Casa das Maquinas - Lar de Maravilhas (1974)


Uma verdadeira joia do rock progressivo brasileiro, Lar de Maravilhas é um álbum que encapsula a essência experimental e psicodélica que florescia no Brasil em meados dos anos 70. Com uma temática hippie, o álbum reflete a rica tapeçaria sonora daquele período, fortemente influenciado por bandas icônicas como Mutantes e O Terço. No entanto, o destino foi caprichoso, pois Lar de Maravilhas foi lançado em um ano particularmente competitivo, dividindo espaço com discos de peso como Terreno Baldio (Terreno Baldio), Tudo Foi Feito Pelo Sol (Mutantes) e Criaturas da Noite (O Terço).

Embora o álbum não apresente uma musicalidade extraordinária em termos de complexidade técnica, ele é uma obra carregada de emoção e sensibilidade, que ressoa profundamente com o ouvinte. As influências de bandas estrangeiras como Yes, Supertramp e Pink Floyd também são evidentes e contribuem para o caráter atmosférico e introspectivo do disco.

O álbum abre com “Vou Morar no Ar", uma faixa que imediatamente estabelece o clima com sons de pegadas e trovões, antes de se transformar em uma levada funky, onde guitarras elétricas encontram riffs mais pesados sobre uma cama de sintetizadores espaciais. Esta combinação cria uma sensação de movimento e eletricidade, preparando o terreno para a jornada sonora que está por vir.

“Lar de Maravilhas", a faixa-título, começa de maneira despretensiosa, com uma "brincadeira" na guitarra acústica. No entanto, à medida que a banda entra, uma harmonia apaixonada e flutuante se desenvolve, evocando a leveza de uma brisa suave. A faixa, em um jogo dinâmico, alterna entre momentos energéticos e refrões suaves, criando uma montanha-russa emocional que culmina em um final vibrante. “Liberdade Espacial” é um rock simples, mas irresistivelmente cativante e aconchegante. O baixo pulsante e os sintetizadores bem encaixados conferem à faixa uma vibração que gruda na mente e no coração, destacando a capacidade da banda de criar melodias memoráveis.

Minha faixa favorita do disco, “Astralização" é uma peça magistral que cresce em intensidade, conduzindo o ouvinte por uma viagem sonora empolgante. O baixo flutuante, os lamentos da guitarra e o órgão Hammond sinfônico se combinam para criar uma experiência auditiva arrebatadora. Os vocais letárgicos se somam à atmosfera psicodélica, e o solo de guitarra que encerra a faixa é nada menos que sublime. “Cilindro Cônico” inicia de forma suave, com vocais letárgicos que logo dão lugar a uma explosão de energia. A transição para um ritmo mais acelerado, marcado pela bateria vibrante e pelo órgão pulsante, culmina em um grande solo de guitarra que é o ponto alto da faixa.

“Vale Verde”, sem dúvida é o grande momento progressivo do álbum. Com longas passagens instrumentais que evocam as melhores tradições do progressivo alemão, a faixa é liderada por um moog poderoso e ocasionalmente enriquecida por intervenções do Hammond. A introdução, com quase quatro minutos de pura música progressiva, conduz elegantemente aos belos vocais que marcam a transição para uma mudança de ritmo, culminando em um final sinfônico dramático que deixa o ouvinte em êxtase. “Raios de Lua” é uma balada simples, acústica e sonhadora, que abraça calorosamente o ouvinte. Romântica e etérea, a faixa funciona perfeitamente dentro do contexto do álbum, oferecendo um momento de tranquilidade e introspecção. Por outro lado, “Epidemia de Rock” se destaca por seu rock and roll direto, com um trabalho instrumental sólido e um ótimo solo de órgão. No entanto, essa faixa parece um tanto deslocada no álbum, talvez se encaixando melhor em um trabalho como Casa das Máquinas ou Casa de Rock. Sua presença aqui, embora não comprometa necessariamente o disco, interrompe um pouco a coesão temática.

“O Sol/Reflexo Ativo” encerra o álbum com maestria. Começando com um piano delicado, a faixa logo se transforma em uma longa narrativa psicodélica, envolta em uma aura melancólica. Batidas suaves são gradualmente sobrepostas por camadas de Hammond e mini-moog, criando um clímax sinfônico que culmina em um solo de guitarra emocionante, preparando o caminho para o desfecho do álbum.

Em suma, Lar de Maravilhas é uma obra que mistura de maneira muito interessante o rock ácido, a instrumentação espacial e a inventividade progressiva, temperada com uma sensibilidade pop inteligente. As harmonias vocais elevam ainda mais a qualidade do disco, tornando-o uma audição viciante.

========
========
========
========

A true gem of Brazilian progressive rock, Lar de Maravilhas is an album that encapsulates the experimental and psychedelic essence flourishing in Brazil during the mid-‘70s. With its hippie-themed approach, the album reflects the rich sonic tapestry of that era, heavily influenced by iconic bands like Mutantes and O Terço. However, fate was unkind, as Lar de Maravilhas was released in a particularly competitive year, sharing space with heavyweight albums like Terreno Baldio (Terreno Baldio), Tudo Foi Feito Pelo Sol (Mutantes), and Criaturas da Noite (O Terço).

Although the album does not showcase extraordinary technical complexity, it is a work brimming with emotion and sensitivity that resonates deeply with the listener. Influences from foreign bands such as Yes, Supertramp, and Pink Floyd are also evident, contributing to the album's atmospheric and introspective character.

The album opens with "Vou Morar no Ar", a track that immediately sets the mood with sounds of footsteps and thunder before evolving into a funky groove, where electric guitars meet heavier riffs over a bed of spacey synthesizers. This combination creates a sense of movement and electricity, laying the groundwork for the sonic journey to come.

The title track, "Lar de Maravilhas", begins unassumingly with a playful acoustic guitar. However, as the band joins in, a passionate and floating harmony develops, evoking the lightness of a gentle breeze. The track dynamically alternates between energetic moments and softer choruses, creating an emotional rollercoaster that culminates in a vibrant finale. "Liberdade Espacial" is a straightforward rock tune, yet irresistibly captivating and cozy. The pulsating bass and well-placed synthesizers give the track a memorable vibe that sticks with the listener, highlighting the band's ability to create catchy melodies.

My favorite track on the album, "Astralização", is a masterful piece that grows in intensity, guiding the listener through an exhilarating sonic voyage. The floating bass, guitar wails, and symphonic Hammond organ combine to create a captivating auditory experience. The lethargic vocals add to the psychedelic atmosphere, and the guitar solo that closes the track is nothing short of sublime. "Cilindro Cônico" starts gently, with lethargic vocals that soon give way to an explosion of energy. The transition to a faster pace, marked by vibrant drumming and pulsating organ, culminates in a standout guitar solo that is the highlight of the track.

"Vale Verde" is undoubtedly the album's progressive high point. With extended instrumental passages that evoke the finest traditions of German progressive rock, the track is driven by a powerful moog and occasionally enriched by Hammond interventions. The introduction, with almost four minutes of pure progressive music, elegantly leads into the beautiful vocals that mark the transition to a change in rhythm, culminating in a dramatic symphonic finale that leaves the listener in ecstasy. "Raios de Lua" is a simple, acoustic, and dreamy ballad that warmly embraces the listener. Romantic and ethereal, the track fits perfectly within the album's context, offering a moment of tranquility and introspection. On the other hand, "Epidemia de Rock" stands out for its straightforward rock and roll, featuring solid instrumental work and a great organ solo. However, this track feels somewhat out of place on the album, perhaps fitting better in a work like Casa das Máquinas or Casa de Rock. While its presence does not necessarily compromise the album, it slightly disrupts the thematic cohesion.

"O Sol/Reflexo Ativo" masterfully closes the album. Beginning with delicate piano, the track soon evolves into a long psychedelic narrative, enveloped in a melancholic aura. Gentle beats are gradually layered with Hammond and mini-moog, creating a symphonic climax that culminates in an emotional guitar solo, setting the stage for the album's conclusion.

In summary, Lar de Maravilhas is a work that intriguingly blends acid rock, spacey instrumentation, and progressive inventiveness, tempered with intelligent pop sensibility. The vocal harmonies further elevate the quality of the album, making it an addictive listen.

NOTA: 7/10

Tracks Listing:

1. Vou Morar No Ar (3:33)
2. Lar De Maravilhas (6:15)
3. Liberdade Espacial (2:22)
4. Astralização (5:29)
5. Cilindro Cônico (5:01)
6. Vale Verde (6:55)
7. Raios De Lua (2:59)
8. Epidemia De Rock (3:02)
9. O Sol/Reflexo Ativo (7:55
)

Ouça, "Vale Verde"



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Solaris - Marsbéli Krónikák (The Martian Chronicles) (1984)

  Marsbéli Krónikák  é um álbum que merece atenção especial dentro do rock progressivo dos anos 80. Apesar da década ser frequentemente vist...

Postagens mais visitadas na última semana