Yes - Tales From Topographic Oceans (1973)

Ambicioso? Pretensioso? Controverso? Esses são apenas alguns dos adjetivos frequentemente associados a Tales From Topographic Oceans. Aqueles que leram resenhas ou comentários sobre este disco provavelmente já se depararam com esses termos. E não é para menos: o álbum consegue dividir até mesmo os membros da própria banda, como foi o caso de Rick Wakeman, cuja saída do grupo após este trabalho foi motivada, em parte, pelas tendências musicais que a banda estava explorando. Imagine, então, o impacto entre os fãs.

Tales From Topographic Oceans é de fato um disco excessivo, exagerado e longo. No entanto, é impossível ignorar sua musicalidade, que, apesar de tudo, consegue ser cativante. Trata-se de uma obra conceitual que explora o autoconhecimento como um caminho para alcançar a plenitude espiritual. A ideia central surgiu de Jon Anderson, inspirado por uma longa nota de rodapé no livro Autobiografia de um Iogue, escrito pelo iogue e guru Paramahansa Yogananda em 1946. Essa nota diz:

"Pertencente aos shastras, literalmente, 'livros sagrados', compreendendo quatro classes de escrituras: shrútí, smáti, purâna e tântra. Estes tratados abrangem todos os aspectos da vida religiosa e social, os campos do direito, medicina, arquitetura, arte, etc. Os shrútis são os Vedas, escrituras 'diretamente ouvidas' ou 'reveladas'. Smátis, ou lendas 'rememoradas', vieram a ser escritas num passado remoto, sob a forma dos mais longos poemas épicos, o Mnhábhárata e o Ramayâna. Os dezoito Purânas são, ao pé da letra, 'alegorias antigas'; tântras literalmente significam 'ritos' ou 'rituais', e estes tratados transmitem verdades profundas sob o véu de um minucioso simbolismo."

A ideia de Anderson era que cada uma das quatro faixas do álbum representasse uma dessas escrituras. As letras são tão desafiadoras quanto a música, e o disco é um trabalho que exige mais tempo e paciência do ouvinte para ser completamente compreendido. Talvez seja por isso que muitos o abandonem prematuramente sem a devida imersão no estado de espírito necessário. É muita coisa para absorver em um só álbum? Sim, mas é assim que essa obra opera.


CD1:

Se há uma faixa que pode ser considerada mais acessível, seria a abertura, "The Revealing Science Of God". Interessante é a versão expandida e remasterizada do álbum que traz uma edição com dois minutos adicionais não presentes na versão original. Essa faixa é repleta de seções que alternam entre momentos suaves e agitados, com melodias belas e inesquecíveis. Jon Anderson explora conceitos líricos complexos, mas se você mantiver a mente aberta, poderá desenvolver seu próprio significado a partir de suas palavras. É uma letra vanguardista, capaz de capturar a imaginação do ouvinte. Steve Howe oferece um trabalho de guitarra magistral, enquanto Rick Wakeman cria uma atmosfera envolvente antes de surpreender com um de seus mais impressionantes solos de sintetizador. O resultado é uma música com um clímax extraordinário.

A segunda faixa, "The Remembering", na minha opinião é uma das composições mais complexas de todo o rock progressivo 70's. Sua estrutura é incrível, combinando tecnicidade com letras bem trabalhadas e que evocam imagens como as da capa do álbum. É curioso como mesmo declarando não gostar deste disco, algumas das melhores ideias de Wakeman estão aqui. A faixa começa de forma lenta, mas ganha impulso conforme avança. O Yes raramente empregou um som medieval em suas músicas como o Gentle Giant ou o Genesis, mas os sintetizadores de Wakeman e a guitarra de 12 cordas de Howe conseguem evocar essa sensação. Algumas progressões de acordes lembram um pouco "And You and I". No meio do épico, há um arranjo de guitarra acústica sublime, com Howe desempenhando um papel de suporte, mas ainda assim se destacando. Chris Squire entrega linhas de baixo magníficas, enquanto Alan White mantém a bateria precisa e vigorosa.


CD2:

"The Ancient" é a faixa mais vanguardista do álbum e da carreira do Yes. Começa de forma caótica, com uma percussão primitiva e um Mellotron que acrescenta muito à música. Por alguns momentos, parece que estamos ouvindo King Crimson em vez de Yes. Após essa "confusão" inicial, Anderson entra com os vocais e começa a narrar os diferentes nomes dados ao sol por civilizações antigas. A faixa começa a se assemelhar a uma sinfonia. Mais desafiadora que as demais, esta música apresenta ideias instrumentais ousadas e uma colagem de guitarra de vanguarda impressionante. Os teclados, baixo e bateria desempenham seus papéis dignamente, mas o verdadeiro destaque é a parte acústica que se inicia nos últimos seis minutos, acompanhada pelos vocais harmoniosos de Anderson e Squire.

"The Ritual" é a faixa que mais se aproxima do estilo clássico do Yes. A contribuição de Squire é especialmente forte aqui, mas toda a banda trabalha de maneira impecável, com cada instrumento executado à perfeição. Os primeiros dez minutos da faixa são obscuros, mas também bastante claros em sua execução. Embora eu geralmente não aprecie solos de bateria, Alan White executa-o aqui de maneira integrada à atmosfera orquestral, evitando o tédio e agregando ao conceito da música. "The Ritual" é uma faixa carregada de emoções, encerrando-se com mais um brilhante solo de Howe em uma instrumentação densa e pesada.

Costumo definir Tales From Topographic Oceans como uma obra-prima defeituosa. Afinal, se para ser considerado uma obra-prima, um álbum precisa ser perfeito, então este falha miseravelmente. Mas se a intenção da arte é ser ambiciosa a ponto de ultrapassar os limites naturais, então o resultado não poderia ser melhor. Não creio que uma obra desta magnitude mereça ser julgada de forma menos que excelente, apenas por ser um disco mais audacioso do que os demais.

NOTA: 8/10

Tracks Listing:

CD1:

1. The Revealing Science of God - Dance of the Dawn (20:27)
2. The Remembering - High the Memory (20:38)


CD2:

3. The Ancient - Giants Under the Sun (18:34)
4. Ritual - Nous sommes du Soleil (21:35)

Ouça, "The Remembering - High the Memory"




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