Biglietto per l'inferno - Biglietto Per L'Inferno (1974)

 

Biglietto Per L'Inferno, disco da banda de mesmo nomeé um verdadeiro clássico do rock progressivo italiano, uma obra que me intrigou por muito tempo antes que eu finalmente me dedicasse a ouvi-lo com a devida atenção. Eu só conhecia o álbum pela sua icônica capa e pelos inúmeros comentários que lia por aí. Quando finalmente sentei, coloquei meus fones e mergulhei nesse disco, a surpresa foi instantânea. A musicalidade obscura e carregada de dramaticidade era exatamente o que eu buscava naquele momento.

É comum ouvir comparações entre qualquer uso de flauta e o som do Jethro Tull, como se o instrumento fosse exclusivo da banda. No entanto, não vejo qualquer conexão entre o som do Biglietto Per L'Inferno e o dos ingleses ou com o prog folk em geral. A proposta lírica do disco, por sua vez, constrói uma obra conceitual com temas que giram em torno do suicídio, um tema pesado e profundo, refletido na densidade das músicas.

O disco inicia com "Ansia", uma faixa que transita entre momentos de hard rock e arpejos encantadores, criando uma estrutura extremamente bem elaborada e versátil. Mesmo quando os momentos mais melódicos evocam a sonoridade clássica do progressivo italiano, as explosões súbitas da música nos levam a um território mais pesado. Essa faixa já introduz o ouvinte a um reino estranho, sombrio e elusivo, que Claudio Canali, vocalista e flautista da banda, descreve com um toque de sarcasmo e amargura. "Confessione" é um verdadeiro manifesto do grupo, carregado de um sarcasmo evidente contra a autoridade religiosa. Após uma breve introdução a capella, a faixa ganha um ritmo frenético e vibrante, com uma presença massiva de guitarra distorcida e uma seção rítmica poderosa, interrompida apenas pelas partes vocais e uma impressionante pausa instrumental, onde a interação entre teclado, coros e piano é de tirar o fôlego. O final é igualmente impactante, com todos os instrumentos, especialmente a flauta, atacando os sentidos do ouvinte.

"Una Strana Regina" começa de forma mais melódica e suave em comparação às faixas anteriores, mas não perde sua força graças ao moog constante. Este é um daqueles momentos que poderiam ser comparados ao Jethro Tull, mas, sinceramente, não consigo identificar algo que justifique isso, nem mesmo na flauta, pois a considero uma performance bem distinta da de Ian Anderson. A música então evolui de uma melodia suave para uma linha mais pesada e constante, sendo outro excelente momento do disco. "Il Nevare" é uma faixa dramática, marcada por explosões súbitas que mostram o poder e a força da banda, mantendo sempre um clima claustrofóbico e doloroso. Quando uma banda consegue transmitir um forte sentimento ao ouvinte, ela cumpre muito bem sua missão, e é exatamente isso que Claudio Canali e seus gritos, que lembram David Byron, conseguem fazer. A guitarra pesada de Marco Mainetti e a dupla de Giuseppe (Banfi e Cossa) nos teclados também contribuem para manter o ambiente de terror na música.

O álbum culmina de forma apoteótica com "L'Amico Suicida", uma faixa extremamente dramática e com letras autobiográficas, inspiradas pelo suicídio de um colega de quarto de Canali durante o serviço militar. Os vocais são obscuros e carregados de emoção, e a música flui de maneira poderosa, melancólica e majestosa em sua tristeza ao longo de seus mais de treze minutos. O início comovente dá lugar a uma seção frenética e confusa, que é interrompida abruptamente quando a seção vocal é apoiada por acordes fúnebres de piano. Sem dúvida é uma música que transmite uma gama de emoções, como tristeza, raiva e frustração de forma poderosamente emocional. É facilmente, o melhor momento do álbum e um dos grandes feitos da escola italiana de rock progressivo, um épico absoluto.

Biglietto per l'infernouma é um coquetel incrível de energias musicais e poéticas compostas de maneira espontânea. Mesmo que se ouçam ecos de bandas como o já mencionado Jethro Tull, é inegável que o que prevalece aqui é o estilo próprio moldado pelos músicos, enquanto as letras oferecem reflexões amargas sobre a hipocrisia do mundo através de várias mudanças de humor.

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Biglietto Per L'Inferno, the album by the band of the same name, is a true classic of Italian progressive rock, a work that intrigued me for a long time before I finally dedicated myself to listening to it with the proper attention. I only knew the album by its iconic cover and the numerous comments I had read here and there. When I finally sat down, put on my headphones, and immersed myself in this album, the surprise was instantaneous. The dark and dramatic musicality was exactly what I was seeking at that moment.

It’s common to hear comparisons between any use of the flute and the sound of Jethro Tull, as if the instrument were exclusive to the band. However, I don’t see any connection between Biglietto Per L'Inferno’s sound and that of the English band or with prog folk in general. The album’s lyrical approach, on the other hand, constructs a conceptual work with themes revolving around suicide, a heavy and profound subject, reflected in the density of the music.

The album opens with "Ansia," a track that shifts between moments of hard rock and enchanting arpeggios, creating an extremely well-crafted and versatile structure. Even when the more melodic moments evoke the classic sound of Italian progressive rock, the sudden bursts of music take us to a heavier territory. This track already introduces the listener to a strange, dark, and elusive realm, which Claudio Canali, the band’s vocalist and flutist, describes with a touch of sarcasm and bitterness. "Confessione" is a true manifesto of the group, laden with evident sarcasm against religious authority. After a brief a cappella introduction, the track gains a frenetic and vibrant rhythm, with a massive presence of distorted guitar and a powerful rhythm section, interrupted only by the vocal parts and an impressive instrumental break, where the interaction between keyboard, choirs, and piano is breathtaking. The ending is equally impactful, with all the instruments, especially the flute, assaulting the listener’s senses.

"Una Strana Regina" begins in a more melodic and soft manner compared to the previous tracks, but it doesn’t lose its strength thanks to the constant moog. This is one of those moments that could be compared to Jethro Tull, but honestly, I can’t identify anything that justifies this, not even in the flute, as I consider it a performance quite distinct from Ian Anderson’s. The music then evolves from a soft melody to a heavier and more constant line, being another excellent moment on the album. "Il Nevare" is a dramatic track, marked by sudden outbursts that showcase the power and strength of the band, always maintaining a claustrophobic and painful atmosphere. When a band manages to convey a strong feeling to the listener, it fulfills its mission well, and that’s exactly what Claudio Canali and his screams, reminiscent of David Byron, manage to do. The heavy guitar of Marco Mainetti and the duo of Giuseppe (Banfi and Cossa) on keyboards also contribute to maintaining the atmosphere of terror in the music.

The album culminates in an apotheotic manner with "L'Amico Suicida," an extremely dramatic track with autobiographical lyrics, inspired by the suicide of a roommate of Canali during military service. The vocals are dark and filled with emotion, and the music flows powerfully, melancholically, and majestically in its sadness over its more than thirteen minutes. The moving beginning gives way to a frenetic and chaotic section, which is abruptly interrupted when the vocal section is supported by funereal piano chords. It’s undoubtedly a song that conveys a range of emotions, such as sadness, anger, and frustration in a powerfully emotional way. It’s easily the best moment on the album and one of the great achievements of the Italian progressive rock scene, an absolute epic.

Biglietto Per L'Inferno is an incredible cocktail of musical and poetic energies composed in a spontaneous manner. Even though you might hear echoes of bands like the aforementioned Jethro Tull, it’s undeniable that what prevails here is the unique style shaped by the musicians, while the lyrics offer bitter reflections on the hypocrisy of the world through various mood changes.

NOTA: 9.5/10

Tracks Listing

1. Ansia (4:16)
2. Confessione (6:32)
3. Una Strana Regina (6:12)
4. Il Nevare (4:37)
5. L'Amico Suicida (14:23)

Ouça, "L'Amico Suicida"



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