Dream Theater - Awake (1994)


Awake
marca uma transição notável na discografia do Dream Theater, trazendo uma sonoridade mais sombria e complexa em comparação ao seu antecessor, Images and Words. Enquanto o álbum anterior flertava com influências de glam metal e possuía uma produção mais polida, Awake se destaca por sua abordagem jazzística e por vezes neoclássica, incorporando um som mais sujo e visceral. Os riffs de guitarra são mais pesados, os vocais de James LaBrie mais ásperos e a produção elimina qualquer vestígio do brilho glam que, na minha opinião, foi o único ponto fraco em Images and Words. As composições aqui são intrincadas e executadas com uma precisão que dá ao álbum uma boa tenacidade e dinamismo únicos.

Uma das características que mais me fascina em Awake é a sensação de estar imerso em uma metrópole vibrante e caótica. A guitarra de John Petrucci evoca o som dos carros que aceleram pelas ruas, enquanto a bateria de Mike Portnoy captura o constante bater de portas e o movimento incessante de milhares de pés. O baixo de John Myung, por sua vez, representa as vozes que se entrelaçam em conversas, e os teclados de Kevin Moore ecoam as sirenes, buzinas e outros sons urbanos típicos. Essa "atitude urbana" permeia o álbum, dando-lhe uma textura sonora que é tanto industrial quanto orgânica.

O disco começa com "6:00", uma faixa que abre com um mini solo de bateria, oferecendo um contraponto perfeito ao teclado frenético de Kevin Moore. A música é uma verdadeira demonstração do virtuosismo da banda, com uma estrutura complexa e um senso de diversão que contrasta com o tom sombrio que domina o álbum. "Caught in a Web" segue com uma abordagem mais pesada, e, embora a entrega vocal possa soar peculiar à primeira audição, a faixa cresce em você com o tempo. Hoje, vejo-a como uma peça com versos cativantes, um refrão marcante e uma musicalidade que se destaca pela sinergia entre guitarra e teclado, criando uma sonoridade encorpada e cheia de vitalidade.

"Innocence Faded" oferece um contraste interessante com sua leveza e melodia acessível. Apesar de alguns momentos vocais estranhos, que podem levar a uma "má interpretação" da letra, a faixa não compromete o disco. Pelo contrário, seu final enérgico, com um solo de guitarra impressionante, eleva a canção e a coloca como um ponto positivo no álbum.

A seguir, temos o épico "A Mind Beside Itself", composto por três partes distintas. Embora este épico não rivalize com outros grandes épicos progressivos, cada parte tem seu próprio mérito. "Erotomania" é uma instrumental brilhante, repleta de passagens complexas e mudanças de tempo intrigantes. "Voices" é um lamento poético de John Petrucci, abordando a luta com a fé de uma maneira profunda e emocional. A atmosfera gótica criada por Kevin Moore é complementada por um solo de guitarra arrepiante, enquanto James LaBrie brilha com uma performance vocal rica em nuances. O épico se encerra com "The Silent Man", uma peça acústica emocionalmente carregada, com um solo de violão que adiciona uma camada extra de beleza à faixa.

"The Mirror" mergulha novamente em um som pesado e sombrio, com letras que refletem a batalha pessoal de Mike Portnoy contra o alcoolismo. Esta faixa é uma das mais impactantes do álbum, com sua atmosfera densa e referências à, "Space Dye Vest", que se entrelaçam de maneira brilhante. "Lie" continua a narrativa com uma abordagem mais direta, menos progressiva, mas igualmente potente, funcionando quase como uma extensão natural de "The Mirror".

"Lifting Shadows Off a Dream" desacelera o ritmo, oferecendo uma experiência auditiva mais suave e introspectiva. A introdução harmônica do baixo de John Myung, combinada com os teclados etéreos e a guitarra espacial de Petrucci, cria uma faixa rica em variações de estilo e intensidade. "Scarred", a faixa mais longa do álbum, é um tour de force de coesão musical. Com suas frequentes mudanças de estilo, a música desafia o ouvinte a acompanhar sua complexa narrativa sonora, sendo, sem dúvida, uma das peças mais subestimadas do repertório do Dream Theater.

O álbum se encerra de forma sublime com "Space Dye Vest", uma composição inteiramente de Kevin Moore. Esta faixa é uma obra-prima introspectiva, centrada quase exclusivamente no piano e nos vocais suaves de LaBrie. A melodia é ao mesmo tempo hipnótica e trágica, capturando a alienação e obsessão que Moore queria transmitir. A entrada gradual dos outros instrumentos na parte final da música adiciona uma grandiosidade que encerra Awake com chave de ouro.

Awake é, sem dúvida, um marco na história do metal progressivo. Com uma performance técnica impecável e um conjunto de faixas que exploram uma ampla gama de emoções e estilos, o álbum permanece uma obra-prima indiscutível. Mesmo após décadas, sua relevância e impacto continuam a ressoar, solidificando seu lugar entre os grandes lançamentos do gênero. Para qualquer fã de metal progressivo, Awake é um disco que não deve ser apenas ouvido, mas também estudado e apreciado em toda a sua complexidade.

========
========
========
========

Awake marks a significant transition in Dream Theater’s discography, introducing a darker and more complex sound compared to its predecessor, Images and Words. While the previous album flirted with glam metal influences and featured a more polished production, Awake stands out for its jazz-inflected and sometimes neoclassical approach, embracing a grittier, more visceral sound. The guitar riffs are heavier, James LaBrie’s vocals are rougher, and the production strips away any remnants of the glam sheen that, in my opinion, was the only weakness in Images and Words. The compositions here are intricate and executed with a precision that gives the album a unique sense of grit and dynamism.

One of the most fascinating aspects of Awake is the feeling of being immersed in a vibrant and chaotic metropolis. John Petrucci’s guitar evokes the sound of cars speeding through the streets, while Mike Portnoy’s drumming captures the constant rhythm of doors slamming and the relentless movement of thousands of feet. John Myung’s bass represents the voices interwoven in conversations, and Kevin Moore’s keyboards echo the sirens, horns, and other typical urban sounds. This "urban attitude" permeates the album, giving it a sound texture that is both industrial and organic.

The album kicks off with “6:00”, a track that opens with a brief drum solo, providing the perfect counterpoint to Kevin Moore’s frenetic keyboard work. The song is a true showcase of the band’s virtuosity, featuring a complex structure and a sense of playfulness that contrasts with the darker tone that dominates the album. “Caught in a Web” follows with a heavier approach, and while the vocal delivery might sound peculiar at first listen, the track grows on you over time. Today, I see it as a piece with catchy verses, a memorable chorus, and musicianship that stands out for the synergy between guitar and keyboard, creating a robust and vibrant sound.

“Innocence Faded” offers an interesting contrast with its lightness and accessible melody. Despite some odd vocal moments that might lead to a “misinterpretation” of the lyrics, the track doesn’t detract from the album. On the contrary, its energetic ending, featuring an impressive guitar solo, elevates the song and makes it a positive highlight.

Next, we have the epic “A Mind Beside Itself", composed of three distinct parts. While this epic may not rival other great progressive epics, each part has its own merit. “Erotomania” is a brilliant instrumental, filled with complex passages and intriguing tempo changes. “Voices” is a poetic lament by John Petrucci, addressing the struggle with faith in a deep and emotional way. The gothic atmosphere created by Kevin Moore is complemented by a chilling guitar solo, while James LaBrie shines with a vocal performance rich in nuance. The epic concludes with “The Silent Man,” an emotionally charged acoustic piece, with a guitar solo that adds an extra layer of beauty to the track.

“The Mirror” dives back into a heavy and dark sound, with lyrics reflecting Mike Portnoy’s personal battle with alcoholism. This track is one of the most impactful on the album, with its dense atmosphere and brilliant references to “Space Dye Vest". “Lie” continues the narrative with a more straightforward, less progressive approach, but is equally potent, serving almost as a natural extension of “The Mirror.”

“Lifting Shadows Off a Dream” slows the pace, offering a smoother, more introspective listening experience. John Myung’s harmonic bass introduction, combined with ethereal keyboards and Petrucci’s atmospheric guitar, creates a track rich in style and intensity variations. “Scarred", the longest track on the album, is a tour de force of musical cohesion. With its frequent stylistic changes, the song challenges the listener to follow its complex sonic narrative, making it one of the most underrated pieces in Dream Theater’s repertoire.

The album concludes sublimely with “Space Dye Vest", a composition entirely by Kevin Moore. This track is an introspective masterpiece, centered almost exclusively around the piano and LaBrie’s soft vocals. The melody is both hypnotic and tragic, capturing the alienation and obsession Moore sought to convey. The gradual entrance of other instruments in the final part of the song adds a grandeur that ends Awake on a high note.

Awake is undoubtedly a milestone in progressive metal history. With its impeccable technical performance and a collection of tracks that explore a wide range of emotions and styles, the album remains an indisputable masterpiece. Even after decades, its relevance and impact continue to resonate, solidifying its place among the great releases of the genre. For any progressive metal fan, Awake is an album that must not only be heard but studied and appreciated in all its complexity.

NOTA: 9.5/10

1. 6:00 (5:31)
2. Caught in a Web (5:28)
3. Innocence Faded (5:43)
4. A Mind Beside Itself: i. Erotomania (6:45)
5. A Mind Beside Itself: ii. Voices (9:53)
6. A Mind Beside Itself: iii. The Silent Man (3:48)
7. The Mirror (6:45)
8. Lie (6:34)
9. Lifting Shadows Off a Dream (6:05)
10. Scarred (11:00)
11. Space-Dye Vest (7:29)

Ouça, "Erotomania"



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Solaris - Marsbéli Krónikák (The Martian Chronicles) (1984)

  Marsbéli Krónikák  é um álbum que merece atenção especial dentro do rock progressivo dos anos 80. Apesar da década ser frequentemente vist...

Postagens mais visitadas na última semana