Genesis - The Lamb Lies Down on Broadway (1974)

 

The Lamb Lies Down On Broadway é um dos álbuns conceituais mais importantes de todos os tempos, uma verdadeira obra-prima indispensável para qualquer apreciador deste tipo de trabalho. Este disco funciona em múltiplos níveis, revelando novos detalhes a cada audição. As letras são extremamente inteligentes e em nenhum outro álbum do Genesis elas desempenham um papel tão central e crucial. A banda havia lançado recentemente um álbum mais sombrio e imaginativo, seguido por um trabalho de sonoridade suave e amigável. Em contraste, The Lamb Lies Down On Broadway é agressivo, e de certa forma até kafkiano. Embora as músicas sejam, em geral, mais curtas, elas não perdem em complexidade.

O conceito do álbum é um dos tópicos mais discutidos pelos fãs da banda, que até hoje não chegaram a um consenso sobre seu desfecho. Grosso modo, a história gira em torno de um jovem porto-riquenho que se muda para os Estados Unidos e assume a identidade de Rael, se envolvendo com gangues e cometendo vários crimes até sofrer um acidente. A partir daí, Rael embarca em uma jornada no plano metafísico em busca de seu irmão John, que na verdade representa seu verdadeiro eu.

Sendo bastante rigoroso em minha avaliação, considero este álbum ligeiramente inferior aos dois discos anteriores da banda - o que não chega a ser capaz de lhe tirar uma nota 10 -, mas ainda assim, é uma obra essencial em qualquer discografia de rock progressivo clássico. Ele mantém a maior parte dos mesmos instrumentos e sons usados anteriormente, com temas ligeiramente alterados, embora algumas partes ainda retenham o estilo narrativo de fantasia e mitologia. Mesmo sem ter vivido a época de seu lançamento, portanto, não ter testemunhado a turnê correspondente, sempre gosto de expressar meu fascínio pelos shows associados a este álbum. Infelizmente, durante a Lamb Live de 1974-1975, houve poucas filmagens, devido a problemas técnicos que a banda enfrentava, como a sincronização de slides e equipamentos. Foi o show mais complexo que o Genesis havia feito até então.

Pelo que já pude ler e pesquisar sobre a história da banda e seus discos, todo o aspecto visual do show acrescentava um novo significado ao álbum. Talvez o fato de muitas pessoas, incluindo eu mesmo, não conseguirem captar plenamente as letras e a história geral do disco seja devido ao fato de terem apenas escutado ele. Relatos de quem assistiu as apresentações da banda afirmam que a história de Rael se torna muito mais clara após ver o show ao vivo. A perspectiva lírica que Gabriel adota no disco é profundamente existencial. Em entrevistas, Gabriel raramente revela muito sobre as letras, preferindo deixar a interpretação a cargo do ouvinte. A música e as letras de The Lamb Lies Down On Broadway têm um sabor "urbano" que confere à banda uma sonoridade parcialmente renovada.

Algumas faixas do álbum possuem seções individuais de teclado excepcionais, como "The Cage" e "Riding The Scree". Tony Banks sempre se destacou como solista nos sintetizadores e com o órgão em segundo plano. Seu uso do Mellotron em "Fly On A Windshield" é magnífico, criando paredes sonoras impressionantes. Em "Silent Sorrow In Empty Boats", ele consegue produzir um dos sons mais angelicais já feitos na história deste instrumento, que é essencial no rock progressivo.

Quanto a Steve Hackett, acredito que seus melhores solos de guitarra estão na segunda metade do álbum, embora essa seja a parte mais obscura do disco. Seus solos em faixas como "Anyway", "Here Comes The Supernatural Anaesthetist" e "The Lamia" são excelentes, embora possam passar despercebidos. O solo em "Hairless Heart" evoca a atmosfera encontrada em "Firth of Fifth". Já vi muitos comentários sobre a suposta pouca participação de Hackett no álbum, mas discordo completamente. Sua influência na música do disco é evidente, especialmente com os efeitos de sintetizador em sua guitarra que elevam o fundo de alguns versos.

Os trabalhos de bateria e as harmonias criadas por Phil Collins são os elementos mais complexos do disco. Phil adiciona novos sons especialmente para este álbum, e até reproduz um pouco de vibrafone como em "The Chamber Of 32 Doors". A quebra de bateria em "Riding The Scree" é simplesmente maravilhosa. Phil usa novos sons com uma natureza um pouco étnica - apesar das limitações na comparação -, lembrando o som de crânios de macacos, uma sonoridade que Peter Gabriel incorporou em seus primeiros discos solo. A cadência dinâmica da bateria no álbum desempenha um papel crucial. Outro elemento que distingue este álbum dos anteriores é o uso de tempos curtos em certas faixas. Embora o Genesis já tivesse usado timings estranhos em álbuns anteriores, eles apareciam apenas em momentos específicos das músicas. Aqui, temos músicas completas, como "Back in NYC", que está em 7/8 durante quase toda sua extensão, ou "Riding The Scree", que usa o sempre popular 9/8, o favorito da banda entre os tempos fora dos padrões.

Por último, mas não menos importante, Mike Rutherford e seu uso excessivo dos pedais Moog estão presentes em todo o álbum. Discreto como sempre, o baixista atua como uma cola que mantém todos os outros instrumentos unidos. Vale lembrar que sua participação sempre foi destacada por aqueles que assistiram aos shows da banda na época, onde Mike, por vezes, se mostrava explosivo no baixo e, em outros momentos, na guitarra de 12 cordas, qualidade que nenhum outro músico da era de ouro do progressivo dominava tão bem quanto ele.

The Lamb Lies Down On Broadway, apesar de idealizado por Peter Gabriel, jamais teria alcançado o resultado que teve sem a contribuição brilhante de seus companheiros de banda. Suas interpretações ganharam ainda mais brilho sobre a magnífica camada musical criada pelo grupo. Este álbum é obrigatório para os amantes do rock progressivo, embora não seja a melhor porta de entrada para quem está começando a explorar o gênero.

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The Lamb Lies Down on Broadway is one of the most important concept albums of all time, a true masterpiece that is indispensable for any fan of this type of work. This album functions on multiple levels, revealing new details with each listen. The lyrics are extremely intelligent, and in no other Genesis album do they play such a central and crucial role. The band had recently released a darker and more imaginative album, followed by one with a softer, more accessible sound. In contrast, The Lamb Lies Down on Broadway is aggressive, and in a way even Kafkaesque. While the songs are generally shorter, they don’t lose any of their complexity.

The album's concept is one of the most discussed topics among the band's fans, who, to this day, have not reached a consensus on its conclusion. Broadly speaking, the story revolves around a young Puerto Rican who moves to the United States and takes on the identity of Rael, getting involved with gangs and committing various crimes until he suffers an accident. From there, Rael embarks on a journey in the metaphysical plane in search of his brother John, who actually represents his true self.

Being quite rigorous in my assessment, I consider this album slightly inferior to the band’s previous two albums—which still doesn’t prevent it from receiving a perfect score—but it remains an essential work in any classic progressive rock discography. It retains most of the same instruments and sounds used previously, with slightly altered themes, although some parts still bear the narrative style of fantasy and mythology. Even though I wasn’t around during its release and didn’t witness the corresponding tour, I always like to express my fascination with the shows associated with this album. Unfortunately, during the Lamb Live tour of 1974-1975, there were few recordings due to technical problems the band faced, such as the synchronization of slides and equipment. It was the most complex show Genesis had done up to that point.

From what I’ve read and researched about the band's history and albums, the entire visual aspect of the show added new meaning to the album. Perhaps the reason many people, including myself, can’t fully grasp the lyrics and the overall story of the album is that they’ve only listened to it. Accounts from those who attended the band's performances claim that Rael's story becomes much clearer after seeing the show live. The lyrical perspective that Gabriel adopts in the album is deeply existential. In interviews, Gabriel rarely reveals much about the lyrics, preferring to leave the interpretation up to the listener. The music and lyrics of The Lamb Lies Down on Broadway have an "urban" flavor that gives the band a partially renewed sound.

Some tracks on the album feature exceptional individual keyboard sections, such as "The Cage" and "Riding The Scree". Tony Banks has always stood out as a soloist on synthesizers, with the organ in the background. His use of the Mellotron in "Fly On A Windshield" is magnificent, creating impressive soundscapes. In "Silent Sorrow In Empty Boats", he manages to produce one of the most angelic sounds ever made in the history of this instrument, which is essential in progressive rock.

As for Steve Hackett, I believe his best guitar solos are in the second half of the album, though this is the darkest part of the record. His solos in tracks like "Anyway", "Here Comes The Supernatural Anaesthetist", and "The Lamia" are excellent, though they may go unnoticed. The solo in "Hairless Heart" evokes the atmosphere found in "Firth of Fifth". I’ve seen many comments about Hackett's supposed lack of participation on the album, but I completely disagree. His influence on the music is evident, especially with the synthesizer effects on his guitar that elevate the background of some verses.

The drum work and harmonies created by Phil Collins are the most complex elements of the album. Phil adds new sounds especially for this album and even reproduces some vibraphone, as in "The Chamber Of 32 Doors". The drum break in "Riding The Scree" is simply wonderful. Phil uses new sounds with a somewhat ethnic nature—though limited by comparison—reminiscent of the sound of monkey skulls, a sound Peter Gabriel incorporated into his early solo albums. The dynamic cadence of the drums on the album plays a crucial role. Another element that distinguishes this album from previous ones is the use of shorter time signatures in certain tracks. Although Genesis had used odd timings in earlier albums, they appeared only in specific moments of the songs. Here, we have entire songs, such as "Back in NYC", which is in 7/8 for almost its entire duration, or "Riding The Scree", which uses the ever-popular 9/8, the band’s favorite among the unconventional time signatures.

Last but not least, Mike Rutherford’s extensive use of Moog pedals is present throughout the album. Discreet as always, the bassist acts as the glue that holds all the other instruments together. It’s worth noting that his contribution was always highlighted by those who attended the band’s shows at the time, where Mike sometimes exploded on the bass and, at other times, on the 12-string guitar, a skill that no other musician from the golden age of prog mastered as well as he did.

The Lamb Lies Down on Broadway, despite being conceived by Peter Gabriel, would never have achieved the result it did without the brilliant contributions of his bandmates. Their performances shone even brighter on top of the magnificent musical layer created by the group. This album is a must for progressive rock lovers, though it may not be the best entry point for those just beginning to explore the genre.

NOTA: 9.5/10

DISCO1:

1. The Lamb Lies Down on Broadway (4:50)
2. Fly on a Windshield (4:23)
3. Broadway Melody of 1974 (0:33)
4. Cuckoo Cocoon (2:11)
5. In the Cage (8:15)
6. The Grand Parade of Lifeless Packaging (2:45)
7. Back in N.Y.C. (5:42)
8. Hairless Heart (2:13)
9. Counting Out Time (3:42)
10. The Carpet Crawlers (5:15)
11. The Chamber of 32 Doors (5:40)

DISCO2:

1. Lillywhite Lilith (2:42)
2. The Waiting Room (5:24)
3. Anyway (3:07)
4. The Supernatural Anaesthetist (2:59)
5. The Lamia (6:57)
6. Silent Sorrow in Empty Boats (3:07)
7. The Colony of Slippermen (8:13) :
8. Ravine (2:04)
9. The Light Dies Down on Broadway (3:32)
10. Riding the Scree (3:57)
11. In the Rapids (2:26)
12. it (4:15)

Ouça, "In the Cage"