Gentle Giant - Acquiring The Taste (1971)

 

Após uma estreia promissora, o Gentle Giant deu um grande salto em direção a uma sonoridade que viria a definir a banda como uma das mais únicas e inventivas da história do rock progressivo em seu segundo álbum, Acquiring the Taste. O nível de musicalidade alcançado aqui é excepcional, não apenas em termos técnicos, mas também criativos. Cada elemento está em seu devido lugar, desde a originalidade das melodias e a abordagem inovadora à música progressiva, até os arranjos e a execução precisa.

O álbum começa com "Pantagruel's Nativity", que nos transporta imediatamente para o som singular do Gentle Giant. Uma atmosfera sombria e sinistra permeia a música, mas com uma suavidade nos timbres que torna a experiência intrigante. As texturas musicais são ricas e fluem de maneira orgânica, sem excessos ou elementos fora de lugar. As letras, inspiradas pelos grandes oratórios de compositores como Handel e Purcell, parecem evocar o estilo de óperas como "Acis and Galatea" de Handel. A entrega vocal é meticulosa e transmite eficazmente os temas místicos presentes na faixa.

"Edge of Twilight" continua essa exploração de atmosferas sombrias, revelando-se ainda mais poderosa quando ouvida no escuro. Embora a faixa possa parecer simples à primeira vista, ela está repleta de detalhes sutis que enriquecem a experiência auditiva. A percussão em particular se destaca com sua beleza após cada verso, complementando perfeitamente o humor assustador das letras. "The House, The Street, The Room" apresenta vocais que no início lembram um pouco Peter Gabriel. É um exemplo clássico de como o Gentle Giant conseguia ser extremamente técnico sem sacrificar a fluidez da música. Na metade da faixa, a textura muda, tornando-se mais agressiva, com um solo de guitarra wah-wah impressionante de Gary Green, linhas de baixo impactantes e um denso trabalho de Hammond. A música então retorna à melodia inicial, terminando com uma coda instrumental baseada em ideias derivadas do serialismo, mostrando a complexidade composicional da banda.

A faixa-título, "Acquiring the Taste", mantém a exploração do serialismo, mas evita o serialismo total ou a música concreta, preferindo uma abordagem mais próxima do jazz tonal. Embora seja curta e totalmente instrumental, é uma peça impressionante, onde o grupo equilibra dissonâncias inesperadas com melodias encantadoras. "Wreck" traz uma veia mais pesada, com uma inclinação para o blues-rock. Embora essa faixa tenha uma sonoridade mais convencional, algo raro para o Gentle Giant, ela ainda é refinada e inclui interlúdios clássicos interessantes. No entanto, comparada ao resto do álbum, é o momento menos impressionante, mantendo-se como uma peça sólida, mas não um destaque.

"The Moon is Down" começa com uma linha de baixo descontraída em um clima de jazz. A composição é complexa, característica da banda e se destaca pelas harmonias vocais doces sobre uma construção instrumental diversificada, tornando-se um dos destaques do disco. "Black Cat" apresenta uma seção clássica de cordas que cria belíssimas melodias. As dissonâncias cativantes durante a seção mais estranha no meio da faixa resultam em outra forte declaração musical da banda. O álbum encerra com "Plain Truth", onde a guitarra elétrica uiva e chora antes de a banda entrar com um coro existencialista. A música se desenvolve em um hard rock bem orientado e com bons riffs, embora um pouco pálido quando comparados aos outros destaques do álbum. Ainda assim, é uma adição sólida ao disco.

Em resumo, Acquiring the Taste é o primogênito de uma sequência arrasadora de seis discos que o Gentle Giant produziria, marcando o início de uma era de criatividade e inovação que definiria o legado da banda no rock progressivo.

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After a promising debut, Gentle Giant made a significant leap towards a sound that would define them as one of the most unique and inventive bands in progressive rock history with their second album, Acquiring the Taste. The level of musicianship achieved here is exceptional, not just in technical prowess but also in creativity. Every element is in its rightful place, from the originality of the melodies and the innovative approach to progressive music, to the arrangements and precise execution.

The album opens with "Pantagruel's Nativity", which immediately immerses the listener in Gentle Giant's distinct sound. A dark and ominous atmosphere pervades the track, yet there is a softness in the tones that makes the experience compelling. The musical textures are rich and flow organically, with no excesses or misplaced elements. The lyrics, inspired by grand oratorios from composers like Handel and Purcell, evoke the style of operas such as Handel's Acis and Galatea. The vocal delivery is meticulous, effectively conveying the mystical themes present in the track.

"Edge of Twilight" continues this exploration of dark atmospheres, revealing its power when listened to in the dark. While the track may seem simple at first glance, it is full of subtle details that enrich the listening experience. The percussion, in particular, shines with its beauty after each verse, perfectly complementing the haunting mood of the lyrics. "The House, The Street, The Room" features vocals that initially recall Peter Gabriel. It's a classic example of how Gentle Giant could be extremely technical without sacrificing the music's fluidity. Midway through the track, the texture shifts, becoming more aggressive with an impressive wah-wah guitar solo by Gary Green, impactful bass lines, and dense Hammond organ work. The song then returns to the initial melody, ending with an instrumental coda based on serialist ideas, showcasing the band's compositional complexity.

The title track, "Acquiring the Taste", continues the exploration of serialism but avoids full serialism or musique concrète, opting instead for an approach closer to tonal jazz. Though short and entirely instrumental, it’s an impressive piece where the group balances unexpected dissonances with charming melodies. "Wreck" brings a heavier blues-rock vibe. While this track has a more conventional sound, which is rare for Gentle Giant, it remains refined and includes interesting classical interludes. However, compared to the rest of the album, it’s the least impressive moment, standing as a solid piece but not a standout.

"The Moon is Down" starts with a laid-back bass line in a jazz-like mood. The composition is complex, a hallmark of the band, and stands out for its sweet vocal harmonies over a diverse instrumental build, making it one of the album’s highlights. "Black Cat" features a classical string section that creates beautiful melodies. The captivating dissonances during the track’s stranger midsection result in another strong musical statement from the band. The album closes with "Plain Truth", where the electric guitar howls and cries before the band enters with an existentialist chorus. The track develops into well-oriented hard rock with solid riffs, though slightly pale compared to the album’s other highlights. Nevertheless, it’s a solid addition to the record.

In summary, Acquiring the Taste is the first in a stellar run of six albums that Gentle Giant would go on to produce, marking the beginning of an era of creativity and innovation that would define the band’s legacy in progressive rock.

NOTA: 9.5/10

Tracks Listing:

1. Pantagruel's Nativity (6:50)
2. Edge of Twilight (3:47)
3. The House, the Street, the Room (6:01)
4. Acquiring the Taste (1:36)
5. Wreck (4:36)
6. The Moon Is Down (4:45)
7. Black Cat (3:51)
8. Plain Truth (7:36)

Ouça, "The House, the Street, the Room"



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