Van Der Graaf Generator - Pawn Hearts (1971)

 

Pawn Hearts é o quarto disco do Van der Graaf Generator, e assim como seu antecessor, apresenta uma sonoridade vanguardista, exigente e ocasionalmente difícil de ser assimilada, mas que traz um resultado extremamente gratificante. Os elementos clássicos da banda estão todos em evidência: letras profundas e introspectivas, vocais dinâmicos e emocionais, trabalhos exímios no piano, órgão, Mellotron e sintetizadores, além de uma bateria precisa e saxofone distintivo e essencial que define o som da banda, complementado pelo uso ocasional de flautas. Para adoçar ainda mais essa mistura, Robert Fripp é novamente o convidado, adicionando seu toque hábil e inimitável à complexa tapeçaria sonora do disco.

Este álbum é uma obra-prima, embora não seja do tipo que conquista o ouvinte à primeira audição. Peter Hammill está cantando magnificamente, e é quase desnecessário comentar sobre o brilhantismo de suas letras, pois suas poesias são de uma qualidade tão alta que falam por si mesmas. A instrumentação não convencional também funciona muito bem, contribuindo para um som que é ao mesmo tempo sombrio e fascinante, tanto musical quanto liricamente. A capa do álbum, que retrata um grupo de pessoas no que parece ser o céu, pontuado por peões, evoca os antigos mitos sobre os deuses do Olimpo usando os humanos como peças em seus jogos, o que se alinha perfeitamente ao tom filosófico e apocalíptico da música.

O disco começa com "Lemmings (Including 'Cog')", uma faixa psicológica e filosófica que transmite uma sensação de inevitabilidade. O vocal de Hammill é carregado de incerteza, medo e condenação, às vezes desafiando a condenação sem restrições. As letras brilhantemente escritas descrevem uma vida sem propósito real. Musicalmente, a faixa é igualmente deslumbrante, com passagens acústicas bem acentuadas que criam uma sensação íntima e pessoal. Os teclados, órgãos e outros efeitos assumem um papel de destaque nas seções mais nervosas, entrelaçando-se com redes de saxofone e licks selvagens e distorcidos. A bateria e a percussão são excepcionais, conferindo à faixa uma sensação contínua de interesse. O final da música evolui para uma atmosfera negativa e desoladora.

"Man Erg", de certa forma, contrasta com "Lemmings (Including 'Cog')", mas também mantém uma certa similaridade. Hammill canta de uma forma menos pessoal e emocional, mas com uma grandiosidade e assertividade que refletem sobre a questão do livre-arbítrio. A faixa apresenta progressões de acordes sublimes, com belos órgãos que permeiam toda a música, bem como momentos mais jazzísticos, principalmente devido ao saxofone. No entanto, a música também tem seu lado mais sombrio, com seções de órgãos e saxofones poderosos, vocais tenebrosos e passagens dissonantes que a tornam uma das composições mais brilhantes e memoráveis da banda.

O ponto culminante do álbum, e talvez da própria carreira da banda, é "A Plague of Lighthouse Keepers". Esta peça épica de vinte e três minutos é inacreditável em todos os aspectos. A música narra a história de uma testemunha que vê o indizível ao sentir seu corpo desaparecer em uma tempestade enquanto viaja em um navio condenado. Hammill canta com uma convicção quase palpável, criando uma atmosfera de caos e desespero. O piano se torna cada vez mais frenético, enquanto explosões solitárias de saxofone preenchem o vazio. O interlúdio central lembra um navio fantasma flutuando em um oceano infinito e assustador. As seções "Presence of the Night" e "Kosmos Tours" destacam-se pela brilhante performance do saxofone, enquanto o hammond preenche o espaço com um som rico e envolvente. No final, Hammill canta melancolicamente, perguntando se os faróis poderiam conter a chave para sua salvação, criando um momento contemplativo e emocionante que encerra a faixa com uma nota de esperança e resignação.

Apesar de consistir em apenas três faixas, Pawn Hearts é um dos maiores trabalhos do Van der Graaf Generator. A voz de Peter Hammill, embora não agrade a todos, carrega uma emoção e profundidade que poucos conseguem alcançar. A instrumentação não convencional pode demorar a cativar os ouvintes não familiarizados, mas é absolutamente sensacional. É um álbum perturbador, despretensioso e incrível ao mesmo tempo, consolidando-se como uma obra indispensável na discografia da banda, além de se tornar um marco no rock progressivo.

NOTA: 10/10

Tracks Listing:

1. Lemmings (including Cog) (11:39)
2. Man-Erg (10:21)
3. A Plague of Lighthouse Keepers (23:04)

Ouça, "A Plague of Lighthouse Keepers"



2 comentários:

  1. Con este grupo me pasa una cosa curiosa. Siempre he preferido el trabajo en solitario de Peter Hammill que los discos del grupo. Aun asi, uno de los grupos cumbres dentro del rock progresivo

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. La carrera en solitario de Peter Hammill, especialmente los discos de los años 70, es realmente increíble.

      Excluir

Solaris - Marsbéli Krónikák (The Martian Chronicles) (1984)

  Marsbéli Krónikák  é um álbum que merece atenção especial dentro do rock progressivo dos anos 80. Apesar da década ser frequentemente vist...

Postagens mais visitadas na última semana