Quantas bandas com uma carreira de 40 anos conseguem fazer do seu álbum mais recente o melhor de todos? Se essa pergunta me fosse feita antes de 2014, talvez eu hesitasse em responder – isso se eu tivesse uma resposta. Mas desde o lançamento de The Road of Bones, minha resposta se tornou clara: sim, o IQ conseguiu. Esse álbum, para mim, é o auge da carreira da banda.
Claro, como acontece com qualquer obra de arte, The Road of Bones é suscetível a uma ampla gama de opiniões, variando de "obra-prima" a "não consegui captar". No entanto, o que fica evidente neste trabalho é que o IQ não apenas foi um dos grandes nomes do neo-progressivo, surgindo como resposta ao iminente desaparecimento do progressivo clássico no final dos anos 70, mas também mostrou que, mesmo após quatro décadas, ainda é possível criar obras tão relevantes e musicalmente ricas quanto as dos "anos de ouro" do gênero. O álbum prova que a banda, apesar de tantos anos de estrada, continua sendo uma das principais forças a manter viva a essência do progressivo.
Sou um grande fã da banda, e mesmo com dois deslizes seguidos no final dos anos 80 com Nomzamo (1987) e Are You Sitting Comfortably? (1989) – ambos sem Peter Nicholls nos vocais – a banda sempre foi coesa. A capa do álbum já anuncia o clima sombrio e a tristeza melancólica que permeiam as músicas, envoltas em uma névoa densa. Um dos grandes responsáveis pelo sucesso deste desenvolvimento é o tecladista Neil Durant, que arquitetou o álbum de forma brilhante.
DISCO 1:
O disco abre com "From The Outside In", uma faixa que começa com a voz inconfundível de Bela Lugosi, o Drácula de 1931, entoando a icônica frase "Listen to them, children of the night, what music they make", acompanhada por um som atmosférico. A explosão instrumental que segue lembra um pouco o que a banda Galahad. O Mellotron é introduzido logo no início e permanece poderoso ao longo da faixa, exceto nos momentos em que a música se torna mais suave. O baixo é profundo e dá à peça um brilho melancólico notável. "From The Outside In" é uma das faixas mais pesadas que o IQ já produziu, flertando com o metal progressivo. A faixa-título, "The Road of Bones", é simplesmente sensacional. Com um brilho moderno, ela mistura teclados orquestrais, baixo fretless e uma instrumentação que alterna entre leveza e sinfônicos avassaladores, criando uma paisagem sonora sublime.
Em 2004, dez anos antes do lançamento de The Road of Bones, o IQ gravou o épico "Harvest of Souls" para o álbum Dark Matter. Agora, a banda nos presenteia com uma música que parece ser sua companheira espiritual: "Without Walls", um épico de mais de 19 minutos. A faixa começa com uma balada que, confesso, não me cativa, mas felizmente a música evolui para uma levada de guitarra e bateria ao estilo "Kashmir" do Led Zeppelin. No meio da música, uma parte introspectiva com orquestração dá lugar ao violão e aos vocais serenos e emotivos de Peter Nicholls. A faixa então retorna ao caos, com os instrumentos tocando de forma "desordenada" e caótica, para depois retomar a instrumentação inicial, agora mais encorpada, com um solo final de guitarra que é puro êxtase.
"Ocean" demorou para me conquistar. Uma canção pastoral, bucólica, com uma atmosfera pura, frequentemente moldada pelo teclado de Neil Durant, que é fortemente influenciado por Tony Banks. É uma balada simples que vai crescendo conforme nos acostumamos com ela, com destaque para os vocais emotivos de Nicholls. "Until the End" encerra o primeiro CD de forma grandiosa. Após uma introdução de cerca de três minutos em tom de balada, a música se transforma, com destaque para a bateria criativa e enérgica de Paul Cook e as ótimas linhas de baixo de Tim Esau. Toda a banda desempenha bem o seu papel, e a faixa é concluída com um final melancólico e belo.
DISCO 2:
O segundo CD abre com "Knucklehead", que começa com uma seção rítmica que remete a sonoridades indianas. A guitarra brilha, tanto na parte acústica que encerra a linha indiana quanto nas passagens mais pesadas. A seção rítmica também se destaca, criando uma peça que começa de forma serena e termina com uma energia contagiante. "1312 Overture" é uma alusão bem-humorada à peça "1812" de Pyotr Tchaikovsky. Esta curta faixa instrumental tem em Neil Durant seu maior destaque criativo, com um teclado que, apesar de não ser complexo, é lindíssimo e progressivo.
"Constellations" é, sem dúvida, um dos pontos altos do álbum. Com uma percussão excelente e um mellotron arrebatador, a banda atinge um grau de inspiração poucas vezes visto em sua carreira. Os vocais de Nicholls estão no ápice de beleza e emotividade, impulsionados pelos teclados grandiosos e pelas linhas de baixo robustas. Michael Holmes, que até então tinha mantido a guitarra em segundo plano, finalmente brilha junto dos demais músicos, criando um som que já nasceu clássico. Com claras influências de Genesis, o IQ alcançou um apogeu musical raramente visto. O álbum segue com a belíssima "Fall and Rise". Uma balada sublime onde o baixo fretless de Tim Esau se destaca com linhas maravilhosas, entrelaçadas com a bateria sinuosa de Cook. No meio da faixa, Holmes mostra sua habilidade no violão com um solo simples, mas cheio de sentimento e que se encaixa perfeitamente nos vocais de Nicholls. Novamente, os teclados de Durant são excepcionais.
"Ten Million Demons" é mais um momento arrebatador. A faixa começa com um baixo encorpado, reminiscente de "One of These Days" do Pink Floyd, que logo ganha a companhia dos demais instrumentos. As progressões de acordes escolhidas por Durant são deliciosas de ouvir, tornando essa música grandiosa. Ouvi-la com fones de ouvido e luzes apagadas é uma experiência transcendental. "Hardcore" encerra o álbum com uma sonoridade sombria e gótica, que lembra Wagner, mas dentro de um contexto progressivo. O uso do mellotron é particularmente melífluo, injetando uma carga sombria na música. O baixo de Tim Esau tem um breve momento solo, carregado de notas tristes, e Holmes combina influências de Steve Hackett e Anthony Phillips para compor um lindo final acústico para o álbum.
Ao contrário do que costuma acontecer com muitas bandas de longa data, o IQ lançou seus melhores álbuns a partir dos anos 2000. A produção, o som, a qualidade das músicas – tudo é impecável. Vida longa a uma banda que, após tanto tempo de estrada, não se acomoda, mas busca sempre fazer algo melhor do que já foi feito. The Road of Bones é indispensável.
How many bands with a 40-year career can manage to make their most recent album their best ever? If you had asked me this question before 2014, I might have hesitated to answer – if I had an answer at all. However, since the release of The Road of Bones, my response has become clear: yes, IQ has achieved this. For me, this album represents the pinnacle of the band's career.
Like any work of art, The Road of Bones is open to a range of opinions, from "masterpiece" to "couldn't quite get it." Nevertheless, what stands out in this work is that IQ, one of the prominent names in neo-progressive rock that emerged as a response to the looming disappearance of classic prog in the late '70s, has shown that even after four decades, it is still possible to create music as relevant and richly musical as that of the genre's "golden years." The album proves that the band, despite its long history, remains a vital force in keeping the essence of progressive rock alive.
As a long-time fan of the band, I've always admired their cohesion, even after two missteps in the late '80s with Nomzamo (1987) and Are You Sitting Comfortably? (1989) – both lacking Peter Nicholls on vocals. The album cover already hints at the dark and melancholic atmosphere that permeates the music, shrouded in a dense mist. The band's success in this development is largely due to keyboardist Neil Durant, who brilliantly crafted the album.
CD 1:
The album opens with "From The Outside In", a track that begins with the unmistakable voice of Bela Lugosi, the 1931 Dracula, delivering the iconic line "Listen to them, children of the night, what music they make", accompanied by atmospheric soundscapes. The subsequent instrumental explosion somewhat resembles the work of the band Galahad. The Mellotron is introduced early on and remains powerful throughout the track, except during the softer moments. The deep bass adds a notable melancholic glow to the piece. "From The Outside In" is one of the heaviest tracks IQ has ever produced, flirting with progressive metal.
The title track, "The Road of Bones", is simply sensational. With a modern shine, it blends orchestral keyboards, fretless bass, and instrumentation that alternates between lightness and overwhelming symphonic passages, creating a sublime soundscape.
In 2004, ten years before The Road of Bones was released, IQ recorded the epic "Harvest of Souls" for the album Dark Matter. Now, the band presents us with a track that seems to be its spiritual companion: "Without Walls", an epic lasting over 19 minutes. The track starts with a ballad that, admittedly, did not captivate me at first, but fortunately, it evolves into a guitar and drum groove reminiscent of Led Zeppelin's "Kashmir". Midway through the song, an introspective orchestral section gives way to gentle guitar and emotive vocals from Peter Nicholls. The track then returns to chaos, with an "unstructured" and chaotic instrumental section, before revisiting the initial instrumentation, now more robust, culminating in a guitar solo that is pure ecstasy.
"Ocean" took some time to win me over. It's a pastoral, bucolic song with a pure atmosphere, often shaped by Neil Durant's keyboard, heavily influenced by Tony Banks. It's a simple ballad that grows over time, featuring Nicholls' emotive vocals. "Until the End" closes the first CD in a grand manner. After a roughly three-minute ballad introduction, the song transforms, showcasing Paul Cook's creative and energetic drumming and Tim Esau's excellent bass lines. The whole band plays their parts well, and the track concludes with a melancholic and beautiful ending.
CD 2:
The second CD opens with "Knucklehead", which starts with a rhythmic section reminiscent of Indian sounds. The guitar shines both in the acoustic section that concludes the Indian theme and in the heavier passages. The rhythmic section also stands out, creating a piece that starts serenely and ends with contagious energy. "1312 Overture" is a humorous nod to Pyotr Tchaikovsky's "1812" piece. This short instrumental track highlights Neil Durant's creative keyboard work, which, while not complex, is beautiful and progressive.
"Constellations" is undoubtedly one of the album's highlights. With excellent percussion and a captivating mellotron, the band reaches a level of inspiration rarely seen in their career. Nicholls' vocals are at their most beautiful and emotive, driven by grandiose keyboards and robust bass lines. Michael Holmes, who had kept the guitar in the background until then, finally shines alongside the other musicians, creating a sound that feels instantly classic. With clear Genesis influences, IQ achieves a rarely seen musical pinnacle.
The album continues with the beautiful "Fall and Rise", a sublime ballad where Tim Esau's fretless bass stands out with wonderful lines, intertwined with Cook's sinuous drumming. Midway through the track, Holmes displays his skill on the acoustic guitar with a simple yet heartfelt solo that fits perfectly with Nicholls' vocals. Durant's keyboards are exceptional once again.
"Ten Million Demons" is another breathtaking moment. The track begins with a rich bass line reminiscent of Pink Floyd's "One of These Days", quickly joined by the other instruments. Durant's chord progressions are delightful, making the music grand. Listening to it with headphones and lights off is a transcendental experience. "Hardcore" closes the album with a dark, gothic sound reminiscent of Wagner, but within a progressive context. The mellotron is particularly mellifluous, injecting a somber charge into the music. Tim Esau's bass has a brief solo moment, laden with melancholic notes, and Holmes combines influences from Steve Hackett and Anthony Phillips to create a beautiful acoustic ending to the album.
Unlike many long-standing bands, IQ has released some of their best albums since the 2000s. The production, sound, and quality of the music – everything is impeccable. Long live a band that, after so much time, does not rest on its laurels but continually strives to surpass what has been done before. The Road of Bones is essential.
NOTA: 10/10
Tracks
Listing:
DISCO 1:
1.
From the Outside In (7:24)
2. The Road of Bones (8:32)
3. Without Walls (19:15)
4. Ocean (5:55)
5. Until the End (12:00)
DISCO 2:
1. Knucklehead (8:10)
2. 1312 Overture (4:17)
3. Constellations (12:24)
4. Fall and Rise (7:10)
5. Ten Million Demons (6:10)
6. Hardcore (10:52)
Ouça, "Without Walls"
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