Dream Theater - Six Degrees Of Inner Turbulence (2001)

A primeira vez que tive contato com Six Degrees of Inner Turbulence, lembro que o ouvi sem dar muita atenção, quase como uma trilha sonora de fundo enquanto conversava com outras pessoas. Não estava sozinho, e a música simplesmente tocava sem que eu realmente mergulhasse no que ela tinha a oferecer. Foi só alguns dias depois que de fato me permiti conhecer a grandiosidade dessa obra e entender a magnitude do que estava em minhas mãos. Naquele ponto, a banda já havia lançado seis álbuns, mas eu estava explorando o quinto, pois ainda não havia me aventurado pelo primeiro registro. A expectativa era alta, afinal, mesmo com a única "bola fora" até então, Falling Into Infinity, eles conseguiram entregar momentos memoráveis.

Este é um daqueles álbuns duplos de estúdio que, felizmente, não tem espaço para fillers desnecessários. Cada faixa contribui para a experiência, tornando-o uma jornada intensa de pouco mais de 96 minutos, onde a música transita por uma variedade de estilos, como heavy metal, passagens acústicas, música pop, rock sinfônico, entre outros.


CD 1:

A abertura com "The Glass Prison" é imponente. O som de fundo no início remete ao final de Scenes from a Memory, e logo um sino toca, chamando cada instrumento para entrar em cena gradualmente, criando um crescendo que culmina em um som pesado e agressivo. Desde o início, fica claro que esta é uma faixa sólida e furiosa. Os vocais variam e se mostram extremamente competentes ao longo da música. A bateria é simplesmente espetacular, assim como a guitarra e o baixo. Embora o teclado de Jordan Rudess não seja o protagonista aqui, ele brilha em muitos outros momentos do álbum. "The Glass Prison" é uma faixa repleta de passagens marcantes e um peso inegável.

"Blind Faith" segue com uma pegada bem diferente, abordando o fanatismo religioso com um toque de crítica. A faixa começa suave, com uma maior presença do teclado em relação à guitarra, e essa suavidade vai crescendo até atingir um som mais pesado no primeiro refrão, mantendo essa intensidade ao longo da música. Aos cinco minutos, Labrie dá uma pausa nos vocais para abrir caminho para uma das passagens instrumentais mais brilhantes já compostas pela banda. Portnoy brilha na bateria, enquanto Myung completa a cozinha com maestria. A interação entre Petrucci e Rudess é simplesmente sagaz.

"Misunderstood" é uma pseudo-balada que começa de forma calma e melódica, mas constrói um coro que se une a uma sonoridade mais pesada, semelhante ao que acontece em "Blind Faith". É, sem dúvida, a faixa mais sombria do álbum, e o grande destaque está nos sintetizadores orquestrais de Jordan. Infelizmente, os dois minutos finais da música são prejudicados por um ruído desnecessário, que não acrescenta nada de positivo à faixa.

"The Great Debate" começa lentamente, mas não de maneira melosa como as duas anteriores. Em vez disso, inicia-se com um teclado estendido e alguns sons modernos sobre uma linha de baixo. Com bons fones de ouvido, percebe-se a qualidade dessa introdução, e conforme a faixa cresce, torna-se claro que se trata de uma grande canção. Embora não seja da mesma qualidade que as anteriores, é bem orquestrada, melódica e pesada. O trabalho de bateria de Portnoy é notável aqui. Apesar de suas qualidades, a faixa poderia ser mais impactante com menos alguns minutos, já que há passagens que diluem a intensidade de seus momentos brilhantes.

O primeiro CD fecha com "Disappear", uma canção que sempre me lembra "Misunderstood" por algumas sensações similares que ambas evocam. Não foi uma música que gostei logo de cara. Começa com efeitos de teclado de tom baixo astral, avançando para uma balada acústica. Diferente das faixas anteriores, "Disappear" mantém sua suavidade até o fim, sem se transformar em uma faixa pesada. É uma maneira linda de encerrar a primeira metade do álbum: suave, melódica e serena.

CD 2:

"Overture" é exatamente o que o nome sugere: uma abertura. Ao contrário de outras faixas introdutórias que simplesmente apresentam riffs semelhantes aos da obra como um todo, "Overture" adota uma abordagem orquestral e clássica, algo que a banda executa com maestria. O final  cria um clímax perfeito para que o álbum siga direto para "About to Crash". Esta é uma faixa que ouvi repetidamente por muito tempo. Rudess cria uma linha de piano harmoniosa que permeia toda a canção. A música começa otimista, mas gradualmente se torna mais sombria, refletindo bem o tema lírico sobre uma garota bipolar.

"War Inside My Head" aborda um homem marcado mentalmente pela guerra. A faixa já começa com uma atmosfera intimidadora, e Labrie canta versos curtos que são intercalados com o coro, dividido com Portnoy. Apesar de ter apenas cerca de dois minutos, é uma música cativante e perfeita para "bater cabeça", com uma guitarra impressionante e uma fluidez instrumental que funciona muito bem. "The Test That Stumped Them All" é frenética desde o início, rápida e pesada, embora os versos às vezes possam ser um pouco irritantes. A instrumentação é forte e bem encaixada, com todos os músicos trabalhando em conjunto de forma coesa.

"Goodnight Kiss" se arrasta um pouco em sua primeira metade, com uma introdução talvez longa demais. Porém, ao se acostumar, percebe-se que todo o sentimento ali imposto tem seu propósito, e o que inicialmente parecia maçante torna-se natural. O primeiro solo de guitarra é emotivo e sincero, e a música ganha uma tonalidade mais obscura e rápida na segunda metade, com mais um solo de guitarra bem encaixado. "Solitary Shell" inicia com uma guitarra acústica e uma linha de sintetizador. Tem uma melodia excelente tanto no refrão quanto em outras passagens, e a seção instrumental perto do final é maravilhosa, com uma guitarra influenciada por ritmos latinos e um belo solo de piano.

"About to Crash (reprise)" é o penúltimo capítulo do álbum. A introdução com guitarra soa muito bem, acompanhada por um glissando de piano que prepara o caminho para a bateria e o baixo. Ao contrário de "About to Crash", a música soa mais otimista como um todo e tem uma grande seção instrumental final, onde é possível ouvir até mesmo seções de "War Inside My Head"O álbum fecha com "Losing Time/Grand Finale", uma faixa suave, tocante e emocional. A instrumentação é majestosa e muito bem orquestrada, com melodias, arranjos e progressões de acordes maravilhosamente bem executados. É uma maneira extraordinária de encerrar um épico.

Não há como negar que Six Degrees of Inner Turbulence é uma das obras mais inspiradas e valiosas da banda. Um álbum que demonstra não apenas a habilidade técnica e a complexidade musical pela qual o Dream Theater é conhecido, mas também mergulha profundamente em temas emocionais e psicológicos, oferecendo uma experiência sonora rica e inesquecível.

========
========
========
========

The first time I listened to Six Degrees of Inner Turbulence, it was more of a background soundtrack while I was conversing with others. I wasn’t alone, and the music played without my full attention, not allowing me to truly dive into what it had to offer. It was only a few days later that I really allowed myself to explore the grandeur of this work and grasp the magnitude of what I had in my hands. By then, the band had already released six albums, but I was still exploring their fifth, as I had not yet ventured into their debut record. The expectations were high; after all, even with their one misstep, Falling Into Infinity, they had managed to deliver memorable moments.

This is one of those double studio albums that, fortunately, has no room for unnecessary fillers. Each track contributes to the overall experience, making it an intense journey of just over 96 minutes, where the music traverses a variety of styles, including heavy metal, acoustic passages, pop music, symphonic rock, and more.

CD 1:


The album opens with "The Glass Prison", an imposing track. The background sound at the beginning hints at the end of Scenes from a Memory, and soon a bell rings, summoning each instrument to gradually join in, creating a crescendo that culminates in a heavy and aggressive sound. From the outset, it’s clear that this is a solid and furious track. The vocals vary and are extremely competent throughout the song. The drumming is simply spectacular, as are the guitar and bass. Although Jordan Rudess' keyboard isn’t the protagonist here, it shines in many other moments on the album. "The Glass Prison" is a track full of memorable passages and undeniable weight.

"Blind Faith" follows with a very different vibe, addressing religious fanaticism with a touch of critique. The track starts softly, with the keyboard taking a more prominent role compared to the guitar, and this softness builds until it reaches a heavier sound in the first chorus, maintaining that intensity throughout the song. Around five minutes in, Labrie pauses the vocals, paving the way for one of the most brilliant instrumental passages the band has ever composed. Portnoy excels on the drums, while Myung masterfully completes the rhythm section. The interaction between Petrucci and Rudess is simply astute.

"Misunderstood" is a pseudo-ballad that begins calmly and melodically, but builds into a chorus that joins a heavier sound, similar to what happens in "Blind Faith". It’s undoubtedly the darkest track on the album, with the orchestral synthesizers from Jordan being the standout element. Unfortunately, the last two minutes of the song are marred by unnecessary noise that adds nothing positive to the track.

"The Great Debate" starts off slowly, but not in a mellow way like the previous two tracks. Instead, it begins with an extended keyboard and some modern sounds over a bass line. With good headphones, you can appreciate the quality of this introduction, and as the track grows, it becomes clear that this is a great song. Although it may not reach the same level as the previous tracks, it is well-orchestrated, melodic, and heavy. Portnoy's drumming is particularly noteworthy here. Despite its qualities, the track could be more impactful if it were a few minutes shorter, as there are passages that dilute the intensity of its brilliant moments.

The first CD closes with "Disappear", a song that always reminds me of "Misunderstood" due to some similar emotions both evoke. It wasn’t a track I liked right away. It begins with low-spirited keyboard effects, progressing into an acoustic ballad. Unlike the previous tracks, "Disappear" maintains its softness until the end, without transforming into a heavy track. It’s a beautiful way to close the first half of the album: soft, melodic, and serene.

CD 2:


"Overture" is exactly what its name suggests: an overture. Unlike other introductory tracks that simply present riffs similar to those throughout the album, "Overture" takes an orchestral and classical approach, something the band executes masterfully. The end of creates a perfect climax for the album to transition straight into "About to Crash". This is a track I listened to repeatedly for a long time. Rudess creates a harmonious piano line that permeates the entire song. The music starts off optimistic but gradually becomes darker, reflecting well the lyrical theme about a bipolar girl.

"War Inside My Head" deals with a man mentally scarred by war. The track begins with an intimidating atmosphere, and Labrie sings short verses interspersed with the chorus, shared with Portnoy. Despite being only about two minutes long, it’s a captivating song, perfect for headbanging, with impressive guitar work and instrumental fluidity that works very well. "The Test That Stumped Them All" is frenetic from the start, fast and heavy, though the verses can sometimes be a bit irritating. The instrumentation is strong and well-fitted, with all the musicians working together cohesively.

"Goodnight Kiss" drags a bit in its first half, with perhaps too long of an introduction. However, once you get accustomed to it, you realize that all the emotion imposed here has its purpose, and what initially seemed tedious becomes natural. The first guitar solo is emotional and sincere, and the music takes on a darker and faster tone in the second half, with another well-placed guitar solo. "Solitary Shell" begins with an acoustic guitar and a synthesizer line. It has an excellent melody both in the chorus and other passages, and the instrumental section near the end is wonderful, with a guitar influenced by Latin rhythms and a beautiful piano solo.

"About to Crash (Reprise)" is the penultimate chapter of the album. The guitar introduction sounds very good, accompanied by a piano glissando that paves the way for the drums and bass. Unlike "About to Crash", the music as a whole sounds more optimistic and has a great final instrumental section, where you can even hear sections of "War Inside My Head" The album closes with "Losing Time/Grand Finale", a soft, touching, and emotional track. The instrumentation is majestic and very well-orchestrated, with melodies, arrangements, and chord progressions wonderfully executed. It’s an extraordinary way to end an epic.

There’s no denying that Six Degrees of Inner Turbulence is one of the band's most inspired and valuable works. An album that not only demonstrates the technical skill and musical complexity for which Dream Theater is known but also delves deeply into emotional and psychological themes, offering a rich and unforgettable listening experience.

NOTA: 9.5/10

CD1:


1. The Glass Prison (13:52) :
2. Blind Faith (10:21)
3. Misunderstood (9:34)
4. The Great Debate (13:43)
5. Disappear (6:46)

CD2: 


6. Six Degrees of Inner Turbulence (42:04) :
- i. Overture (6:49)
- ii. About to Crash (5:51)
- iii. War Inside My Head (2:08)
- iv. The Test That Stumped Them All (5:03)
- v. Goodnight Kiss (6:17)
- vi. Solitary Shell (5:47)
- vii. About to Crash (reprise) (4:04)
- viii. Losing Time / Grand Finale (6:01)

Ouça, "Blind Faith"



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Solaris - Marsbéli Krónikák (The Martian Chronicles) (1984)

  Marsbéli Krónikák  é um álbum que merece atenção especial dentro do rock progressivo dos anos 80. Apesar da década ser frequentemente vist...

Postagens mais visitadas na última semana