Mezquita - Recuerdos De Mi Tierra (1979)

 

Recuerdos De Mi Tierra é um dos álbuns mais representativos do rock progressivo espanhol. Criado pela banda Mezquita, este trabalho é uma verdadeira joia que combina estruturas complexas com momentos sinfônicos de forma excepcionalmente deliciosa. A banda consegue equilibrar a complexidade e emotividade, criando um som único que embora claramente influenciado pelas escolas inglesa e italiana, também consegue manter uma identidade própria.

O álbum abre com "Recuerdos de mi Tierra", uma faixa que nos transporta de imediato para uma jornada musical rica e energética. Após uma introdução suave, a banda explode em um desempenho vibrante, onde o trabalho da guitarra se destaca, envolto por teclados sofisticados e uma seção rítmica precisa. As mudanças de tempo ao longo da faixa são habilmente executadas, e no ponto médio, a música mergulha em uma atmosfera dramática. Então que o flamenco emerge com força, com guitarras acústicas, vocais cheios de sentimento e teclados que criam um fundo etéreo e cativante.

Segue-se "El Bizco de los Pátios", uma faixa ainda mais frenética e intensa que a anterior. Mesmo que a atmosfera mourisca e flamenca seja palpável, o elemento progressivo nunca é ofuscado. As guitarras oscilam entre o pesado e o distorcido, transformando-se em guitarras espanholas com uma fluidez impressionante, enquanto os teclados e as linhas de baixo adicionam camadas de complexidade e profundidade à composição.

"Desde que Somos dos" é talvez a faixa mais peculiar do álbum, onde o som mourisco se entrelaça perfeitamente com performances sinfônicas de teclados e violões. O resultado é uma sonoridade que embora ressoe com o clássico rock progressivo dos anos 70, mantém uma identidade tão única que é difícil associá-la a qualquer banda em particular. Mezquita consegue criar algo próprio, sem nunca perder de vista as raízes sinfônicas e flamencas que os inspiram.

Em "Ara Buza (Dame un Beso)", a banda vai ainda mais longe, introduzindo não apenas violões e cantos flamencos, mas também palmas, que acrescentam uma textura rítmica autêntica. No entanto, é o baixo que quebra essa atmosfera étnica, introduzindo uma seção mais pesada e complexa. Os vocais, sempre carregados de emoção, nunca deixam o ouvinte esquecer que se trata de uma banda espanhola. A faixa é marcada por mudanças dramáticas e pela primeira vez, podemos identificar uma influência clara, uma mistura do King Crimson com a Mahavishnu Orchestra, onde, após passagens melódicas, somos surpreendidos por dissonâncias poderosas e deliciosas.

"Suicidijo" começa explorando um terreno musical que remete ao Emerson, Lake & Palmer. A banda rapidamente adiciona um toque psicodélico de teclado que evoca o som do Pink Floyd antes de retornar à sua habitual e complexa estrutura musical. Na segunda metade da faixa, eles preparam um grand finale, onde vocais comoventes, elementos mouriscos e flamencos, sintetizadores e violões dramáticos se unem em uma performance maravilhosa.

Por fim, temos "Obertura en Si Bemol", uma escolha curiosa para fechar o álbum. O que deveria ser a faixa de abertura acaba se tornando a cereja do bolo. Uma peça complexa, capaz de agradar até mesmo os fãs de avant-garde, mas que também oferece melodias que encantarão os apreciadores de rock sinfônico mais exigentes. O final da faixa é apoteótico e não poderia encerrar o disco de melhor forma. 

Recuerdos De Mi Tierra é uma verdadeira tempestade musical, onde o virtuosismo de cada membro da banda brilha intensamente através de infinitas mudanças de ritmo e nuances melódicas. Os vocais, cantados em espanhol, são carregados de emoção e seguem a tradição flamenca, muitas vezes exagerada, mas sempre comovente. A cada nova audição, o álbum revela algo novo, tornando-se ainda mais especial e inesquecível. 

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Recuerdos De Mi Tierra is one of the most representative albums of Spanish progressive rock. Created by the band Mezquita, this work is a true gem that combines complex structures with symphonic moments in an exceptionally delightful manner. The band manages to balance complexity and emotion, creating a unique sound that, although clearly influenced by the English and Italian schools, also maintains its own identity.

The album opens with "Recuerdos de mi Tierra", a track that immediately transports us on a rich and energetic musical journey. After a soft introduction, the band bursts into a vibrant performance, where the guitar work stands out, enveloped by sophisticated keyboards and a precise rhythm section. The tempo changes throughout the track are skillfully executed, and at the midpoint, the music dives into a dramatic atmosphere. Then, the flamenco emerges powerfully, with acoustic guitars, soulful vocals, and keyboards that create an ethereal and captivating backdrop.

Next comes "El Bizco de los Pátios" a track even more frenetic and intense than the previous one. Even though the Moorish and flamenco atmosphere is palpable, the progressive element is never overshadowed. The guitars oscillate between heavy and distorted, transforming into Spanish guitars with impressive fluidity, while the keyboards and bass lines add layers of complexity and depth to the composition.

"Desde que Somos dos" is perhaps the most peculiar track on the album, where the Moorish sound intertwines perfectly with symphonic performances on keyboards and guitars. The result is a sound that, although it resonates with classic 70s progressive rock, maintains such a unique identity that it is difficult to associate it with any particular band. Mezquita manages to create something entirely their own, never losing sight of the symphonic and flamenco roots that inspire them.

In "Ara Buza (Dame un Beso)", the band goes even further, introducing not only guitars and flamenco chants but also clapping, which adds an authentic rhythmic texture. However, it is the bass that breaks this ethnic atmosphere, introducing a heavier and more complex section. The vocals, always filled with emotion, never let the listener forget that this is a Spanish band. The track is marked by dramatic changes, and for the first time, we can identify a clear influence—a mix of King Crimson with the Mahavishnu Orchestra—where, after melodic passages, we are surprised by powerful and delightful dissonances.

"Suicidijo" begins by exploring a musical terrain that recalls Emerson, Lake & Palmer. The band quickly adds a psychedelic keyboard touch that evokes the sound of Pink Floyd before returning to its usual complex musical structure. In the second half of the track, they prepare a grand finale, where moving vocals, Moorish and flamenco elements, synthesizers, and dramatic guitars come together in a wonderful performance.

Finally, we have "Obertura en Si Bemol", a curious choice to close the album. What should have been the opening track ends up being the cherry on top. A complex piece, capable of pleasing even avant-garde fans, but that also offers melodies that will delight the most demanding symphonic rock enthusiasts. The end of the track is apotheotic and couldn't close the album in a better way.

Recuerdos De Mi Tierra is a true musical storm, where the virtuosity of each band member shines intensely through infinite rhythm changes and melodic nuances. The vocals, sung in Spanish, are filled with emotion and follow the flamenco tradition—often exaggerated, but always moving. With each new listen, the album reveals something new, making it even more special and unforgettable.

NOTA: 9/10

Tracks Listing:

1. Recuerdos de mi Tierra (7:38)
2. El bizco de los patios (4:15)
3. Desde que somos dos (5:41)
4. Ara buza (Dame un beso) (4:30)
5. Suicidijo (7:20)
6. Obertura en Si Bemol (6:01)

Ouça, "Obertura en Si Bemol"




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