Há quem veja os dois primeiros álbuns do Yes como obras de qualidade similar, mas eu percebo uma diferença significativa entre eles. Após um debut aceitável, embora pouco relevante para o cenário progressivo, a banda precisou se destacar com um trabalho de maior musicalidade para resistir às comparações com ícones como King Crimson. Em resposta a essa necessidade, o Yes incorporou uma orquestra em seu segundo álbum, Time and a Word, na tentativa de criar uma obra mais ambiciosa. Apesar de não representar um salto gigantesco em relação ao álbum de estreia, Time and a Word mostra um avanço considerável, embora ainda seja fraco se comparado a discos lançados no mesmo ano por outros gigantes do progressivo, como o homônimo de Emerson, Lake & Palmer ou Trespass do Genesis, ambos repletos de criatividade, complexidade e originalidade.
No geral, Time and a Word se revela um álbum interessante, mas desigual, apresentando momentos excelentes, outros medianos e alguns até fracos. A faixa de abertura, "No Opportunity Necessary, No Experience Needed", é um cover de Richie Havens, misturado com a trilha sonora do filme Da Terra Nascem os Homens de 1958, composta por Jerome Moross. Embora os arranjos sejam originais e fluam bem, a inclusão da trilha sonora acaba dando uma sensação datada à música, evocando imagens do ator Gregory Peck em um filme de faroeste, o que prejudica a experiência. Confesso que, no geral, é um começo pouco promissor para um álbum que oscila em qualidade.
Por outro lado, "Then" é uma faixa que eleva o nível do disco. Complexa, bem elaborada, com estruturas interessantes e mudanças radicais, a música se destaca pela doçura da voz de Jon Anderson, que soa menos aguda do que o habitual e pelos violinos que complementam perfeitamente os teclados de Tony Kaye. "Everydays", outro cover, desta vez do Buffalo Springfield, é uma excelente peça jazzística, com uma bateria muito boa de Bill Bruford e um solo de guitarra inspirado de Peter Banks. A orquestração também funciona bem, criando um agradável contraponto aos vocais de Anderson.
"Sweet Dreams" continua a boa sequência, com vocais agudos de Anderson, um baixo profundo, arranjos imaginativos nos teclados e uma bateria que confere uma energia rítmica quase marcial à música. Tony Kaye se destaca particularmente em "The Prophet", com um desempenho barroco e dramático nos teclados, liderando a banda em uma linha jazzística que, se tivesse sido mantida ao longo do álbum, talvez tivesse retardado ou mesmo evitado a substituição de Kaye por Rick Wakeman.
No entanto, Time and a Word também tem seus momentos menos inspirados. "Clear Days", por exemplo, é um interlúdio orquestral curto e entediante, que parece estar fora de lugar no álbum e não acrescenta muito à experiência geral. Em contrapartida, "Astral Traveler" é uma boa peça progressiva, onde os teclados barrocos se misturam com uma estrutura clássica de rock progressivo, e Peter Banks oferece algumas de suas melhores seções de guitarra, complementando perfeitamente a bateria de Bruford. O álbum encerra com a faixa-título, uma peça suave e complexa, onde os vocais de apoio finalmente se destacam, trazendo uma melancolia que ressoa com a grandeza futura da banda.
Apesar das qualidades de Time and a Word, nunca fui fã da inclusão de covers em álbuns de estúdio. Embora as versões aqui apresentadas sejam boas, elas acabam prejudicando a coesão do álbum. No entanto, este disco marca um ponto de transição, ecoando a grandeza que o Yes alcançaria em trabalhos futuros. Ainda que esteja longe de ser uma obra-prima ou um item essencial em uma coleção de rock progressivo, Time and a Word tem seus méritos. Se comparado com o álbum de estreia, ambos até podem receber uma avaliação similar, mas este aqui demonstra um potencial que vale mais a pena explorar.
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Overall, Time and a Word proves to be an interesting yet uneven album, offering excellent moments, some average, and a few even weak. The opening track, "No Opportunity Necessary, No Experience Needed" is a cover of Richie Havens, mixed with the 1958 film The Big Country soundtrack composed by Jerome Moross. Although the arrangements are original and flow well, the inclusion of the soundtrack gives the music a dated feel, evoking images of Gregory Peck in a western movie, which detracts from the experience. I must admit that, overall, it's an unpromising start for an album that oscillates in quality.
On the other hand, "Then" is a track that elevates the album's level. Complex, well-crafted, with interesting structures and radical changes, the music stands out for the sweetness of Jon Anderson's voice, which sounds less high-pitched than usual, and for the violins that perfectly complement Tony Kaye's keyboards. "Everydays" another cover, this time of Buffalo Springfield, is an excellent jazzy piece, with great drumming from Bill Bruford and an inspired guitar solo by Peter Banks. The orchestration also works well, creating a pleasant counterpoint to Anderson's vocals.
"Sweet Dreams" continues the good sequence, with Anderson's high-pitched vocals, deep bass, imaginative keyboard arrangements, and drumming that brings a near-martial rhythmic energy to the music. Tony Kaye particularly shines in "The Prophet" with a baroque and dramatic performance on the keyboards, leading the band in a jazzy line that, had it been maintained throughout the album, might have delayed or even avoided Kaye's replacement by Rick Wakeman.
However, Time and a Word also has its less inspired moments. "Clear Days", for example, is a short and tedious orchestral interlude that seems out of place on the album and adds little to the overall experience. In contrast, "Astral Traveler" is a good progressive piece, where baroque keyboards blend with a classic progressive rock structure, and Peter Banks delivers some of his best guitar sections, perfectly complementing Bruford's drumming. The album closes with the title track, a smooth and complex piece where the backing vocals finally stand out, bringing a melancholy that resonates with the band's future greatness.
Despite the qualities of Time and a Word, I've never been a fan of including covers on studio albums. While the versions presented here are good, they ultimately detract from the album's cohesion. Nevertheless, this album marks a turning point, echoing the greatness that Yes would achieve in future works. Although it's far from being a masterpiece or an essential item in a progressive rock collection, Time and a Word has its merits. When compared to the debut album, both may receive a similar rating, but this one demonstrates a potential that's more worth exploring.
NOTA: 6/10
Tracks
Listing:
1.
No Opportunity Necessary, No Experience Needed (4:47)
2. Then (5:42)
3. Everydays (6:05)
4. Sweet Dreams (3:48)
5. The Prophet (6:32)
6. Clear Days (2:04)
7. Astral Traveller (5:50)
8. Time and a Word (4:31)
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