Galahad - Quiet Storms (2017)

 

Quando lançado em 2017, Quiet Storms rapidamente se destacou como um álbum "diferente" na discografia do Galahad, exibindo um lado mais contemplativo e suave da banda. Com uma carreira de mais de vinte e cinco anos marcada por experimentação e ousadia, a banda sempre se mostrou disposto a explorar novos caminhos e direções, e esse álbum é um reflexo claro dessa atitude.

Quiet Storms surge como uma continuação do CD duplo When Worlds Collide de 2015, disco esse que a banda evitou lançar como uma simples retrospectiva e, em vez disso, optou por regravar e reimaginar muitas de suas antigas músicas. Em Quiet Storms, a banda reescreve de forma semelhante uma série de faixas, mas as interpreta de maneira diferente das versões originais, criando uma nova experiência para os fãs.

O álbum abre com "Guardian Angel", que começa com um piano simples e adorável, apoiado por vocais belos e sinceros. Esta versão é uma interpretação cristalina e muito distante da original, frenética, presente no disco Beyond The Realms Of Euphoria. Em seguida, "Beyond the Barbed Wire", originalmente lançada em Battle Scars, segue um caminho semelhante, mas com a adição de violões. O título ambíguo do álbum é refletido na maneira como essas músicas, apesar de serem transmitidas de forma mais sutil e pastoral, ainda conseguem manter a intensidade de suas versões originais, destacando a clareza das letras e uma sensação de restrição musical que carrega um poder próprio.

Uma das características mais notáveis de Quiet Storms são as escolhas incomuns de covers, que demonstram que a banda não se limita a fronteiras musicais estreitas. Um exemplo é "Mein Herz Brennt", originalmente composta pela banda alemã Rammstein. Nesta versão, Stuart Nicholson canta em alemão sobre um leve acompanhamento de piano e violino, criando uma interpretação que está a uma galáxia de distância da original. Os vocais dão à canção um toque pessoal, tornando-a encantadora. A meu ver, essa música merecia estar na posição de encerramento do álbum.

"Termination", cuja versão original está em Empires Never Last, é reapresentada aqui como um dueto doce e melancólico, com os vocais divididos com Christina Booth, da banda Magenta. Esta nova interpretação adota uma abordagem mais silenciosa, demonstrando que, às vezes, "menos é mais", à medida que a emoção se destaca em cada nota, em vez de ser "sufocada" por uma sonoridade mais alta e pesada.

O som deste disco também se destaca pelo fato de que, no ano anterior ao lançamento, o guitarrista de longa data da banda, Roy Keyworth, deixou o grupo. Isso pode explicar por que o álbum apresenta de maneira mais proeminente os teclados de Dean Baker e a voz de Stuart, com menos ênfase nas guitarras. Nicholson, em particular, aproveita a oportunidade para mostrar a versatilidade e o timbre rico de sua voz. "This Life Could Be My Last" começa com uma repetição de frases da faixa-título, como na versão original do álbum Empires Never Last, com uma bela carga emocional sobre uma fina cama de piano e leve percussão nos refrãos, resultando em uma música que se desenvolve de forma muito interessante.

Em "Easier Said Than Done", Dean Baker exibe suas habilidades orquestrais de forma resplandecente, com a voz de Nicholson se derramando como mel. Originalmente lançada no álbum Following Ghosts em 1999, essa faixa ganha uma nova vida com a participação de Sarah Bolter, que adiciona um delicioso clarinete, transformando-a em uma verdadeira pérola. O álbum também inclui algumas músicas originais, como a translúcida "Willow Way", que brilha como um raio de sol musical e lírico em um disco frequentemente mais obscuro. Os sons do campo são acompanhados por um bonito teclado e  violões suaves, fluindo de maneira pastoral e encantadora.

Mesmo quando o ouvinte acredita ter compreendido a direção que o álbum está tomando, com versões predominantemente baseadas em piano e vocais suaves, a banda surpreende com "Melt", uma faixa pop sintetizada com ecos dos anos 80, carregando sutis e emotivas linhas de piano. Por outro lado, duas faixas merecem uma menção por não alcançarem o mesmo impacto das outras no álbum: "Iceberg" e "Shine". Apesar de não possuírem a mesma sutileza e intensidade das demais, essas pequenas falhas fazem parte do fluxo natural de experimentação, onde nem sempre tudo funciona para todos. Contudo, essas pequenas queixas não são capazes de tirar o saldo positivo do disco. 

Fãs de longa data e admiradores da orientação progressiva da banda podem inicialmente ter dificuldade em absorver a direção escolhida pela banda aqui. No entanto, aconselho a persistirem e não abandonarem o álbum após a primeira audição, pois, com o tempo, é possível descobrir algo edificante nessa abordagem pastoral. Afinal, o Galahad sempre foi uma banda que prefere a jornada ao destino, sendo, Quiet Storms, uma etapa interessante nessa jornada contínua de exploração sonora.

NOTA: 7/10

Tracks Listing:

1. Guardian Angel (3:54)
2. Iceberg (4:10)
3. Beyond the Barbed Wire (4:28)
4. Mein Herz Brennt (My Heart Burns) (5:03)
5. Termination (5:17)
6. This Life Could Be My Last (5:50)
7. Pictures of Bliss (2:11)
8. Willow Way (4:13)
9. Easier Said than Done (4:18)
10. Melt (4:28)
11. Weightless (5:30)
12. Shine (9:15)
13. Don't Lose Control (5:40)
14. Marz (and Beyond) (6:14)
15. Guardian Angel (Hybrid) (4:43)

Ouça, "Beyond the Barbed Wire"





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