Il Balletto di Bronzo - Ys (1972)

 

Excelente, mas nada fácil – essa talvez seja a melhor forma de descrever a música encontrada em YS, o segundo álbum dos italianos da Il Balletto Di Bronzo. Esse disco conceitual é baseado na lenda medieval da ilha de Ys, uma cidade lendária que foi submersa pelas águas do oceano e perdida para sempre. A trama narra a jornada do último homem na Terra, que tem a missão de encontrar outros sobreviventes. No entanto, após enfrentar inúmeros desafios, ele é consumido pelo cansaço e, tragicamente, desaparece na escuridão. O álbum desenvolve essa narrativa com uma atmosfera sombria e uma variação de humores sonoros que vão do jazz-rock ao avant-garde, passando pelo sinfônico e clássico, tudo sempre de maneira fluida e coesa.

Quando alguém nos pede para imaginar o som característico do rock progressivo italiano dos anos 70, a imagem que surge geralmente envolve música sinfônica e melódica, com influências de bandas como Genesis e Emerson, Lake & Palmer, atmosferas pastorais, e vocais emocionais e tradicionais. Essas características descrevem muitas bandas da época, mas Il Balletto Di Bronzo não se encaixa nesse estereótipo. Em YS, a banda adota uma abordagem muito mais agressiva e dissonante, com poucas reminiscências do sinfonismo das bandas mencionadas. Il Balletto Di Bronzo soa quase que exclusivamente como eles mesmos, com uma fusão psicodélica ao estilo Jimi Hendrix, elementos de hard rock, jazz, e uma originalidade que desafia categorizações.

O álbum começa com a épica "Introduzione", que se abre com vozes femininas suaves seguidas por acordes longos de órgão, até que Gianni Leone inicia a narrativa de forma lenta. A música logo acelera, intensificando-se em ritmo e agressividade. A faixa é cheia de tensão e se torna mais intensa à medida que progride, com uma guitarra explosiva e uma melodia que evolui de forma avassaladora. "Primo Incontro" dá continuidade à última seção de "Introduzione". Com uma linha barroca e uma guitarra poderosa, a faixa avança com vocais sólidos e consistentes. A execução é digna de grandes virtuoses, mantendo, ao mesmo tempo, uma aura emocional que a torna condizente com o momento da história.

"Secondo Incontro" começa com gritos a capela, seguidos por um ataque instrumental que é suavizado por vocais sobre acordes de teclado. A música alterna entre passagens calmas e tempestades sonoras, com mudanças rítmicas que incorporam elementos de jazz. A fluidez dessa faixa é sensacional. Sem pausa para respirar, "Terzo Incontro" entra imediatamente com uma linha de baixo introdutória. A guitarra elétrica assume um solo contínuo, enquanto baixo, bateria, piano, órgãos e vocais se unem para criar uma melodia intensa. As baterias jazzísticas, interjeições vocais e um som que lembra Emerson, Lake & Palmer criam uma experiência auditiva alucinante.

O álbum se encerra com "Epilogo", que começa em um ritmo vertiginoso, com destaque para o baixo e a bateria. Sons elétricos de guitarra, teclado e órgão são introduzidos em um ritmo que lembra uma marcha militar. O vocalista parece atuar sob estresse, e quando finalmente canta, soa cansado, talvez derrotado, enquanto a melodia desenha uma paisagem triste. Nos minutos finais, piano e bateria duelam freneticamente, enquanto vozes angelicais cantam em uníssono, como se encorajassem alguém a continuar vivendo. O disco termina com vozes flutuantes, encerrando de forma arrepiante.

Confesso que nunca compreendi bem esse final. Nosso personagem teria entrado no Purgatório? Seria uma metáfora para a vida após a morte? Gianni Leone provavelmente teria as respostas, mas talvez ele prefira, como eu, que alguns discos conceituais permaneçam abertos a interpretações, permitindo que cada ouvinte crie sua própria viagem através da música.

NOTA: 9.5/10

Tracks Listing:

1. Introduzione (15:11)
2. Primo Incontro (3:27)
3. Secondo Incontro (3:06)
4. Terzo Incontro (4:33)
5. Epilogo (11:30)

Ouça, " Secondo Incontro"




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