A banda O Terço, ao longo de seus dois primeiros álbuns, explorou um rock mais direto, com algumas influências progressivas que se destacaram, especialmente em O Terço II. No entanto, foi com Criaturas da Noite que o grupo deu um salto notável, criando aquele que é considerado não apenas um dos álbuns mais importantes do rock progressivo sinfônico do Brasil mas de toda a América do Sul. A entrada de Flávio Venturini como tecladista fixo parece ter sido o catalisador para esse refinamento musical, elevando o som da banda a um novo patamar. Venturini não só colaborou na composição de três faixas, incluindo a faixa-título, como também criou sozinho a icônica "1974", que viria a se tornar um dos maiores clássicos do grupo.
O disco abre com "Hey Amigo", uma faixa que se inicia com um baixo marcante que é logo complementado por bateria e órgão, até culminar em um excelente trabalho de guitarra. Este é um rock and roll enérgico e dançante, coroado com um ótimo solo de guitarra no final, estabelecendo um início direto e impactante. "Queimada" revela o lado mais folk da banda pela primeira vez. As harmonias vocais são deslumbrantes, uma complementando a outra com perfeição. A simplicidade instrumental, focada em violas e violão é enriquecida por uma percussão suave na parte final, mostrando a beleza e a maestria dos músicos.
"Pano de Fundo" começa com uma atmosfera que remete ao som mais sombrio do Black Sabbath, mas os vocais trazem um toque de leveza, transformando a música em algo mais alegre. O solo final de guitarra, claramente influenciado por Santana, é uma maravilha à parte, repleta de ritmo e energia. "Ponto Final" é uma composição belíssima e que se inicia com uma delicada estrutura de piano, acompanhada por um coral sutil. Os sintetizadores adicionam uma camada perfeita, enquanto baixo e bateria fornecem uma base sólida e confortável. A guitarra distorcida acrescenta um brilho extra à música, e o piano, com sua emotividade, lembra a sofisticação da escola progressiva italiana.
"Volte na Próxima Semana" é a faixa mais pesada do disco, um rock and roll puro, com riffs de guitarra poderosos, solos marcantes, linhas de baixo intensas, bateria avassaladora e um órgão impactante. Os vocais, cheios de vigor, completam essa faixa feita para ser ouvida no volume máximo. "Criaturas da Noite" destaca-se por seu vocal ao piano, interpretado por Venturini e enriquecido pela orquestração magistral de Rogério Duprat. Esta é uma canção simples, mas profundamente bela, daquelas que tocam o coração pela sua carga emocional intensa. "Jogo das Pedras" é outra faixa prazerosa de se ouvir, com uma melodia inicial cativante que inspira a vontade de tocá-la ao violão. Os vocais, novamente bem estruturados, refletem sobre as incertezas da vida, enquanto Sérgio Hinds entrega mais um solo de guitarra excepcional, um dos melhores de sua carreira.
Finalmente, "1974" se destaca como a faixa mais progressiva do álbum. Começando com um piano delicado e emocional, a música se estende por mais de doze minutos de puro rock progressivo sinfônico instrumental, apenas com algumas vocalizações. Cada passagem, seja mais serena ou mais intensa, é executada com uma delicadeza impressionante. Bateria e baixo constroem uma base sólida, enquanto guitarra e teclado pintam o som com cores vibrantes, resultando em uma verdadeira obra-prima atemporal. É difícil mensurar a popularidade dessa faixa fora do Brasil, mas qualquer amante do rock progressivo clássico deve ouvir esta peça pelo menos uma vez.
Ao final, Criaturas da Noite deixa no ouvinte uma mescla de alegria e melancolia. Embora o álbum não esteja completamente isento de falhas, estas são insignificantes diante do marco que ele representa na história do rock progressivo brasileiro.
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The band O Terço, throughout their first two albums, explored a more straightforward rock sound with some progressive influences that particularly stood out in O Terço II. However, it was with Criaturas da Noite that the group made a remarkable leap, creating what is considered not only one of the most important albums in Brazilian symphonic progressive rock but in all of South America. The addition of Flávio Venturini as a permanent keyboardist seems to have been the catalyst for this musical refinement, elevating the band's sound to a new level. Venturini not only contributed to the composition of three tracks, including the title track, but also created the iconic "1974" on his own, which would become one of the group's greatest classics.
The album opens with "Hey Amigo," a track that begins with a prominent bass line that is soon complemented by drums and organ, eventually culminating in excellent guitar work. This is an energetic and danceable rock and roll track, crowned with a great guitar solo at the end, establishing a direct and impactful start. "Queimada" reveals the band's more folk side for the first time. The vocal harmonies are stunning, perfectly complementing each other. The instrumental simplicity, focused on acoustic guitars, is enriched by a soft percussion in the final part, showcasing the musicians' beauty and mastery.
"Pano de Fundo" begins with an atmosphere reminiscent of Black Sabbath's darker sound, but the vocals bring a touch of lightness, transforming the song into something more joyful. The final guitar solo, clearly influenced by Santana, is a marvel in itself, full of rhythm and energy. "Ponto Final" is a beautiful composition that begins with a delicate piano structure, accompanied by subtle choral vocals. The synthesizers add a perfect layer, while bass and drums provide a solid and comfortable foundation. The distorted guitar adds an extra sparkle to the song, and the piano, with its emotionality, recalls the sophistication of the Italian progressive school.
"Volte na Próxima Semana" is the heaviest track on the album, a pure rock and roll, with powerful guitar riffs, striking solos, intense bass lines, overwhelming drums, and a commanding organ. The vocals, full of vigor, complete this track, which is made to be heard at maximum volume. "Criaturas da Noite" stands out for its piano-driven vocal, performed by Venturini and enriched by Rogério Duprat's masterful orchestration. This is a simple yet profoundly beautiful song, one that touches the heart with its intense emotional weight. "Jogo das Pedras" is another enjoyable track, with a captivating initial melody that inspires the desire to play it on the guitar. The well-structured vocals reflect on life's uncertainties, while Sérgio Hinds delivers yet another exceptional guitar solo, one of the best of his career.
Finally, "1974" stands out as the most progressive track on the album. Beginning with a delicate and emotional piano, the song extends over twelve minutes of pure instrumental symphonic progressive rock, with only a few vocalizations. Every passage, whether serene or intense, is executed with impressive delicacy. Drums and bass build a solid foundation, while guitar and keyboard paint the sound with vibrant colors, resulting in a true timeless masterpiece. It is difficult to gauge the popularity of this track outside Brazil, but any lover of classic progressive rock should listen to this piece at least once.
In the end, Criaturas da Noite leaves the listener with a mix of joy and melancholy. Although the album is not entirely free of flaws, these are insignificant in light of the milestone it represents in the history of Brazilian progressive rock.
NOTA: 9/10
Tracks Linting
1. Hey amigo (3:22)
2. Queimada (3:04)
3. Pano de fundo (3:44)
4. Ponto final (4:38)
5. Volte na proxima semana (2:51)
6. Criaturas da noite (3:41)
7. Jogo das pedras (3:25)
8. 1974 (12:27)
Ouça, "1974"
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