied by Squire, the song transforms into a festival of controlled chaos, with Howe leading the "mess," always complemented by Moraz, Squire, and White’s strong and precise drumming. In this track, White seems more comfortable than ever, relishing the creative freedom given to him. Around the six-minute mark, the listener is taken into unpredictable territory, where anything can happen; as one member attempts to start a solo, another intervenes, creating intentional and challenging musical chaos. Howe, Squire, and Moraz build a wonderful sonic conflict, with radical changes and violent attacks on the instruments, challenging the listener and themselves in a way few bands dare to. The song culminates in the delicate "Soon," which brings calm to the epic, ending it in a sublime and breathtaking manner.

"Sound Chaser" is a track that begins disturbingly, without warning, with a wonderful mix of jazz and progressive elements. It is a true sensory assault, where it seems each musician was allowed to do as they pleased in a kind of free jazz. However, if listened to carefully, one can discern a very well-crafted structure where every note and sound has a clear purpose. Howe’s nervous guitars, Moraz’s atmospheric keyboards, and Squire and White’s refined rhythm section create a technically proficient symphony of pure mastery. The only thing that might not add much to the music are the "cha cha cha" sung by Anderson, but this is a minor detail in such a grandiose work.

"To Be Over" offers a kind of relief after the storm of the previous tracks. The song starts beautifully and serenely, with keyboards and guitar weaving a tranquil introduction. This track contains some of the most beautiful vocals in Yes's discography and the best lyrics of the album. After nearly two minutes of introduction, the vocals and drums enter, maintaining the smooth cadence until the song becomes more dramatic and energetic. The track includes an excellent guitar solo over a solid and well-structured instrumental base. The vocals return dramatically and beautifully, and there is a short, refreshing keyboard solo that offers a new sonic perspective that had not yet been explored on the album. Relayer ends vibrantly, leaving the listener immersed in its grandeur.

This is one of Yes’s most iconic albums, a work where everything is meticulously crafted. Relayer is probably the band’s most melodically and emotionally satisfying album, showcasing Yes at one of their most inspired moments. It is essential not only for progressive rock fans; it is a must for any lover of complex and beautiful music.

NOTA: 10/10

Tracks Listing:

1. The Gates of Delirium (21:55)
2. Sound Chaser (9:25)
3. To Be Over (9:08)

Ouça, "The Gates of Delirium"




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Solaris - Marsbéli Krónikák (The Martian Chronicles) (1984)

  Marsbéli Krónikák  é um álbum que merece atenção especial dentro do rock progressivo dos anos 80. Apesar da década ser frequentemente vist...

Postagens mais visitadas na última semana