Rick Wakeman - Journey To The Centre Of The Earth (1974)

 

Pretensioso, egomaníaco, excessivamente pomposo, superestimado e altissonante são apenas alguns dos adjetivos que ouvi ao longo dos anos sobre o clássico Journey To The Centre Of The Earth de Rick Wakeman. De certo modo, consigo entender de onde vêm essas críticas, mas, sinceramente, não me importo com elas. O que sei é que este álbum nos proporciona a oportunidade de ouvir o melhor tecladista da história do rock progressivo, acompanhado por uma banda de músicos altamente competentes e pela Orquestra Sinfônica de Londres.

É inegável que Rick Wakeman possui um ego superlativo, mas em termos profissionais, ele é impecável e um verdadeiro gênio. Ninguém maneja uma vasta gama de teclados com a mesma habilidade que Wakeman, ao mesmo tempo em que atua como um líder carismático. Ele é uma figura polarizadora, amada por muitos e desprezada por outros, mas o consenso é claro: trata-se de um dos mais influentes tecladistas e pianistas que o século XX produziu.

Imaginem um jovem de apenas 24 anos, vestindo uma capa brilhante, cercado por quase 300 músicos, muitos deles com o dobro de sua idade, em um Royal Albert Hall lotado. Mesmo assim, Wakeman se mantém firmemente como o centro deste pequeno universo. Ele pode não ser a pessoa mais fácil de lidar, mas seus feitos não caíram do céu. Tudo o que conquistou foi fruto de mérito, dedicação e uma paixão avassaladora pela música.

A primeira faixa, “The Journey/Recollection”, inicia-se de maneira explosiva, com uma introdução orquestral grandiosa. Durante mais de vinte minutos, este épico é dinâmico e multifacetado, com inúmeras mudanças de ritmo, passagens vocais suaves, cantadas pelas vozes habitualmente criticadas de Gary Pickford e principalmente, de Ashley Holt, que aqui se encaixam perfeitamente. Há também seções frenéticas em que os solos de Wakeman são virtuosísticos, mostrando sua habilidade técnica e sua capacidade de criar excelentes melodias, cordas agressivas e uma narração precisa de David Hennings, cujo inglês refinado assume a responsabilidade de carregar todo o peso da história. É uma peça impressionante em todos os sentidos. Como já era de se esperar, no geral é uma uma música ambiciosa e que exemplifica o rock progressivo em sua forma bastante expansiva, combinando a grandiosidade da música orquestral com a inovação do rock para criar uma narrativa sonora rica e envolvente.

“A Battle/The Forest” é uma faixa ainda mais complexa, que começa com uma narração descrevendo a batalha entre dois monstros marinhos: um com cabeça de lagarto e dentes de crocodilo (ictiossauro) e outro, uma serpente com cabeça de tartaruga (plesiossauro). Minha descrição detalhada é pálida em comparação à música magnífica e às vozes bem encaixadas. Os teclados de Rick e a guitarra de Mike Egan criam uma mistura perfeita de rock barroco clássico e pesado, colocando o ouvinte diretamente na arena, não apenas para assistir à grande batalha, mas também para sentir a tempestade avassaladora, com Wakeman brilhando em seu minimoog. A segunda parte, “The Forest”, nos situa no momento em que a expedição alcança o centro da Terra, uma vasta planície seguida por uma floresta. A música é belíssima, e as vozes estranhas de Pickford e Holt novamente se mostram perfeitas para a ocasião. A partir deste ponto, somos levados ao final da jornada, com a ascensão das profundezas até o topo do Monte Etna, retratada de forma magnífica com um fragmento de “In the Hall of the Mountain King” de Edvard Grieg, parte da peça Peer Gynt.

Journey to the Centre of the Earth não é um álbum que eu recomendaria a qualquer um, pois nem sempre é fácil se envolver com sua música. No entanto, considero-o um dos maiores álbuns ao vivo da história do rock progressivo, uma peça fundamental na minha formação musical. Ao contrário do que às vezes ocorre com outros discos, neste caso, a classificação como um excelente registro não está ligada ao fator nostálgico. Journey to the Centre of the Earth possui mérito musical genuíno e merece todos os elogios que recebe. É uma demonstração de talento individual, coragem e arranjos sólidos em uma peça musical absolutamente essencial.

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Pretentious, egomaniacal, overly pompous, overrated, and bombastic are just some of the adjectives I've heard over the years about Rick Wakeman's classic Journey to the Centre of the Earth. In a way, I can understand where these criticisms come from, but honestly, I don't care about them. What I know is that this album gives us the opportunity to hear the best keyboardist in the history of progressive rock, accompanied by a band of highly competent musicians and the London Symphony Orchestra.

It's undeniable that Rick Wakeman has a superlative ego, but professionally speaking, he is impeccable and a true genius. No one handles a vast array of keyboards with the same skill as Wakeman, while also serving as a charismatic leader. He is a polarizing figure, loved by many and disliked by others, but the consensus is clear: he is one of the most influential keyboardists and pianists the 20th century has produced.

Imagine a young man of just 24 years, wearing a shimmering cape, surrounded by nearly 300 musicians, many of them twice his age, in a packed Royal Albert Hall. Even so, Wakeman firmly holds the center of this small universe. He may not be the easiest person to deal with, but his achievements didn't come from nowhere. Everything he accomplished was the result of merit, dedication, and an overwhelming passion for music.

The first track, "The Journey/Recollection," begins explosively, with a grand orchestral introduction. For over twenty minutes, this epic is dynamic and multifaceted, with numerous rhythm changes, smooth vocal passages sung by the often criticized voices of Gary Pickford and especially Ashley Holt, who fit perfectly here. There are also frenetic sections where Wakeman's solos are virtuosic, showcasing his technical ability and his capacity to create excellent melodies, aggressive strings, and precise narration by David Hennings, whose refined English carries the weight of the story. It’s an impressive piece in every sense. As expected, it’s an ambitious piece of music that exemplifies progressive rock in its most expansive form, combining the grandeur of orchestral music with the innovation of rock to create a rich and immersive sonic narrative.

"A Battle/The Forest" is an even more complex track, beginning with a narration describing the battle between two sea monsters: one with a lizard's head and crocodile teeth (ichthyosaurus) and the other, a serpent with a turtle's head (plesiosaurus). My detailed description pales in comparison to the magnificent music and well-placed vocals. Rick's keyboards and Mike Egan's guitar create a perfect blend of classic and heavy baroque rock, placing the listener directly in the arena, not just to witness the great battle but also to feel the overwhelming storm, with Wakeman shining on his Minimoog. The second part, "The Forest," takes us to the moment when the expedition reaches the center of the Earth, a vast plain followed by a forest. The music is beautiful, and the strange voices of Pickford and Holt once again prove to be perfect for the occasion. From this point, we are taken to the end of the journey, with the ascent from the depths to the top of Mount Etna, magnificently portrayed with a fragment of Edvard Grieg's "In the Hall of the Mountain King" from the Peer Gynt suite.

Journey to the Centre of the Earth is not an album I would recommend to just anyone, as it’s not always easy to engage with its music. However, I consider it one of the greatest live albums in the history of progressive rock, a cornerstone of my musical education. Unlike what sometimes happens with other records, in this case, the designation as an excellent record is not tied to nostalgia. Journey to the Centre of the Earth possesses genuine musical merit and deserves all the praise it receives. It’s a demonstration of individual talent, courage, and solid arrangements in an absolutely essential musical piece.

NOTA: 9.5/10

Tracks Listing

1. The Journey / Recollection (21:11)
2. The Battle / The Forest (18:57)

Ouça, "The Battle / The Forest"



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