Magic Pie - Motions Of Desire (2005)

Quando pensamos na Noruega, a primeira imagem que vem à mente em termos musicais é a de um país conhecido por suas sonoridades pesadas, especialmente no cenário do metal. No entanto, quando se trata de rock progressivo, o país sempre ficou um pouco à sombra de seus vizinhos escandinavos, como a Suécia, que produziu uma série de bandas influentes no gênero. Felizmente, a Magic Pie mudou essa percepção ao lançar seu disco de estreia, Motions of Desire. Este álbum não poderia ser mais progressivo, trazendo uma fusão deliciosa entre o rock sinfônico dos anos 70 e influências modernas do neo-progressivo.

Antes de lançar Motions of Desire, a banda era conhecida por tocar covers de clássicos do rock progressivo, mas o talento dos membros era grande demais para ficar restrito às músicas de outros artistas e bandas. Então eles começaram a compor material próprio, misturando influências de um passado recente e distante. A guitarra de Kim Stenberg se destaca como a força motriz do álbum, sendo ele responsável pela maioria das composições e pela arte da capa. No entanto, seria um erro pensar que este é um álbum voltado exclusivamente para guitarristas. Muito pelo contrário, o disco é um esforço coletivo, onde cada membro da banda contribui para uma riqueza musical impressionante. Outro dos grandes destaques também é o uso de teclados vintage, com Hammond e sintetizadores pilotados por Gilbert Marshall, que dão ao álbum uma profundidade progressiva ainda maior.

O álbum abre com "Change", um épico que ilustra perfeitamente o que se pode esperar de uma faixa progressiva. A interação entre guitarra e teclado é muito boa, com harmonias vocais elaboradas e inúmeras mudanças de tempo que fazem desta faixa uma verdadeira joia. "Change" não é uma música que se contenta com gentileza; ela tem momentos de peso, com riffs que poderiam ser comparados a bandas como Deep Purple ou Atomic Rooster, e ainda incorpora fragmentos jazzísticos. Com tantos estilos diferentes reunidos em uma única faixa, fica difícil descrevê-la plenamente. E ao ouvi-la, é natural se perguntar se a banda conseguirá manter o nível ao longo da quase uma hora de música que está por vir. A resposta, sem dúvida, é sim.

A faixa-título, "Motions of Desire", segue o álbum com uma sonoridade que remete claramente ao Marillion, inclusive nos vocais. O riff de teclado é cativante, o solo de guitarra é onírico, e os vocais, tanto principais quanto de apoio, são belíssimos. É uma faixa otimista, com uma levada relativamente rápida que mantém o ouvinte sempre envolvido.

"Full Circle Poetry" começa com sons atmosféricos que evocam bandas como Spock’s Beard e Transatlantic, além de lembrar o início de "Trial of Tears" do Dream Theater. A música então segue por um caminho interessante, com uma bateria marchante e teclados turbulentos antes de introduzir uma guitarra acústica que adiciona uma nova camada à faixa. A mistura de reggae e funk que surge em seguida complementa muito bem os vocais, criando um coro belíssimo. Há também uma passagem instrumental perto dos nove minutos que é excelente, antes de retornar ao clima inicial da música.

"Without Knowing Why" começa de maneira enérgica, com um solo de guitarra e riffs que evocam o metal progressivo, seguido por uma seção rítmica sólida e um vocal poderoso, além de teclados ao estilo Emerson, Lake & Palmer. A guitarra é ótima, com uma distorção que dá à faixa uma força notável. Lembro-me de como fiquei viciado nesta música quando ouvi o álbum pela primeira vez; ela encapsula perfeitamente o que uma boa música progressiva deve ser.

"Illusion & Reality" é um épico que compreende três faixas, combinando diversos estilos musicais. O início traz um som neo-progressivo que gradualmente se transforma com riffs de metal progressivo e um trabalho de órgão muito bom. A música é pontuada por múltiplos vocais e riffs pesados de guitarra, com mudanças de tempo e harmonias complexas que mostram a habilidade técnica da banda. É uma faixa que proporciona uma experiência musical envolvente.

O álbum se encerra com "Dream Visions", mantendo o alto nível. A faixa apresenta riffs pesados, preenchimentos com guitarra acústica e solos de guitarra elétrica, além de um toque sinfônico aliado à veia metal. O solo de teclado é excelente, encerrando o álbum de forma bela

Ao gravar um primeiro álbum, é natural que alguns deslizes na produção sejam relevados, e embora Motions of Desire não seja perfeito nesse aspecto, a produção é no mínimo bastante digna. Contudo, o que realmente importa é que o álbum entrega uma música complexa, melódica e poderosa, mostrando que a Magic Pie é uma banda a ser levada a sério no cenário do rock progressivo moderno. 

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When we think of Norway, the first musical image that comes to mind is often one of a country known for its heavy sounds, particularly in the metal scene. However, when it comes to progressive rock, the country has always been somewhat overshadowed by its Scandinavian neighbors, such as Sweden, which has produced a number of influential bands in the genre. Fortunately, Magic Pie changed this perception with the release of their debut album, Motions of Desire. This album couldn't be more progressive, offering a delightful fusion of 70s symphonic rock with modern neo-progressive influences.

Before releasing Motions of Desire, the band was known for playing covers of classic progressive rock songs, but the talent of its members was too great to be confined to other artists' and bands' music. They began composing their own material, blending influences from both recent and distant pasts. Kim Stenberg's guitar stands out as the driving force of the album, being responsible for most of the compositions and the cover art. However, it would be a mistake to think of this as an album solely for guitarists. On the contrary, the record is a collective effort, with each band member contributing to an impressive musical richness. Another major highlight is the use of vintage keyboards, with Hammond and synthesizers played by Gilbert Marshall, which add even more progressive depth to the album.

The album opens with "Change", an epic that perfectly illustrates what one can expect from a progressive track. The interaction between guitar and keyboard is excellent, with elaborate vocal harmonies and numerous time changes making this track a true gem. "Change" does not settle for gentleness; it has moments of weight, with riffs that could be compared to bands like Deep Purple or Atomic Rooster, and even incorporates jazzy fragments. With so many different styles gathered in a single track, it is difficult to fully describe it. And upon listening, it is natural to wonder if the band will maintain this level throughout the nearly hour-long music to come. The answer is undoubtedly yes.

The title track, "Motions of Desire", follows with a sound that clearly evokes Marillion, even in the vocals. The keyboard riff is captivating, the guitar solo is dreamlike, and the vocals, both lead and backing, are beautiful. It is an optimistic track, with a relatively fast tempo that keeps the listener engaged.

"Full Circle Poetry" starts with atmospheric sounds reminiscent of bands like Spock’s Beard and Transatlantic, and also recalls the beginning of Dream Theater's "Trial of Tears". The music then takes an interesting path, with a marching drum and turbulent keyboards before introducing an acoustic guitar that adds a new layer to the track. The reggae and funk blend that follows complements the vocals very well, creating a beautiful chorus. There is also an excellent instrumental passage near the nine-minute mark before returning to the initial mood of the song.

"Without Knowing Why" starts energetically, with a guitar solo and riffs that evoke progressive metal, followed by a solid rhythmic section and powerful vocals, along with Emerson, Lake & Palmer-style keyboards. The guitar is great, with a distortion that gives the track notable strength. I remember how I became hooked on this song when I first heard the album; it perfectly encapsulates what a good progressive song should be.

"Illusion & Reality" is an epic comprising three tracks, combining various musical styles. The beginning features a neo-progressive sound that gradually transforms with progressive metal riffs and very good organ work. The song is punctuated by multiple vocals and heavy guitar riffs, with time changes and complex harmonies showcasing the band's technical skill. It is a track that provides an immersive musical experience.

The album closes with "Dream Visions", maintaining the high level. The track features heavy riffs, acoustic guitar fills, and electric guitar solos, along with a symphonic touch combined with a metal vein. The keyboard solo is excellent, ending the album beautifully.

When recording a debut album, it is natural that some production flaws may be overlooked, and while Motions of Desire is not perfect in this regard, the production is at least quite respectable. However, what really matters is that the album delivers complex, melodic, and powerful music, showing that Magic Pie is a band to be taken seriously in the modern progressive rock scene.

NOTA: 8/10

Tracks Listing:

1. Change (20:05)
2. Motions of Desire (6:32)
3. Full Circle Poetry (14:15)
4. Without Knowing Why (7:55)
5. Illusion & Reality - Part I (10:18)
6. Illusion & Reality - Part III: Final Breath (4:49)
7. Illusion & Reality - Part IV: Reprise (3:09)
8. Dream Vision (7:50)

Ouça, "Full Circle Poetry"