Murple - Io Sono Murple (1974)


Murple é uma banda que entregou um disco de rock progressivo italiano dos anos 70 que consegue captar bem a essência do gênero que florescia na época pela região. Centrado principalmente nos teclados sinfônicos e no piano de Pier Carlo Zanco, Io Sono Murple é um disco que reúne todas as características que tornaram o rock progressivo italiano tão apreciado.

O álbum é composto por duas longas suítes, cada uma ocupando um lado do disco e dividida em seis movimentos que narram a melancólica história do pinguim Murple. Em busca de escapar da monotonia de sua existência, Murple decide, de forma espontânea, afastar-se de seu grupo e de seu habitat natural. No entanto, a liberdade que ele almejava é tragicamente interrompida quando é capturado pelo homem, forçado a viver primeiramente em um circo e posteriormente em um zoológico, onde termina seus dias abraçado a um pequeno iceberg de plástico. Essa narrativa, ao mesmo tempo ingênua e profundamente simbólica, é embalada por uma música muito bem texturizada, centrada nos teclados, mas também adornada por guitarras temperamentais e uma base rítmica sólida que traçam o cenário ideal para a triste história que envolve o disco. A sonoridade do álbum é romântica e delicada, lembrando o trabalho de bandas como Locanda Delle Fate, mas com e a profundidade musical da Premiata Forneria Marconi, claro, guardado as devidas proporções. 

A suíte do lado A, Antartide / Metamorfosi / Pathos / Senza Un Perché / Nessuna Scelta / Murple Rock",começa de forma suave e introspectiva, mas rapidamente se transforma quando, após cerca de dois minutos um solo de bateria intensifica a música, levando-a a uma seção mais rock com uma interação vibrante entre os instrumentos. As três primeiras partes, "Antartide", "Metamorfosi" e "Pathos", são dinâmicas e cheias de mudanças de ritmo e humor, demonstrando a capacidade composicional e a astúcia da banda de manter o ouvinte envolvido. Após os sete primeiros minutos, em "Senza un perché", as notas delicadas de piano introduzem os vocais pela primeira vez. As melodias vocais são maravilhosas, embora os vocais em si, apesar de carregarem a emoção característica dos cantores italianos, possam parecer um pouco fracos. Isso se deve, em parte, ao fato de a banda não contar com um vocalista principal, fazendo com que as partes vocais sejam divididas entre o guitarrista Pino Santamarià e o tecladista Pier Carlo Zanco. Entretanto, esse detalhe não diminui tanto a força do álbum, especialmente quando após cerca de dez minutos e meio, o incrível coral introduz "Nessuna Scelta", enriquecida por padrões de teclado notáveis e mais algumas boas linhas vocais. A primeira parte do disco se encerra com "Murple Rock", um instrumental onde a guitarra se destaca com um trabalho excepcional.

A suíte do lado B, "Preludio E Scherzo / Tra Fili / Variazioni in 6/8 / Fratello / Un Mondo Cosi / Antarplastic" começa uma seção de piano solo de inspiração clássica. Os vocais retornam quase aos três minutos em "Tra I filí", faixa que na época foi escolhida como single para promover o álbum, Possui um trabalho sólido  de guitarra, baixo e bateria, além de teclados que elevam a carga emocional da música. Tudo então muda para uma seção mais frenética em "Variazioni in 6/8", um movimento instrumental liderado por teclados vanguardistas que evocam a sonoridade do Banco Del Mutuo Soccorso, com toda a banda demonstrando afinação e técnica impressionantes. Os vocais retornam em "Fratello" e "Un mondo Cosí", mas o verdadeiro destaque reside nas passagens instrumentais, onde ótimas linhas de baixo, guitarras bem posicionadas e baterias que capturam a essência da música são complementadas por teclados sinfônicos articulados. O álbum encerra com a instrumental "Antarplastic", uma breve reprise da faixa de abertura, "Antartide".

Liricamente, "Io Sono Murple" pode parecer, em comparação a outros álbuns conceituais, um tanto quanto ingênuo e talvez até pouco inspirado. No entanto, essa simplicidade parece intencional, já que o tema poderia facilmente se adaptar a um livro de histórias infantis. Embora eu não considere que o disco tenha substância suficiente para recomendá-lo a qualquer amante de rock progressivo, ele certamente possui um charme especial. Dentro do contexto do rock progressivo italiano, mesmo não sendo um clássico absoluto como as obras de tantas outras bandas contemporâneas, "Io Sono Murple" é uma peça que tem o seu valor. 

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Murple is a band that delivered a 70s Italian progressive rock album that captures the essence of the genre flourishing in the region at the time. Centered primarily on Pier Carlo Zanco's symphonic keyboards and piano, Io Sono Murple is an album that gathers all the characteristics that made Italian progressive rock so beloved.

The album consists of two long suites, each occupying one side of the record and divided into six movements that narrate the melancholic story of the penguin Murple. Seeking to escape the monotony of his existence, Murple spontaneously decides to distance himself from his group and natural habitat. However, the freedom he yearned for is tragically interrupted when he is captured by humans, forced to live first in a circus and later in a zoo, where he ends his days embracing a small plastic iceberg. This narrative, both naive and deeply symbolic, is accompanied by beautifully textured music, centered on keyboards but also adorned with temperamental guitars and a solid rhythm section, setting the ideal backdrop for the sad story that unfolds throughout the album. The album's sound is romantic and delicate, reminiscent of bands like Locanda Delle Fate, but with the musical depth of Premiata Forneria Marconi, albeit on a smaller scale.

The suite on side A, "Antartide / Metamorfosi / Pathos / Senza Un Perché / Nessuna Scelta / Murple Rock," begins gently and introspectively, but quickly transforms when, after about two minutes, a drum solo intensifies the music, leading to a more rock-oriented section with vibrant interaction between the instruments. The first three parts, "Antartide," "Metamorfosi," and "Pathos," are dynamic and full of rhythm and mood changes, showcasing the band's compositional ability and astuteness in keeping the listener engaged. After the first seven minutes, in "Senza un perché," delicate piano notes introduce the vocals for the first time. The vocal melodies are wonderful, although the vocals themselves, despite carrying the characteristic emotion of Italian singers, may seem a bit weak. This is partly due to the fact that the band did not have a lead vocalist, so the vocal parts were divided between guitarist Pino Santamarià and keyboardist Pier Carlo Zanco. However, this detail doesn't significantly diminish the strength of the album, especially when, after about ten and a half minutes, the incredible choir introduces "Nessuna Scelta," enriched by remarkable keyboard patterns and some more good vocal lines. The first part of the album ends with "Murple Rock," an instrumental where the guitar stands out with exceptional work.

The suite on side B, "Preludio E Scherzo / Tra Fili / Variazioni in 6/8 / Fratello / Un Mondo Cosi / Antarplastic," begins with a classically inspired solo piano section. The vocals return after almost three minutes in "Tra Fili," a track that was chosen as a single to promote the album at the time. It features solid guitar, bass, and drum work, along with keyboards that elevate the emotional weight of the music. Everything then shifts to a more frenetic section in "Variazioni in 6/8," an instrumental movement led by avant-garde keyboards that evoke the sound of Banco Del Mutuo Soccorso, with the entire band demonstrating impressive harmony and technique. The vocals return in "Fratello" and "Un mondo Cosí," but the real highlight lies in the instrumental passages, where great bass lines, well-placed guitars, and drums that capture the essence of the music are complemented by articulate symphonic keyboards. The album concludes with the instrumental "Antarplastic," a brief reprise of the opening track, "Antartide."

Lyrically, Io Sono Murple may seem, compared to other conceptual albums, somewhat naive and perhaps even uninspired. However, this simplicity appears intentional, as the theme could easily adapt to a children's storybook. Although I don't consider the album substantial enough to recommend it to any progressive rock enthusiast, it certainly has a special charm. Within the context of Italian progressive rock, while not an absolute classic like the works of so many other contemporary bands, Io Sono Murple is a piece that holds its value.

NOTA: 7.5/10

Tracks Listing

1. Antartide / Metamorfosi / Pathos / Senza Un Perché / Nessuna Scelta / Murple Rock (17:37)
2. Preludio E Scherzo / Tra I Fili / Variazioni In 6/8 / Fratello / Un Mondo Così / Antarplastic (16:37)

Ouça, "Antartide / Metamorfosi / Patho"



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