Jethro Tull - Thick As A Brick (1972)

 

Entre as muitas características que definem o rock progressivo, duas se destacam como pilares do gênero: a capacidade de criar álbuns conceituais e o talento para desenvolver épicos musicais. Thick as a Brick, do Jethro Tull, exemplifica magistralmente essas duas qualidades, apresentando-se como um dos trabalhos mais emblemáticos do gênero.

O enredo do álbum gira em torno de Gerald "Little Milton" Bostock, um garoto fictício que escreve um poema complexo para uma competição, apenas para ser desqualificado pelos juízes por uma suposta palavra imprópria. Embora a palavra nunca seja explicitamente mencionada, o álbum sugere que se trata de uma expressão de quatro letras. No entanto, o verdadeiro problema que os juízes têm com o poema está relacionado à sua moral e à temática forte que aborda, o que os leva a premiar uma menina de 12 anos que escreveu um texto mais simples sobre ética cristã, intitulado "Ele morreu para salvar as crianças pequenas".

A temática de Thick as a Brick explora a influência negativa da sociedade sobre os indivíduos, impedindo-os de pensar por si próprios, como fez o jovem Gerald Bostock. Embora o tema possa parecer simples e até cômico à primeira vista, na verdade é uma sátira mordaz à hipocrisia da sociedade britânica, que frequentemente se esconde atrás de uma falsa moralidade para evitar discutir questões polêmicas que, embora verdadeiras, são mantidas na obscuridade.

Além de seu conteúdo lírico e musical, o disco também se destaca por uma das capas mais icônicas da história da música. A apresentação original do álbum é uma obra de arte em si, composta por 12 páginas que simulam o St. Cleve Chronicle, um pequeno jornal fictício da cidade. Nessas páginas, o ouvinte encontra as letras, a história completa, os créditos e até mesmo uma acusação de estupro contra o personagem Little Milton por uma menina mais velha, tudo isso embutido na sátira.

Com um cuidado tão meticuloso em todos esses aspectos, não é surpreendente que o resultado final musical de Thick as a Brick seja magnífico. O álbum é repleto de belíssimas peças acústicas medievais, tanto nos violões quanto nos teclados, além de passagens mais pesadas que evocam o hard rock e influências folclóricas. Ian Anderson, com sua flauta tradicional, oferece uma interpretação vocal ímpar, acompanhada de belas ideias no violão. No entanto, a grande surpresa do álbum é John Evans, cujos teclados são completos, carregando o peso de todo o trabalho sem uma nota redundante ou sons desnecessários. Tudo está no lugar certo, contribuindo para a harmonia da obra.

Martin Barre também desempenha um papel crucial, especialmente nas partes mais pesadas, onde sua guitarra adiciona personalidade e força à música. Barriemore Barlow, na bateria, é sempre preciso, mantendo a seção rítmica coesa, juntamente com o baixo de Jeffrey Hammond, que oferece um excelente apoio.

Jethro Tull estava em seu auge criativo em Thick as a Brick, e descrever adequadamente os 43 minutos dessa obra-prima é uma tarefa quase impossível. As letras, creditadas a Gerald "Little Milton" Bostock (uma piada elaborada por Ian Anderson), são o texto do poema fictício e merecem ser ouvidas com atenção especial, pois são extremamente complexas e abordam temas controversos.

Em resumo, Thick as a Brick é um daqueles álbuns que entram para o seleto grupo de discos perfeitos. Se você ainda não o ouviu, está perdendo uma das obras mais fundamentais da história do rock progressivo, uma verdadeira joia que deve fazer parte da coleção de qualquer apreciador do gênero.

NOTA: 10/10

Tracks Listing:

1. Thick as a Brick - Part 1 (22:39)
2. Thick as a Brick - Part 2 (21:05)

Ouça, "Thick as a Brick - Part 1"





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