The Samurai Of Prog - On We Sail (2017)

 

Liderado pelo multi-instrumentista Marco Bernard, The Samurai of Prog é sem dúvida um dos projetos mais prolíficos da cena progressiva contemporânea. Com On We Sail, a banda entrega um conjunto belíssimo e equilibrado de sessenta e cinco minutos de rock progressivo sinfônico da mais alta qualidade. O álbum é um tributo à tradição do gênero, repleto de referências a gigantes como Kansas, Yes, Genesis, e Emerson, Lake & Palmer, mas também brilha por seus próprios méritos, com composições que exploram ritmos dinâmicos, surpresas harmônicas e uma riqueza de sons orquestrais.

A faixa-título, "On We Sail", abre o álbum com um sintetizador vintage que, aliado a elementos modernos do neo-progressivo, cria uma atmosfera ao mesmo tempo nostálgica e inovadora. A seção rítmica, composta por um baixo robusto e uma bateria precisa, estabelece uma base sólida que sustenta as camadas profundas de som que a banda desenvolve ao longo da faixa e do álbum como um todo. A entrada do violino adiciona uma textura melódica única, e os vocais, reminiscentes de Gentle Giant, estão sempre em perfeita harmonia com o pano de fundo instrumental. O solo de guitarra, embora breve, é introspectivo e serve como um ponto de reflexão dentro da composição. É uma introdução poderosa e sofisticada, que define o tom para o que está por vir.

"Elements of Life" começa de maneira delicada, com uma flauta isolada que evoca a sonoridade do Camel, mas com um toque que também remete ao Jethro Tull. A música logo se transforma em uma peça exuberante com influências de música clássica, culminando em um arranjo orquestral que é ao mesmo tempo grandioso e intimista. O baixo profundo e os instrumentais melódicos criam uma atmosfera envolvente, enquanto as letras refletem sobre os aspectos mais climáticos da experiência humana. É uma faixa que, ao mesmo tempo em que exibe uma forte estética clássica, nunca deixa de lado a energia e a vitalidade do rock progressivo.

"Theodora" é uma verdadeira joia para os fãs de Annie Haslam e do Renaissance. Michelle Young brilha nos vocais, trazendo uma interpretação sensual e emocional que é complementada por assinaturas de tempo complexas e progressões de acordes intrigantes. A troca de vocais entre feminino e masculino é um dos pontos altos da faixa, criando um diálogo que é ao mesmo tempo dramático e delicado. Os coros de apoio, profundamente sinfônicos, elevam a música a novos patamares, enquanto as pausas estratégicas entre as linhas vocais permitem que a música respire, dando ao ouvinte tempo para absorver cada nuance.

A instrumental "Ascension" destaca-se por sua orquestração atmosférica, iniciada pelos teclados e rapidamente seguida por uma linha de baixo sutil, mas brilhante. A progressão de acordes, com toques de funk/fusion, é enriquecida por uma flauta que acentua a melodia, enquanto a guitarra se insere em uma base instrumental mais profunda. A naturalidade com que a banda executa essa faixa é impressionante; há uma sensação de esforço mínimo, mas o resultado é extraordinário. O piano, presente em momentos-chave, introduz um elemento clássico que dá profundidade e sofisticação à música.

"Ghost Written" se inicia com uma linda passagem de guitarra, complementada pelo som sutil da flauta e dos vocais. A faixa oferece uma combinação perfeita de melodias edificantes e uma atmosfera celta, criada por camadas de violões, flautas e teclados. A seção rítmica é meticulosamente ancorada, permitindo que cada instrumento brilhe em seu próprio "lugar ao sol". As influências de Camel e Caravan são perceptíveis, mas a banda mantém uma identidade própria, criando uma canção sábia tanto liricamente quanto musicalmente.

"The Perfect Black" traz uma tonalidade mais sombria, com uma seção rítmica profunda e um órgão Hammond atmosférico que dão início à faixa. Embora seja instrumental, a música é capaz de evocar imagens épicas, como a de um capitão velejando em alto-mar ou cenas de grandes batalhas. A espinha dorsal da música é fortemente clássica, com o piano em momentos-chave soando como se Bach ou Mozart estivessem tocando rock progressivo. A influência latina na guitarra adiciona um toque exótico e inesperado, tornando essa uma das faixas mais ricas do álbum.

"Growing Up" é impossível de ouvir sem lembrar de Jethro Tull, especialmente nos primeiros segundos. A banda faz um trabalho excelente ao contar histórias através de letras e arranjos instrumentais, e aqui a flauta influenciada por Ian Anderson é o herói desconhecido. A bateria cria espaço para que a flauta e os instrumentos de cordas envolvam o ouvinte em vários níveis, resultando em uma canção divertida e envolvente. "Over Again" é uma belíssima peça de piano, claramente influenciada por gigantes da música clássica como Beethoven e Bach. Servindo como um momento de transição no álbum, essa faixa suave permite ao ouvinte “digerir” o que foi apresentado até agora, preparando-o para o grande final.

A última faixa, "Tigers", é uma obra-prima de rock progressivo tradicional. Começando com piano e violino, a música rapidamente ganha peso e profundidade, com teclados, flauta e vocais emotivos que conduzem a narrativa com grande convicção. O solo de guitarra é um dos momentos mais emocionantes do álbum, seguido por uma seção rítmica marcante e agradável que finaliza o disco de maneira soberba.

On We Sail é um exemplo perfeito de como The Samurai of Prog consegue criar espaço para que o ouvinte absorva e digira cada álbum de acordo com suas personalidades individuais. A banda prova que ainda há um grande mercado para o rock progressivo tradicional, onde nada é forçado e cada elemento é incorporado com inteligência, agradando tanto a nova geração quanto a velha guarda.

NOTA: 7.5

Tracks Listing:

1. On We Sail (6:21)
2. Elements of Life (7:54)
3. Theodora (5:55)
4. Ascension (5:19)
5. Ghost Written (9:40)
6. The Perfect Black (9:30)
7. Growing Up (5:42)
8. Over Again (4:06)
9. Tigers (10:34)

Ouça, "Theodora"


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