Sieges Even - The Art Of Navigating By The Stars (2005)


Não é exagero dizer que, ao mencionar os irmãos Holzwarth, estamos evocando dois pilares fundamentais da história do metal progressivo europeu. Oliver (baixo) e Alex (bateria) são músicos cujas habilidades e criatividade transcendem o comum, elevando qualquer projeto musical em que estejam envolvidos a um patamar distinto. O metal progressivo, por si só, é um gênero marcado pela sofisticação, embora nem sempre seja reconhecido dessa forma muita gente. Existem infinitos adjetivos que poderíamos usar para descrever os álbuns que surgem nesta vertente, pois são obras criadas por músicos de grande talento e que entregam algo além de uma sonoridade apenas técnica, como sugere um enorme número de pessoas. Contudo, ao falar de The Art Of Navigating By The Stars, um termo incomum vem à mente: "belo mundo". Mas há uma explicação, a sensações causadas enquanto o ouvimos fazem parecer que tudo ao nosso redor está resolvido e belo.

Este álbum tem a rara capacidade de transformar o ambiente ao seu redor, criando uma sensação de harmonia e beleza que transcende a música em si. É uma obra que, mesmo para aqueles que nunca se aventuraram pelo metal, revela-se acessível e tocante, proporcionando uma experiência musical tão delicada quanto poderosa.

Dissecar o álbum faixa por faixa, nem sempre é a melhor abordagem para uma resenha, e aqui isso se aplica perfeitamente. A composição em The Art Of Navigating By The Stars difere radicalmente de tudo que a banda havia feito anteriormente, ou mesmo no único álbum posterior. Este trabalho é muito mais do que uma coleção de músicas; é uma jornada emocional profundamente conectada ao ouvinte. Como um disco conceitual, ele explora temas universais de amadurecimento e envelhecimento, ideias que se entrelaçam maravilhosamente com a música emocional e íntima presente em cada faixa. A profundidade harmônica é notável, e as assinaturas temporais complexas são manejadas com maestria. As transições são guiadas de forma sublime pela bateria de Alex Holzwarth, assegurando que o ouvinte esteja sempre ciente das mudanças de tom e ritmo, a menos que decida se desconectar completamente da experiência sonora.

Oliver Holzwarth oferece performances excepcionais no baixo, destacando-se em um gênero onde nem sempre esse instrumento recebe a devida atenção. Suas escalas rápidas e polirritmias precisas podem facilmente cativar até mesmo aqueles que usualmente não prestam atenção às nuances do instrumento. Oliver demonstra uma habilidade única para adaptar suas linhas de acordo com as necessidades da música, alternando entre toques suaves, nítidos, leves ou pesados, conforme o momento exige. Ele é um músico raro, combinando técnica apurada com um senso artístico refinado e uma combinação que poucos conseguem alcançar com tanta destreza.

A estreia de Markus Steffen na guitarra trouxe uma adição interessante à banda. Suas habilidades podem não refletir as de um típico guitarrista de metal progressivo, mas talvez seja justamente isso que confere ao álbum sua característica especial. Steffen exibe uma técnica impressionante, especialmente em arpejos e transições de acordes, mas o que realmente se destaca é sua capacidade de colaborar de forma coesa com o resto da banda, optando por uma abordagem discreta em vez de solos extravagantes. Ele é um músico experiente cuja destreza está até mesmo em sua modéstia.

Por outro lado, Arno Menses não teve o mesmo impacto positivo que Steffen. Seus vocais, embora tecnicamente impressionantes, nem sempre parecem se alinhar com a química do restante da banda. No entanto, é importante notar que isso não diminui a qualidade de sua voz; em outros contextos, como na Subsignal, seu trabalho é absolutamente magnífico. Aqui, porém, a conexão não foi tão imediata. Com algumas audições, os vocais começam a se encaixar melhor, e sua entonação e beleza vocal, embora não convencionais para o gênero, revelam-se dignas de apreciação.

A produção do álbum é cristalina, um verdadeiro triunfo tonal. O que mais impressiona é a clareza com que cada instrumento se manifesta, mesmo com as constantes mudanças sonoras ao longo do álbum. Bateria, baixo, guitarra e vocais mudam de forma sutil, mas perceptível, mantendo a coesão enquanto evoluem. É uma obra-prima em termos de produção, algo que qualquer fã do processo de gravação deveria conhecer.

Para os fãs de metal progressivo de sonoridade mais acelerada, The Art Of Navigating By The Stars pode não ser imediatamente cativante. No entanto, para aqueles que apreciam formas mais inventivas e suaves dentro do gênero, este álbum certamente será uma joia a ser descoberta. Independentemente de preferências pessoais, o álbum destaca músicos de habilidades excepcionais, combinando técnica apurada com uma sensibilidade ímpar. Em um estilo frequentemente criticado por ser excessivamente técnico ou "mecânico", The Art Of Navigating By The Stars é como um antídoto, uma obra profundamente humana que desafia tais percepções e reafirma o poder emocional do metal progressivo.

NOTA: 9/10

Tracks Listing:

1. Intro: Navigating by the Stars (0:30)
2. Sequence I: The Weight (10:14)
3. Sequence II: The Lonely Views of Condors (6:14)
4. Sequence III: Unbreakable (9:00)
5. Sequence IV: Stigmata (8:22)
6. Sequence V: Blue Wide Open (5:13)
7. Sequence VI: To the Ones Who Have Failed (7:26)
8. Sequence VII: Lighthouse (7:41)
9. Sequence VIII: Styx (8:55)

Ouça, "Sequence VIII: Styx"



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