Yes - The Yes Album (1971)

 

Costumo dizer que foi aqui onde o Yes realmente encontrou seu som característico, embora muitos me critiquem por isso, acusando-me de não apreciar os dois primeiros álbuns da banda. De fato, esses álbuns não me agradam tanto, exceto por alguns momentos pontuais. Eles parecem trabalhos de uma banda ainda em busca de direção, uma busca que se tornou mais clara com a primeira mudança significativa na formação: a entrada de Steve Howe como guitarrista, substituindo Peter Banks. The Yes Album marca uma evolução evidente em relação aos álbuns anteriores, que eram mais experimentais, mostrando a banda ajustando-se ao seu som único e progressivo. Considero este álbum uma verdadeira maravilha, pois segue um conceito próprio, tornando-o original e fascinante. Talvez não haja aqui a mesma exploração sonora e progressiva dos álbuns subsequentes, mas as composições são fantásticas. As letras e a música ainda estavam em desenvolvimento, parecendo um pouco atenuadas e simplistas em comparação com épicos como "Close to the Edge", mas muito da essência do Yes já pode ser claramente percebida neste disco.

"Yours Is No Disgrace" abre o álbum de forma brilhante. Sem dúvida, é uma das faixas mais acessíveis do rock progressivo clássico. A música não possui uma produção pomposa, as letras são bastante simples, assim como o baixo e a bateria, mas mesmo assim, eles conseguem cativar o ouvinte. Há algumas partes de violão extremamente belas, e Jon Anderson melhora a cada segundo da música. "The Clap", embora não seja uma má ideia, me parece um momento desnecessário no disco. É uma peça acústica pequena e divertida, mas um tanto deslocada. Por ser uma gravação ao vivo, talvez funcionasse melhor em shows ou em álbuns ao vivo, não em um disco de estúdio.

"Starship Trooper" é a primeira suíte da história do Yes, e é simplesmente maravilhosa. Tão cativante quanto os maiores épicos da banda, mas por não ser tão longa, é mais acessível para aqueles que não costumam apreciar músicas extensas. O baixo é fabuloso, enquanto a guitarra e a bateria rítmica constroem a primeira parte da música com uma seção massiva e melódica. Perto do final, as guitarras repetitivas e hipnotizantes são construídas lentamente em direção a um rock mais enérgico e pesado, mas sem muitas mudanças de notas, apenas de intensidade no arranjo. "I've Seen All Good People" é outra excelente faixa, com ótimas letras que metaforizam a vida como um jogo de xadrez. Emocional, a música traz uma das marcas registradas da banda: os arranjos vocais sublimes. O início é suave, dominado pelo órgão pesado de Tony Kaye, e a segunda metade, com uma cadência mais roqueira, é igualmente excelente. Ótima base e solo de guitarra, trabalho discreto e preciso nos teclados, e uma seção rítmica sólida e enérgica levam a faixa até o final.

"A Venture" é uma faixa suave e tranquila, que acalma o álbum, mas ainda mantém a atenção do ouvinte. Possui uma estrutura mais relaxada, sem muitas aventuras progressivas. O coro destaca o brilhante trabalho vocal de Anderson, enquanto isso, Kaye toca um piano maravilhoso. As linhas de baixo são ótimas, assim como a guitarra e a bateria, que estão muito bem ritmadas. O álbum encerra com "Perpetual Change", que começa com teclados acompanhados por baixo e bateria, além de um solo suave de guitarra. Embora o início da faixa não seja tão interessante, à medida que progride, ela cresce em qualidade consideravelmente, com um solo de guitarra jazzístico, passagens instrumentais intrincadas e experimentais, e Anderson derramando seu coração enquanto canta. A faixa finaliza com um pequeno solo de Steve Howe, mostrando por que sua entrada na banda foi um dos principais fatores que levou o Yes a um novo direcionamento sonoro, transformando-os, possivelmente, na maior banda de rock progressivo da história.

The Yes Album é indispensável e crucial, não apenas dentro de uma coleção de rock progressivo, mas para qualquer coleção de música popular da época. Até então, era o ponto alto de uma banda que não se contentaria e subiria rumo à estratosfera nos discos seguintes. Uma escuta essencial que resistiu à prova do tempo. O mais incrível é que, após essa obra-prima, o Yes percebeu que havia conquistado uma reputação inédita e que desejavam mantê-la, o que elevou ainda mais suas expectativas. Como Kaye tinha dúvidas sobre sua musicalidade após a chegada de Howe, o resto da banda sabia que essa insegurança não melhoraria sua sonoridade, e a única maneira de continuar progredindo era encontrar um tecladista que estivesse à altura das expectativas. Eles o encontraram, e,acredite ou não, as coisas melhoraram ainda mais. Mas isso é outra história.

NOTA: 9.5/10

Tracks Listing:

1. Yours Is No Disgrace (9:36)
2. Clap (live) (3:07) *
3. Starship Trooper (9:23) :
4. I've Seen All Good People (6:47) :
5. A Venture (3:13)
6. Perpetual Change (8:50)

Ouça, "Starship Trooper"




2 comentários:

  1. Olá Tiago como vai? Sou o Carlos do blog "Som Trimado," estou aqui retribuindo sua visita. Quero avisar que já coloquei teu blog na minha lista de recomendação ok? Também quero lhe dar os parabéns pela iniciativa, é de suma importância termos pessoas qualificadas como você compartilhando um pouco da sua sabedoria deste universo que é o rock. Desejo sorte e que, apesar dos percalços, não desista deste trabalho belíssimo. Vida longa ao rock roll e a você brother. Abraço.

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    1. Olá, Carlos. Muito obrigado pelas palavras e por retribuir a gentileza. É isso aí, quanto mais pessoas estiverem falando do bom rock e todas as suas vertentes, melhor. Forte abraço.

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