Anglagard – Hybris (1992)

Em 1992, o Dream Theater lançou Images and Words, um álbum que rapidamente se tornou um clássico do metal progressivo, recebendo elogios tanto da crítica quanto do público. No entanto, enquanto a banda conquistava novos fãs ao misturar o rock progressivo com o metal, uma parcela mais purista e nostálgica do gênero ainda clamava por algo que resgatasse a essência dos anos 70. Foi então que na Suécia surgiu o Änglagård, uma banda que, com seu álbum de estreia Hybris, trouxe exatamente o que esses fãs sentiam falta.

O nome da banda, que se traduz como "Jardim dos Anjos", não poderia ser mais apropriado. A sua música é quase celestial, uma ode ao som progressivo clássico, mas com uma originalidade que a diferencia das bandas de neo-prog da época. Apesar de terem surgido nos anos 90, os músicos optaram por utilizar apenas instrumentos que já estavam presentes no rock progressivo dos anos 70, o que contribui para a autenticidade de sua sonoridade.

Hybris é um álbum que encapsula tudo o que o rock progressivo representa. A influência de bandas como Yes, Genesis, King Crimson e até mesmo Focus, é inegável, mas eles vão além de ser uma mera cópia. Eles assumem essas influências e as transformam em algo novo, evitando os clichês do neo-prog - que eu particularmente também gosto - e criando uma obra que é, ao mesmo tempo, familiar e inovadora.

A faixa de abertura, "Jördrok", é um exemplo perfeito disso. Com pouco mais de onze minutos, a música começa com uma seção de piano incrivelmente bela, melancólica e obscura, evocando a frieza do inverno sueco. Logo, a faixa se transforma em uma explosão de sons reminiscentes do King Crimson, com flautas precisas e seções de Mellotrons. É uma abertura difícil de descrever em palavras, mas que define o tom para o restante do álbum.

"Vandringar I Vilsenhet" é outro épico, com quase doze minutos de duração. A faixa começa com uma flauta suave, seguida por um órgão sombrio que remete a Bach. As passagens mais enérgicas são suavizadas pela flauta doce, criando um contraste que enriquece a composição. Esta é a primeira música com letras em sueco, e embora o idioma possa ser incompreensível para muitos, a música fala por si só, com o vocal delicado e agudo de Tord Lindman adicionando uma camada extra de emoção à faixa.

"Ifrån Klarhet Till Klarhet" começa com um som de caixa de música circense, que logo dá lugar a mais uma explosão musical influenciada pelo King Crimson. A faixa é marcada por mudanças frequentes de andamento, em um estilo que lembra o Yes, com momentos mais calmos de guitarra acústica e teclados que remetem ao progressivo clássico.

O álbum fecha com "Kung Bore", uma faixa que começa com uma seção de guitarra acústica, seguida por teclados e toda a banda em uma performance que dificilmente pode ser atribuída a uma única influência. Há toques de King Crimson, Focus, Yes e Genesis, mas a música mantém uma identidade própria, sendo menos obscura e mais nostálgica que as peças anteriores. Os vocais são versáteis, o baixo é marcante, a guitarra e a bateria são enérgicas, e os teclados são extremamente criativos e técnicos. A música termina de forma pastoral, encerrando o álbum com um sentimento perfeito de conclusão.

Hybris é um álbum onde a música parece ter sido composta por membros do Yes e King Crimson, mas com uma complexidade e originalidade que o a torna única. É uma obra complexa, nítida e cheia de nuances obscuras, capaz de hipnotizar o ouvinte e transportá-lo para paisagens sonoras imaginativas. Se você aprecia o rock progressivo em sua forma mais pura, Hybris é um álbum que certamente irá satisfazer sua busca pelo que há de melhor no gênero.

NOTA: 10/10

Tracks Listing:

1. Jordrök (11:10)
2. Vandringar I Vilsenhet (11:53)
3. Ifrån Klarhet Till Klarhet (8:04)
4. Kung Bore (12:57)

Ouça, "Jordrök"