Marillion - Misplaced Childhood (1985)


Misplaced Childhood é para muitos o ponto alto não só da era Fish, mas de toda a discografia do Marillion. Este álbum é um exemplo claro de como a música progressiva pode fluir de forma coesa, com linhas melódicas excepcionais, musicalidade refinada e uma narrativa poderosa e acessível a qualquer público. No universo do neo-progressivo, é uma verdadeira obra-prima. Cada faixa se entrelaça em uma jornada que revela a alma e as experiências de Fish, capturando a essência do subgênero com perfeição.

O disco começa com "Pseudo Silk Kimono", uma faixa que estabelece o tom sinfônico e introspectivo do álbum. O teclado melódico acompanhado de uma guitarra sutil e uma linha de baixo profunda cria uma atmosfera suave que é apenas o prelúdio de um disco sensacional. A transição para "Kayleigh" é natural. A música se tornou o maior single da banda, atingindo o segundo lugar nas paradas do Reino Unido, é uma canção direta e sincera sobre a perda de um amor. Inspirada por uma ex-namorada de Fish, a canção é marcada por um groove envolvente, uma combinação perfeita entre bateria e baixo, além de um solo de guitarra memorável que intensifica a emotividade da letra.

"Lavender" segue como uma bela balada, onde Fish reflete sobre o amor através da lente da inocência infantil. A faixa é adornada por melodias edificantes de piano, culminando em um solo de guitarra que amplifica a delicadeza da canção. Em "Bitter Suite", a banda explora o lado sombrio do amor, com Fish recitando um poema sobre uma base musical atmosférica e crescente. A música evolui em uma experiência sombria e introspectiva, com passagens que remetem à sonoridade de "Lavender", destacando a coesão do álbum como um todo. "Heart Of Lothian" é uma ode ao orgulho escocês e à juventude de Fish, sendo uma faixa que brilha como uma das mais emocionantes da banda. Com uma seção rítmica impecável, um solo de guitarra belíssimo e Fish em sua melhor forma vocal, a canção evoca a influência do Genesis em sua atmosfera rica e emotiva.

"Waterhole (Expresso Bongo)" oferece uma pausa mais curta e intensa, com guitarras estridentes e um riff de sintetizador que energiza a faixa, enquanto "Lords Of The Backstage" mantém o ritmo com uma sincronia impecável entre guitarra e sintetizadores, preparando o terreno para o épico "Blind Curve""Blind Curve" é o ápice progressivo do álbum e uma das faixas mais icônicas da banda. A canção começa de maneira direta, com uma linha de guitarra que se funde perfeitamente com os vocais poéticos. Aqui, a banda se mostra em seu auge, com uma interação coesa e um equilíbrio perfeito entre todos os instrumentos, resultando em uma obra etérea e profundamente tocante.

"Childhoods End?" traz um sopro de esperança, oferecendo uma luz no fim do túnel para o personagem central da narrativa. A faixa é forte e emocional, com uma estrutura dramática que eleva ainda mais o álbum. "White Feather" fecha o disco com uma melodia simples e animada, embora não tão impactante quanto as faixas anteriores.

Misplaced Childhood não só deu origem ao neo-progressivo, mas também definiu o subgênero de forma definitiva, elevando o padrão de qualidade a alturas raramente alcançadas. Se este disco não for considerado essencial no contexto do neo-progressivo, é difícil imaginar o que mais poderia ser.

NOTA: 10/10

Tracks Listing:

1. Pseudo Silk Kimono (2:13)
2. Kayleigh (4:03)
3. Lavender (2:27)
4. Bitter Suite (5:53)
5. Heart of Lothian (6:02)
6. Waterhole (Expresso Bongo) (2:12)
7. Lords of the Backstage (1:52)
8. Blind Curve (9:29)
9. Childhoods End? (4:32)
10. White Feather (2:23)

Ouça, "Blind Curve"


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