Solaris - Marsbéli Krónikák (The Martian Chronicles) (1984)

 

Marsbéli Krónikák é um álbum que merece atenção especial dentro do rock progressivo dos anos 80. Apesar da década ser frequentemente vista pelos puristas como menos produtiva para o gênero, Solaris desafia essa visão com um trabalho incrivelmente sólido e criativo. A banda, formada em Budapeste, Hungria, no início dos anos 80, escolheu seu nome inspirado pelo romance de ficção científica Solaris, de Stanisław Lem, uma escolha que reflete o espírito explorador e experimental do grupo.

Um dos aspectos mais marcantes da música do Solaris é sua versatilidade. Enquanto muitas bandas tendem a seguir uma fórmula previsível, o grupo húngaro flui entre diversos estilos musicais com uma coerência impressionante. Eles se mantêm ancorados no rock progressivo sinfônico, mas integram elementos de folk, música eletrônica e espacial, além de toques psicodélicos, criando uma fusão sonora única.

Seu álbum de estreia, Marsbéli Krónikák (ou Crônicas Marcianas), é uma peça conceitual baseada no livro homônimo de Ray Bradbury. Assim como o livro, o álbum explora a chegada do homem a Marte e a subsequente colonização do planeta, temas que a banda traduz em uma jornada musical profunda. O álbum deve ser apreciado como um todo, pois sua continuidade e atmosfera imersiva se perdem se ouvido de maneira fragmentada.

Os músicos desempenham papéis cruciais na construção dessa experiência sonora. Attila Kollár, com sua maestria na flauta e nos sintetizadores, e Róbert Erdész, nos teclados e piano, formam o coração criativo do grupo. Suas contribuições são complementadas pelas guitarras impressionantes de István Cziglán, que adicionam uma profundidade roqueira ao som etéreo e atmosférico da banda.

Embora o álbum tenha suas raízes no rock progressivo sinfônico, ele não se limita a isso. O disco é um exemplo de como a música progressiva pode transcender os limites de gênero, criando algo que é ao mesmo tempo inovador e acessível. Solaris é uma banda que consegue manter uma coesão impressionante em meio à variedade de estilos, o que torna o álbum ainda mais notável.

Ouvir Marsbéli Krónikák é uma experiência enriquecedora, e a banda nos lembra que a criatividade no rock progressivo continuou a prosperar mesmo em uma época em que muitos acreditavam que o gênero havia perdido seu brilho. Oferecendo um álbum cheio de sutilezas e complexidade, a banda cativa tanto os fãs de música sinfônica quanto aqueles que buscam uma viagem sonora única.

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Marsbéli Krónikák is an album that deserves special attention within 1980s progressive rock. Despite the decade often being seen by purists as less productive for the genre, Solaris challenges this view with an incredibly solid and creative work. The band, formed in Budapest, Hungary, in the early '80s, chose its name inspired by the science fiction novel Solaris by Stanisław Lem, a choice that reflects the group's exploratory and experimental spirit.

One of the most striking aspects of Solaris' music is its versatility. While many bands tend to follow a predictable formula, the Hungarian group flows between various musical styles with impressive coherence. They remain rooted in symphonic progressive rock but integrate elements of folk, electronic, and space music, along with psychedelic touches, creating a unique sonic fusion.

Their debut album, Marsbéli Krónikák (or The Martian Chronicles), is a concept piece based on the homonymous book by Ray Bradbury. Like the book, the album explores humanity’s arrival on Mars and the subsequent colonization of the planet, themes that the band translates into a profound musical journey. The album should be appreciated as a whole, as its continuity and immersive atmosphere are lost if listened to in fragments.

The musicians play crucial roles in building this sonic experience. Attila Kollár, with his mastery of the flute and synthesizers, and Róbert Erdész, on keyboards and piano, form the creative heart of the group. Their contributions are complemented by István Cziglán’s impressive guitars, which add a rock depth to the band’s ethereal and atmospheric sound.

Though the album has its roots in symphonic progressive rock, it is not limited to that. The record is an example of how progressive music can transcend genre boundaries, creating something that is both innovative and accessible. Solaris is a band that manages to maintain impressive cohesion amid a variety of styles, which makes the album even more remarkable.

Listening to Marsbéli Krónikák is an enriching experience, and the band reminds us that creativity in progressive rock continued to thrive even in a time when many believed the genre had lost its shine. Offering an album full of subtleties and complexity, the band captivates both fans of symphonic music and those seeking a unique sonic journey.

NOTA: 9/10

Songs / Tracks Listing

1. Marsbéli krónikák I. (The Martian Chronicles I.) (3:34)
2. Marsbéli krónikák II.-III. (The Martian Chronicles II.-III.) (6:32)
3. Marsbéli krónikák IV.-VI. (The Martian Chronicles IV.-VI.) (13:15)
4. M'ars poetica (6:39)
5. Ha felszáll a köd (If the Fog Ascends) (3:58)
6. Apokalipszis (Apocalypse) (3:44)
7. E-moll elõjáték (Prelude in E Minor) (0:29)
8. Legyõzhetetlen (Undefeatable) (2:46)
9. Solaris (4:53)

Ouça, "Marsbéli krónikák IV.-VI."



Peter Hammill - Over (1977)

Over, de Peter Hammill, é um álbum que carrega uma grande densidade emocional. Menos conhecido no Brasil, mas imensamente influente no cenário do rock progressivo, Van der Graaf Generator deve muito de sua singularidade à mente brilhante de Hammill. No entanto, sua carreira solo é onde sua criatividade realmente floresce de maneira mais íntima e pessoal. Seus primeiros discos solos compartilham da mesma aura de sua banda, mas Over se destaca por uma sonoridade mais singular, menos progressiva e mais focada no rock como um veículo emocional. Mesmo assim, Hammill desafia os limites dos estilos musicais, introduzindo elementos folk e clássicos em arranjos que oscilam entre o acústico minimalista e o uso completo de instrumentos, sempre com uma sobriedade marcante.

O álbum começa com "Crying Wolf", uma faixa carregada de raiva, onde Hammill explora vocais intensos. A letra, porém, revela que essa raiva é interna, dirigida a si mesmo. Musicalmente, a faixa se aproxima do estilo de Nadir's Big Chance, com camadas densas de instrumentos. O solo de guitarra, sempre focado na emoção, é um reflexo da natureza de Hammill, que não busca impressionar, mas sim comunicar o humor da canção. "Autumn", por sua vez, é uma faixa que reflete sobre a sensação de inutilidade que alguns pais sentem quando seus filhos crescem e seguem seus próprios caminhos. Aqui, Hammill entrega uma interpretação vocal profundamente emocional, complementada por uma orquestração belíssima. No entanto, apesar de sua beleza, a faixa parece ligeiramente deslocada dentro do contexto do álbum.

"Time Heals" é a peça mais progressiva do disco. Composta de duas partes que se unem de forma orgânica, a canção tem uma estrutura quase cinematográfica. Liricamente, é o coração do álbum, explorando o processo de superação de um relacionamento que chegou ao fim. Ainda que esse tema possa parecer clichê, Hammill o aborda com uma sinceridade e profundidade emocional que transformam o comum em algo diferenciado. Os arranjos progressivos incluem cravos e moogs, adicionando um toque medieval, mas é o piano que realmente brilha, sustentando a essência da faixa. "Alice (Letting Go)" é uma das canções mais simples do álbum, com Hammill acompanhado apenas por seu violão, delicadamente tocado e produzido. A franqueza e honestidade de sua escrita fazem dessa música um momento muito tocante.

"(This Side Of) The Looking Glass" eleva a carga emocional, com a orquestra reforçando o tom melancólico. A introdução cria uma atmosfera de saudade e anseio pela presença de um ente querido. Hammill, com sua habilidade vocal inegável, canta em tons altos, o que pode ser interpretado por alguns como melodramático, mas para os que apreciam esse lado emocional, a faixa é excelente. "Betrayed" traz uma veia mais agressiva, com um violino feroz e um violão ácido, enquanto Hammill entrega letras cínicas e uma interpretação mordaz. Não é uma faixa para dias felizes, mas sua condução impecável a torna um destaque sombrio no álbum.

"(On Tuesdays She Used to Do) Yoga" carrega uma atmosfera densa e depressiva. A simplicidade da instrumentação acústica somada aos vocais quebrantados de Hammill, cria um retrato devastador de desespero e solidão. A faixa termina com uma intensidade emocional difícil de ignorar. Finalmente, "Lost and Found" encerra o disco com um toque de otimismo. Hammill reflete sobre como os tempos ruins podem rapidamente se transformar em algo positivo. O vocal inicialmente suave vai ganhando uma intensidade dramática à medida que ele relembra seu último encontro com Alice. A faixa conecta-se à "La Rossa", do disco Still Life do Van der Graaf Generator, e a compreensão completa de "Lost and Found" ganha profundidade quando ouvimos ambas. Guitarras distorcidas e psicodélicas criam um caos que eventualmente se dissolve em esperança, com uma melodia acelerada e alegre fechando o álbum muito bem.

Over pode não satisfazer quem busca o rock progressivo puro, mas, para aqueles dispostos a abraçar a jornada emocional proposta por Peter Hammill, é um disco transformador. Intenso, perturbador e profundamente comovente, Over é uma obra que toca o coração de quem ouve, e suas letras, tão pessoais e sinceras, ecoam nas experiências humanas mais íntimas. Cada vez que ouço este disco, sinto-me envolvido por seu abraço poderoso.

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Over, by Peter Hammill, is an album laden with deep emotional intensity. Though lesser-known in Brazil, Hammill’s immense influence on the progressive rock scene is undeniable. Van der Graaf Generator owes much of its uniqueness to his brilliant mind. However, his solo career is where his creativity truly flourishes in a more intimate and personal way. While his earlier solo records share a similar aura with his band, Over stands out for its more singular sound, less progressive and more focused on rock as an emotional vehicle. Nonetheless, Hammill continues to push the boundaries of musical styles, introducing folk and classical elements in arrangements that oscillate between minimalist acoustics and full instrumentation, always marked by a sober tone.

The album opens with “Crying Wolf,” a track filled with anger, where Hammill delivers intense vocals. However, the lyrics reveal that this anger is internal, directed at himself. Musically, the track echoes the style of Nadir's Big Chance, with dense layers of instruments. The guitar solo, always emotionally focused, reflects Hammill's nature, aiming not to impress but to communicate the mood of the song. “Autumn,” on the other hand, reflects on the feeling of uselessness that some parents experience when their children grow up and follow their own paths. Here, Hammill offers a deeply emotional vocal performance, complemented by beautiful orchestration. However, despite its beauty, the track feels slightly out of place within the album's context.

“Time Heals” is the album’s most progressive piece. Composed of two organically fused parts, the song has a nearly cinematic structure. Lyrically, it serves as the heart of the album, exploring the process of moving on after a relationship ends. While this theme may seem cliché, Hammill approaches it with such sincerity and emotional depth that it transforms the ordinary into something extraordinary. The progressive arrangements include harpsichords and Moogs, adding a medieval touch, but it’s the piano that truly shines, underpinning the essence of the track. “Alice (Letting Go)” is one of the simplest songs on the album, with Hammill accompanied only by his delicately played and produced guitar. The frankness and honesty of his writing make this a deeply touching moment.

“(This Side of) The Looking Glass” heightens the emotional weight, with the orchestra reinforcing its melancholic tone. The introduction creates an atmosphere of longing and yearning for the presence of a loved one. Hammill, with his undeniable vocal skill, sings in high tones, which may be seen as melodramatic by some, but for those who appreciate this emotional side, the track is outstanding. “Betrayed” brings a more aggressive tone, with a fierce violin and biting guitar, while Hammill delivers cynical lyrics and a biting performance. It’s not a track for happy days, but its impeccable execution makes it a dark highlight of the album.

“(On Tuesdays She Used to Do) Yoga” carries a dense and depressive atmosphere. The simplicity of the acoustic instrumentation combined with Hammill’s broken vocals creates a devastating portrait of despair and loneliness. The track ends with an emotional intensity that is hard to ignore. Finally, “Lost and Found” closes the album with a touch of optimism. Hammill reflects on how bad times can quickly turn into something positive. The initially soft vocals build dramatic intensity as he recalls his last meeting with Alice. The track connects to “La Rossa” from Van der Graaf Generator’s Still Life, and the full understanding of “Lost and Found” deepens when listening to both. Distorted and psychedelic guitars create chaos that eventually dissolves into hope, with an upbeat and joyful melody wrapping the album up beautifully.

Over may not satisfy those seeking pure progressive rock, but for those willing to embrace Peter Hammill’s emotional journey, it is a transformative album. Intense, unsettling, and deeply moving, Over is a work that touches the hearts of its listeners, with its personal and sincere lyrics resonating with the most intimate human experiences. Every time I listen to this album, I feel enveloped by its powerful embrace.

 NOTA: 8/10

Tracks Listing

1. Crying Wolf (5:12)
2. Autumn (4:13)
3. Time Heals (8:42)
4. Alice (Letting Go) (5:33)
5. (This Side Of) The Looking Glass (6:57)
6. Betrayed (4:44)
7. (On Tuesdays She Used to Do) Yoga (3:55)
8. Lost and Found (7:11)

Ouça, "Time Heals"



Rush - A Farewell To Kings (1977)

 

A Farewell to Kings é sem dúvida um marco na trajetória do Rush, consolidando o trio canadense como uma das bandas mais inovadoras e ousadas do rock progressivo. Esse álbum é uma verdadeira joia que eleva o som da banda a novos patamares, tanto na complexidade musical, quanto na qualidade lírica, e facilmente se destaca como o favorito de muitos, incluindo o meu, por diversos motivos pessoais e artísticos.

O Rush vinha incorporando elementos progressivos cada vez mais intensamente em seus álbuns anteriores, mas foi em A Farewell to Kings que eles atingiram um ápice criativo. A combinação de guitarras acústicas e elétricas, sintetizadores e passagens sinfônicas, junto a uma dinâmica musical cheia de mudanças climáticas e acelerações, mostra o quão refinado seu som havia se tornado. Neil Peart, que já havia se mostrado um letrista brilhante, conseguiu se superar, criando narrativas profundas e poéticas que complementam perfeitamente a grandiosidade das composições.

A faixa-título, "A Farewell to Kings", abre o álbum de maneira magistral. O trabalho de violão é belíssimo e junto aos sintetizadores e vibrafone cria uma atmosfera mágica. A música logo ganha força e se transforma em uma peça mais rock, onde cada músico brilha intensamente. A bateria sincopada de Peart e as linhas de baixo hipnotizantes de Geddy Lee são acompanhadas por um trabalho de guitarra criativo e envolvente de Alex Lifeson. O solo de guitarra de Lifeson nessa faixa é um destaque à parte, marcando o início de uma jornada sonora espetacular. Um começo impactante para um álbum que só melhora à medida que avança.

"Xanadu" é um verdadeiro épico, uma das músicas mais queridas pelos fãs da banda, e não é difícil entender por quê. A introdução atmosférica com sintetizadores, congas, triângulos e sinos cria uma paisagem sonora que transporta o ouvinte para um mundo distante. Conforme a música vai ganhando corpo, a guitarra e a bateria se destacam, levando o ouvinte por uma longa jornada instrumental antes dos vocais de Geddy Lee surgirem. Os arranjos são complexos, mas fluem com naturalidade e o solo de sintetizador enriquece ainda mais as texturas da música. É impossível não se deixar envolver pela música, que se destaca como um dos pontos altos da carreira da banda.

"Closer to the Heart" é um dos momentos mais acessíveis do álbum, uma canção de beleza simples e tocante. Começando com violão e vibrafone, a música se desenvolve de maneira doce, mesmo em seus momentos mais energéticos. É uma faixa curta, mas eficaz, provando que a simplicidade, quando bem executada, pode ser tão impactante quanto as composições mais complexas. "Cinderella Man", embora pareça simples à primeira audição, esconde uma profundidade inesperada. As letras falam de um homem injustiçado que busca sua redenção, enquanto que a música reflete essa jornada com mudanças sutis e um solo de guitarra com wah-wah que dá um toque especial à faixa. É um exemplo perfeito de como o Rush conseguia mesclar rock direto com uma narrativa instigante e significativa.

"Madrigal" é uma balada delicada e emotiva, onde os sintetizadores e guitarras criam uma atmosfera relaxante e cheia de sentimento. Geddy Lee, muitas vezes criticado por seu timbre vocal agudo, aqui entrega uma interpretação sincera e convincente, fazendo com que o ouvinte se conecte à sua narrativa. A canção tem um tom quase fantasioso, com uma suavidade que a torna um momento de respiro antes do épico final.

"Cygnus X-1", a última faixa, leva o ouvinte a uma verdadeira odisseia espacial. A história de um astronauta que se lança em um buraco negro em busca de seu segredo é contada de maneira grandiosa, com uma introdução sinistra marcada pelo baixo de Lee. A construção dessa faixa é brilhante, com cada membro da banda trazendo sua melhor performance. A mistura de sons atmosféricos com riffs poderosos cria uma sensação de imersão total. A progressão da música é dinâmica, alternando entre momentos de tensão e calmaria, até culminar em uma explosão sonora que simula a travessia do personagem pelo desconhecido. A faixa é uma viagem, tanto no sentido musical quanto narrativo, deixando o ouvinte sem palavras ao seu término.

No geral, A Farewell to Kings é uma obra-prima incontestável. Cada uma das seis faixas traz algo único, e a banda, em seu auge técnico e criativo, mostra que é possível misturar o virtuosismo do rock progressivo com acessibilidade e emoção. Um álbum sublime que continua a encantar gerações de ouvintes e a manter seu status de clássico absoluto no catálogo do Rush.

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A Farewell to Kings is undoubtedly a milestone in Rush's career, solidifying the Canadian trio as one of the most innovative and daring bands in progressive rock. This album is a true gem that elevates the band’s sound to new heights, both in musical complexity and lyrical quality, and it easily stands out as a favorite for many, including myself, for various personal and artistic reasons.

Rush had been incorporating progressive elements more intensely in their previous albums, but it was with A Farewell to Kings that they reached a creative peak. The combination of acoustic and electric guitars, synthesizers, and symphonic passages, along with dynamic musical shifts full of climatic changes and accelerations, shows just how refined their sound had become. Neil Peart, who had already proven himself as a brilliant lyricist, managed to surpass himself, crafting deep and poetic narratives that perfectly complement the grandeur of the compositions.

The title track, “A Farewell to Kings,” opens the album in a masterful way. The acoustic guitar work is beautiful, and alongside the synthesizers and vibraphone, it creates a magical atmosphere. The music soon gains strength and transforms into a more rock-driven piece, where each musician shines intensely. Peart's syncopated drumming and Geddy Lee's hypnotic bass lines are accompanied by Alex Lifeson's creative and engaging guitar work. Lifeson’s guitar solo in this track is a highlight in itself, marking the beginning of a spectacular sonic journey. A powerful start to an album that only gets better as it progresses.

“Xanadu” is a true epic, one of the band’s most beloved songs, and it's easy to see why. The atmospheric introduction with synthesizers, congas, triangles, and bells creates a soundscape that transports the listener to a distant world. As the music builds, the guitar and drums stand out, taking the listener on a long instrumental journey before Geddy Lee’s vocals appear. The arrangements are complex but flow naturally, and the synthesizer solo further enriches the textures of the song. It’s impossible not to be swept away by the music, which stands as one of the high points of the band's career.

“Closer to the Heart” is one of the album's most accessible moments, a song of simple and touching beauty. Starting with acoustic guitar and vibraphone, the song develops sweetly, even in its more energetic moments. It’s a short but effective track, proving that simplicity, when well-executed, can be just as impactful as more complex compositions. “Cinderella Man,” though it may seem simple at first listen, hides unexpected depth. The lyrics speak of a wronged man seeking his redemption, while the music reflects this journey with subtle changes and a wah-wah guitar solo that gives the track a special touch. It’s a perfect example of how Rush could merge straightforward rock with an intriguing and meaningful narrative.

“Madrigal” is a delicate and emotional ballad, where synthesizers and guitars create a relaxing and heartfelt atmosphere. Geddy Lee, often criticized for his high-pitched vocal tone, delivers a sincere and convincing performance here, making the listener connect with his narrative. The song has an almost fantastical tone, with a softness that offers a moment of respite before the epic final track.

“Cygnus X-1,” the closing track, takes the listener on a true space odyssey. The story of an astronaut who ventures into a black hole in search of its secret is told in a grand manner, with a sinister introduction marked by Lee’s bass. The construction of this track is brilliant, with each band member delivering their best performance. The mix of atmospheric sounds with powerful riffs creates a feeling of total immersion. The progression of the song is dynamic, alternating between moments of tension and calm, eventually culminating in a sonic explosion that simulates the character’s journey through the unknown. The track is a voyage, both musically and narratively, leaving the listener speechless by its conclusion.

Overall, A Farewell to Kings is an undeniable masterpiece. Each of the six tracks offers something unique, and the band, at their technical and creative peak, shows that it’s possible to blend the virtuosity of progressive rock with accessibility and emotion. A sublime album that continues to captivate generations of listeners and maintain its status as an absolute classic in Rush’s catalog.

NOTA: 10/10

Tracks Listing

1. A Farewell to Kings (5:49)
2. Xanadu (11:04)
3. Closer to the Heart (2:51)
4. Cinderella Man (4:19)
5. Madrigal (2:33)
6. Cygnus X-1 (10:21)

Ouça, "Xanadu"




Marco Antônio Araújo - Lucas (1984)

 

Marco Antônio Araújo foi sem dúvidas um dos maiores e mais subestimados gênios da música instrumental brasileira. Seu álbum Lucas é um verdadeiro tesouro do rock progressivo nacional, uma mescla impecável de progressivo sinfônico com elementos de folk, onde cada faixa traz uma profundidade emocional e musical raramente vista em outros trabalhos do gênero no Brasil.

O disco, composto por apenas quatro faixas, já se destaca pelo título em homenagem a seu filho, Lucas. E, de fato, cada uma das canções carrega um sentido muito pessoal e íntimo, como se Araújo estivesse transmitindo seus sentimentos e reflexões mais profundos através das melodias cuidadosamente construídas.

A abertura, “Lembranças”, é um épico que se desenvolve de forma majestosa. Os pratos introduzem o ouvinte a um universo sonoro repleto de camadas atmosféricas, que vão ganhando vida com a inclusão de flauta, piano e violino. A flauta, em especial, dá o tom de toda a peça, com sua melodia serena e envolvente. A guitarra, embora remeta a Steve Hackett, possui uma identidade própria, com influências clássicas evidentes, mas mantendo a originalidade de Marco Antônio Araújo. O retorno à sonoridade inicial no fim da faixa dá a sensação de completude e ciclicidade, como uma memória sendo revisitada e encerrada com paz. “Caipira” traz o cheiro do campo e a leveza da natureza para a música. O título já sugere essa conexão com o interior, e a combinação de piano, baixo, violão e flauta reforça essa impressão. A faixa é marcada por um dinamismo maior que o da abertura, com uma bateria mais ativa e uma construção que evoca a simplicidade e a beleza da vida rural. É um verdadeiro passeio pelas paisagens bucólicas com a sensibilidade típica de Araújo.

Na faixa-título, “Lucas”, a homenagem ao filho ganha contornos mais melancólicos e introspectivos. Há uma certa escuridão na atmosfera da música, com notas que parecem carregar uma tristeza silenciosa, talvez um reflexo dos sentimentos de um pai que contempla a complexidade da vida. O violão, sobre um fundo de sintetizador, soa como um lamento suave e profundo. Apesar de sua beleza indiscutível, essa faixa surpreende pela sua atmosfera mais sombria, oferecendo uma experiência emotiva e reflexiva ao ouvinte. O encerramento com “Para Jimmy Page” é uma homenagem clara ao lendário guitarrista do Led Zeppelin, mas com a marca inconfundível de Marco Antônio Araújo. Aqui, ele utiliza apenas o violão, em uma peça que lembra os momentos mais folk de Page, mas com a classe e a delicadeza de quem entende profundamente a música. A influência clássica de Steve Howe também pode ser percebida, mas a faixa é, acima de tudo, uma demonstração da habilidade de Araújo como violonista. Simples, mas tocante, é um final perfeito para um álbum que, apesar de curto, é profundo e impactante.

No fim das contas, Lucas é um álbum de rara beleza, que toca o coração e envolve o ouvinte em uma experiência sensorial única. As melodias suaves e emocionantes, o uso refinado dos instrumentos e a sensibilidade com que cada nota é tocada fazem deste disco uma obra-prima que merece ser mais reconhecida. Marco Antônio Araújo foi um mestre da melodia, e quem ainda não teve o privilégio de ouvir Lucas está perdendo uma das maiores preciosidades musicais que o Brasil já produziu.

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Marco Antônio Araújo was undoubtedly one of the greatest and most underrated geniuses of Brazilian instrumental music. His album Lucas is a true treasure of Brazilian progressive rock, an impeccable blend of symphonic progressive rock with folk elements, where each track brings an emotional and musical depth rarely seen in other works of the genre in Brazil.

The album, consisting of only four tracks, stands out immediately with its title, a tribute to his son, Lucas. And indeed, each of the songs carries a very personal and intimate meaning, as if Araújo were conveying his deepest feelings and reflections through the carefully constructed melodies.

The opening track, “Lembranças,” is an epic that unfolds majestically. The cymbals introduce the listener to a sonic universe full of atmospheric layers, which come to life with the inclusion of flute, piano, and violin. The flute, in particular, sets the tone for the entire piece, with its serene and enveloping melody. The guitar, though reminiscent of Steve Hackett, has its own identity, with evident classical influences while maintaining Marco Antônio Araújo’s originality. The return to the initial sound at the end of the track gives a sense of completeness and cyclicality, like a memory being revisited and peacefully closed. “Caipira” brings the scent of the countryside and the lightness of nature into the music. The title already suggests this connection to rural life, and the combination of piano, bass, acoustic guitar, and flute reinforces this impression. The track is marked by greater dynamism than the opener, with more active drumming and a composition that evokes the simplicity and beauty of rural life. It’s truly a stroll through bucolic landscapes with Araújo’s typical sensitivity.

In the title track, “Lucas,” the tribute to his son takes on more melancholic and introspective tones. There is a certain darkness in the atmosphere of the music, with notes that seem to carry a silent sadness, perhaps reflecting the feelings of a father contemplating the complexity of life. The acoustic guitar, against a backdrop of synthesizer, sounds like a soft and profound lament. Despite its undeniable beauty, this track surprises with its darker atmosphere, offering the listener an emotional and reflective experience. The album closes with “Para Jimmy Page,” a clear tribute to the legendary Led Zeppelin guitarist, but with Marco Antônio Araújo’s unmistakable touch. Here, he uses only the acoustic guitar in a piece that echoes Page’s more folk moments but with the class and delicacy of someone who deeply understands music. The classical influence of Steve Howe can also be felt, but the track is, above all, a demonstration of Araújo’s skill as a guitarist. Simple yet touching, it’s a perfect ending to an album that, although short, is deep and impactful.

Ultimately, Lucas is an album of rare beauty, touching the heart and enveloping the listener in a unique sensory experience. The gentle and moving melodies, the refined use of instruments, and the sensitivity with which each note is played make this record a masterpiece that deserves greater recognition. Marco Antônio Araújo was a master of melody, and anyone who has not yet had the privilege of hearing Lucas is missing out on one of the greatest musical gems Brazil has ever produced.

NOTA: 10/10

Tracks Listing

1. Lembranças (16:35)
2. Caipira (6:22)
3. Lucas (4:22)
4. Para Jimmy Page (5:17
)

Ouça, "Lucas"



Magma - Kobaïa (1970)

 

Se você está começando a explorar o universo do Zeuhl, talvez este não seja o ponto de partida ideal. O disco de estreia do Magma não entrega exatamente o que se espera de um subgênero conhecido por sua grandiosidade, espiritualidade densa e combinações musicais quase sobrenaturais. No entanto, isso não significa que o álbum seja desprovido de valor — pelo contrário, ele é fascinante à sua maneira, carregando em si as sementes do que a banda viria a se tornar, ainda que distante das características que definiriam o Zeuhl mais tarde. Mesmo que não seja um reflexo imediato do subgênero, Kobaïa apresenta uma série de ideias promissoras e experimentalismo que merecem ser apreciados.

A influência do jazz permeia o álbum de forma inegável, mas há algo mais que torna este registro único em relação ao que o Magma viria a ser no futuro. Aqui, a voz é tratada como mais um instrumento, sem a exuberância dos corais e citações misteriosas que seriam tão emblemáticas nas obras posteriores. A maior parte do tempo, o ouvinte é envolvido por um canto que não pretende narrar ou poetizar, mas sim mergulhar na musicalidade pura, o que difere drasticamente dos épicos enigmáticos que definiriam a banda posteriormente.

Outro ponto interessante é a estrutura episódica que predomina ao longo do disco, como se cada membro da banda estivesse experimentando com suas próprias ideias, sem uma direção única a ser seguida. As composições apresentam mudanças frequentes e abruptas, criando uma sensação de fragmentação que, embora intrigante, contrasta com a coesão estilística mais sólida que a banda alcançaria nos anos seguintes. Este não é de fato um álbum Zeuhl no sentido tradicional. Ele parece flertar com um jazz filtrado por lentes alienígenas, quase como uma versão extraterrestre do gênero. No entanto, essa falta de consistência estilística não o impede de ser uma experiência auditiva interessantissima.


DISCO 1:

O álbum se abre com uma peça homônima que logo exibe sua percussão jazzística e uma linha de baixo pulsante que se funde a uma sonoridade latina, algo que poderia até ser comparado ao trabalho de Santana. A combinação do teclado e dos instrumentos de sopro acrescenta uma sensação de fusion, mas é nos sopros que o experimentalismo se destaca, revelando uma banda ainda em busca de sua identidade. Mais adiante, o som começa a flertar com a atmosfera sombria e misteriosa que se tornaria sua marca registrada, estabelecendo um vínculo com o futuro sonoro da banda.

“Aina” segue uma linha ainda mais jazzística, com toques latinos e uma percussão distinta. Entretanto, a faixa apresenta um certo desafio: seu primeiro desvio instrumental se aproxima do jazz mainstream, o que pode soar menos inovador para quem busca o inusitado. Não é ruim, mas talvez falte aquele toque especial que eleva uma música ao status de memorável. “Malaria” é uma jornada sonora verdadeiramente aventureira, marcada por colisões instrumentais que se repetem até se transformarem em algo mais denso e intrigante, com flautas dissonantes e arranjos cacofônicos. É uma música que vai além das expectativas, oferecendo momentos fascinantes que desafiam a lógica convencional da composição.

“Sohïa” mantém o mistério e a atmosfera enigmática, com uma progressão que vai se tornando cada vez mais mística e envolvente. As mudanças bruscas de direção criam uma experiência sonora que parece explorar novas dimensões, enquanto “Sckxyss”, embora curta, entrega um drama profundo com vocais impressionantes e estruturas que, embora dissonantes, mantêm uma coerência peculiar e intrigante. “Auraë” encerra o primeiro disco com uma carga mística e aterrorizante. A introdução com piano sombrio logo dá lugar a uma flauta hipnotizante, cuja melodia vai se tornando mais rica à medida que os instrumentos se juntam. Quando os vocais característicos de Christian Vander entram em cena, a música atinge seu ápice, oferecendo uma ótima conclusão para o primeiro ato do álbum.


DISCO 2:

O segundo disco se inicia com “Thaud Zaïa”, uma faixa guiada por flautas suaves que logo se transformam em algo mais desconcertante e dissonante. A ousadia de uma banda que em 1970 já desafiava as convenções musicais com tamanha inovação é admirável. Em “Naü Ektila”, o jazz rock com improvisos e baterias marcantes se funde a uma atmosfera medieval, criando uma peça surpreendente. Aqui, o caos assume formas radicais, com guitarras hard rock se misturando à base jazzística em uma síntese de pura loucura criativa.

“Stöah” aprofunda ainda mais o experimentalismo, com uma introdução vocal peculiar que evoca a sensação de um discurso histórico. O piano vanguardista e os vocais estranhos criam uma tensão crescente, enquanto a flauta e o piano entregam momentos de beleza antes que a música acelere novamente em uma maré de estranheza e brilho. Por fim, “Mûh” continua a tradição de mudanças radicais e inesperadas, abrindo com uma passagem celestial de piano que logo é interrompida por uma melodia alegre de jazz latino. O interlúdio neoclássico que se segue é apenas mais um dos muitos desvios criativos desta faixa, tornando-a difícil de descrever sem cair no caos descritivo.

Apesar de estar um pouco à margem dos padrões que o Magma estabeleceria mais tarde, este disco é uma das criações mais inovadoras e progressivas de sua época. É uma obra que desafia o ouvinte a se entregar à sua complexidade, e embora seja difícil de assimilar de imediato, oferece uma recompensa gratificante para aqueles dispostos a explorar seus meandros. Se você deseja compreender o rock progressivo em toda a sua amplitude, este álbum é essencial para sua coleção.

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If you are just beginning to explore the world of Zeuhl, this may not be the ideal starting point. Magma's debut album doesn't exactly deliver what one might expect from a subgenre known for its grandiosity, dense spirituality, and near-supernatural musical combinations. However, this doesn’t mean the album lacks value — on the contrary, it is fascinating in its own way, carrying the seeds of what the band would eventually become, even though it’s far from the characteristics that would define Zeuhl later on. While not an immediate reflection of the subgenre, Kobaïa introduces a series of promising ideas and experimentalism that deserve to be appreciated.

Jazz influences permeate the album undeniably, but there’s something else that makes this record unique compared to what Magma would become in the future. Here, the voice is treated as just another instrument, without the grandeur of the chorales and mysterious citations that would become so emblematic in later works. For most of the time, the listener is enveloped by singing that doesn't aim to narrate or poetize, but rather to dive into pure musicality, which differs drastically from the enigmatic epics that would later define the band.

Another interesting point is the episodic structure that predominates throughout the album, as if each band member is experimenting with their own ideas, without a singular direction to follow. The compositions present frequent and abrupt changes, creating a sense of fragmentation that, while intriguing, contrasts with the more solid stylistic cohesion the band would achieve in the following years. This is not a Zeuhl album in the traditional sense. It seems to flirt with jazz filtered through alien lenses, almost like an extraterrestrial version of the genre. However, this lack of stylistic consistency doesn’t prevent it from being a fascinating auditory experience.


DISCO 1:

The album opens with a self-titled track that immediately showcases its jazz-infused percussion and a pulsating bassline fused with a Latin sound, something that could even be compared to Santana’s work. The combination of keyboards and wind instruments adds a fusion feeling, but it’s in the wind section where the experimentalism stands out, revealing a band still searching for its identity. Later on, the sound begins to flirt with the dark and mysterious atmosphere that would become their trademark, establishing a link with the band's future sound.

“Aina” follows an even more jazz-oriented line, with Latin touches and distinct percussion. However, the track presents a certain challenge: its first instrumental detour approaches mainstream jazz, which may sound less innovative for those seeking the unusual. It’s not bad, but perhaps lacks that special touch that elevates a song to a memorable status. “Malaria” is a truly adventurous sonic journey, marked by instrumental collisions that repeat until they transform into something denser and more intriguing, with dissonant flutes and cacophonous arrangements. It’s a track that goes beyond expectations, offering fascinating moments that defy conventional compositional logic.

“Sohïa” maintains the mystery and enigmatic atmosphere, with a progression that becomes increasingly mystical and immersive. The sudden changes in direction create a sound experience that seems to explore new dimensions, while “Sckxyss,” though short, delivers deep drama with impressive vocals and structures that, while dissonant, maintain a peculiar and intriguing coherence. “Auraë” closes the first disc with a mystical and terrifying charge. The dark piano introduction soon gives way to a hypnotic flute, whose melody becomes richer as more instruments join in. When Christian Vander's characteristic vocals enter, the music reaches its peak, offering a great conclusion to the album's first act.


DISCO 2:

The second disc opens with “Thaud Zaïa,” a track guided by soft flutes that soon transform into something more unsettling and dissonant. The boldness of a band that, in 1970, was already challenging musical conventions with such innovation is admirable. In “Naü Ektila,” jazz rock with improvisations and striking drums merges with a medieval atmosphere, creating a surprising piece. Here, chaos takes on radical forms, with hard rock guitars mixing with a jazz base in a synthesis of pure creative madness.

“Stöah” delves even further into experimentalism, with a peculiar vocal introduction evoking the sensation of a historical speech. Avant-garde piano and strange vocals create a growing tension, while the flute and piano deliver moments of beauty before the music picks up again in a tide of strangeness and brilliance. Finally, “Mûh” continues the tradition of radical and unexpected changes, opening with a celestial piano passage soon interrupted by a cheerful Latin jazz melody. The neoclassical interlude that follows is just one of the many creative twists of this track, making it hard to describe without falling into descriptive chaos.

Despite being somewhat on the fringe of the standards Magma would establish later, this album is one of the most innovative and progressive creations of its time. It’s a work that challenges the listener to immerse themselves in its complexity, and though it’s difficult to absorb immediately, it offers a rewarding experience for those willing to explore its intricacies. If you want to understand progressive rock in all its breadth, this album is essential for your collection.

NOTA: 8/10

Tracks Listing

DISCO 1:

1. Kobaïa (10:15)
2. Aïna (6:15)
3. Malaria (4:20)
4. Sohïa (7:35)
5. Sckxyss (3:47)
6. Auraë (10:55)


DISCO 2:

1. Thaud Zaïa (7:00)
2. Naü Ektila (12:55)
3. Stöah (8:05)
4. Mûh (11:13)

Ouça, "Auraë"




The Soft Machine - Bundles (1975)

 

Soft Machine sempre teve uma habilidade rara de manter seus ouvintes imersos, quase como se algo novo estivesse prestes a acontecer a cada segundo. Após o lançamento do sólido Seven, a banda retornou dois anos depois com uma novidade empolgante: a adição de Allan Holdsworth, um guitarrista que mais tarde construiria uma carreira solo brilhante. Embora a guitarra não seja o primeiro instrumento que se associa ao som clássico da Soft Machine, a presença de Holdsworth aqui muda tudo. Ele não apenas brilha; é o centro das atenções, levando a banda a uma nova direção.

Bundles é essencialmente, um álbum guiado pelas guitarras, onde Holdsworth domina e os outros instrumentos servem quase como pano de fundo para suas linhas criativas. A abertura, “Hazard Profile Part 1,” é um exemplo claro dessa revolução sonora. O riff de guitarra repetitivo e agressivo anuncia uma nova fase da banda. Quando Holdsworth inicia seu solo, somos imediatamente transportados para um universo onde o jazz rock flerta com o progressivo por meio de uma técnica e sensibilidade extraordinárias. O resto da banda acompanha de forma primorosa, criando um cenário luxuoso no qual a guitarra desliza com liberdade.

Já em “Hazard Profile Part 2”, a atmosfera muda. O piano assume o protagonismo com uma melodia delicada e introspectiva, que se entrelaça com o violão de forma sublime. A música flui com uma suavidade que contrasta perfeitamente com a energia da primeira parte. “Hazard Profile Part 3” tem apenas 33 segundos, mas é o suficiente para deixar uma impressão forte, preparando o terreno para a explosão seguinte. “Hazard Profile Part 4” traz uma pegada mais próxima do blues rock, com um riff poderoso e repetitivo. “Hazard Profile Part 5”  continua com energia renovada, onde a bateria e o baixo formam uma base sólida, enquanto o sintetizador adiciona um toque original e dinâmico. E mais uma vez, Holdsworth reina, conduzindo a faixa com maestria.

“Gone Sailing” é um breve interlúdio de menos de um minuto, no qual Holdsworth opta por um solo de violão simples, mas cheio de harmonia e beleza. Essa simplicidade serena funciona como uma ponte para “Bundles”, uma faixa que antecipa o futuro estilo do guitarrista. A música traz uma melodia forte, linhas de baixo vigorosas e um trabalho de guitarra que praticamente solta faíscas, proporcionando ao ouvinte aquela sensação de improviso controlado. “Land Of The Bag Snake” se destaca pelo trabalho de guitarra incendiário sobre uma base rítmica intensa. Aqui, Holdsworth nos presenteia com solos melódicos que são verdadeiros deleites auditivos. O baterista John Marshall brilha criando momentos que remetem ao lado mais jazzístico do King Crimson, especialmente à fase com Bill BrufordThe Man Who Waved At Trains” desacelera o ritmo com uma faixa suave, onde a bateria e os teclados são intricados e o saxofone e oboé criam uma atmosfera relaxante. A transição para “Peff” é natural, e essa faixa serve como um ponto de equilíbrio no álbum, destacando-se pela técnica e pelo crescimento gradual do saxofone, que atinge momentos de distorção impactante.

“Four Gongs Two Drums” é um solo de bateria de John Marshall. Ele consegue manter a faixa concisa e envolvente, evitando que se torne cansativa. Para fechar o disco, “The Floating World” é uma faixa atmosférica, onde a banda cria uma sensação de leveza, quase como se estivéssemos flutuando. É um encerramento inesperado, mas que revela a intenção de Karl Jenkins de deixar sua marca como líder da banda. A flauta de Ray Warleigh contribui para essa textura etérea, criando um final contemplativo, embora um pouco longo para um álbum tão enérgico.

No fim, Bundles é um álbum poderoso e com uma produção orgânica que casa perfeitamente com a música. Embora não tenha o mesmo impacto inovador ou icônico dos primeiros discos da Soft Machine, ele se destaca como um excelente trabalho de jazz rock que está repleto de momentos empolgantes. É um disco mais indicado para fãs de fusion do que para os puristas da cena Canterbury, mas ainda assim, um marco interessante na carreira da banda.

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Soft Machine has always had a rare ability to keep its listeners immersed, almost as if something new is about to happen at any given second. After releasing the solid Seven, the band returned two years later with an exciting new addition: Allan Holdsworth, a guitarist who would later build a brilliant solo career. Although the guitar is not the first instrument that comes to mind when thinking of Soft Machine's classic sound, Holdsworth’s presence here changes everything. He doesn’t just shine; he takes center stage, leading the band in a new direction.

Bundles is essentially a guitar-driven album, where Holdsworth dominates, and the other instruments almost act as a backdrop for his creative lines. The opening track, “Hazard Profile Part 1,” is a clear example of this sonic revolution. The aggressive, repetitive guitar riff announces a new phase for the band. As soon as Holdsworth begins his solo, we are instantly transported to a universe where jazz rock flirts with progressive through extraordinary technique and sensitivity. The rest of the band accompanies him flawlessly, creating a luxurious backdrop in which the guitar glides freely.

In “Hazard Profile Part 2,” the atmosphere changes. The piano takes the lead with a delicate and introspective melody, beautifully intertwined with the acoustic guitar. The music flows smoothly, perfectly contrasting the energy of the first part. “Hazard Profile Part 3” is only 33 seconds long, but it’s enough to leave a strong impression, setting the stage for the next explosion. “Hazard Profile Part 4” brings a blues rock feel, with a powerful and repetitive riff. “Hazard Profile Part 5” continues with renewed energy, where the drums and bass form a solid foundation, while the synthesizer adds an original and dynamic touch. Once again, Holdsworth reigns, guiding the track with mastery.

“Gone Sailing” is a brief interlude of less than a minute, where Holdsworth opts for a simple acoustic guitar solo, full of harmony and beauty. This serene simplicity works as a bridge to “Bundles,” a track that anticipates the guitarist's future style. The song delivers a strong melody, vigorous bass lines, and guitar work that practically sparks, providing the listener with that sense of controlled improvisation. “Land of the Bag Snake” stands out for its fiery guitar work over an intense rhythmic foundation. Here, Holdsworth delights us with melodic solos that are true auditory treats. Drummer John Marshall shines, creating moments reminiscent of King Crimson's jazzier side, especially the Bill Bruford era. “The Man Who Waved At Trains” slows the pace with a gentle track, where the drums and keyboards are intricate, and the saxophone and oboe create a relaxing atmosphere. The transition to “Peff” feels natural, and this track serves as a balance point in the album, highlighted by the technique and gradual buildup of the saxophone, which reaches moments of striking distortion.

“Four Gongs Two Drums” is a drum solo by John Marshall. He manages to keep the track concise and engaging, avoiding any sense of fatigue. To close the album, “The Floating World” is an atmospheric piece, where the band creates a sense of lightness, almost as if we’re floating. It’s an unexpected ending but reveals Karl Jenkins’ intention to leave his mark as the band’s leader. Ray Warleigh’s flute contributes to this ethereal texture, crafting a contemplative conclusion, though perhaps a bit long for such an energetic album.

In the end, Bundles is a powerful album with an organic production that perfectly matches the music. While it may not have the same innovative or iconic impact as Soft Machine’s earlier records, it stands out as an excellent jazz rock work full of exciting moments. It's an album more suited for fusion fans than Canterbury scene purists, but nonetheless, an interesting milestone in the band’s career.

NOTA: 9/10

Tracks Listing

1. Hazard Profile, Part 1 (9:18)
2. Hazard Profile, Part 2 (2:21)
3. Hazard Profile, Part 3 (1:05)
4. Hazard Profile, Part 4 (0:46)
5. Hazard Profile, Part 5 (5:29)
6. Gone Sailing (0:59)
7. Bundles (3:14)
8. Land of the Bag Snake (3:35)
9. The Man Who Waved at Trains (1:50)
10. Peff (1:57)
11. Four Gongs Two Drums (4:09)
12. The Floating World (7:12)

Ouça, "Hazard Profile, Part 1"




Pendragon - The Masquerade Overture (1996)

 

A primeira vez que ouvi The Masquerade Overture, não consegui conter a empolgação. Com guitarras de qualidade e teclados sinfônicos, o Pendragon mostra um domínio absoluto de sua música. O equilíbrio entre complexidade e beleza é nítido; aqui, nada é excessivo ou exibicionista, tudo flui com uma naturalidade que revela o talento de músicos maduros e conscientes de sua direção.

A faixa-título, “The Masquerade Overture”, abre o álbum de maneira majestosa, criando uma atmosfera sinfônica com a ajuda de Clive Nolan e seus teclados emocionantes. O coral cantado em italiano, ao fundo, nos transporta diretamente para um ambiente renascentista, como se estivéssemos em uma catedral ouvindo um cântico antigo. É uma excelente introdução que já define o tom emocional do disco. “As Good As Gold” começa de forma suave, com piano e vocais em perfeita harmonia. Mas logo explode em energia, com uma bateria forte, sintetizadores criativos e um solo de guitarra eletrizante. A influência de Genesis é notável, especialmente na forma como a música cresce e se desenvolve. O refrão é emocionante, tornando esta uma das faixas mais memoráveis do álbum.

“Paintbox” continua essa jornada emocional começando com uma atmosfera introspectiva e solene, lembrando “Entangled” do Genesis. A narrativa implícita de um jovem em busca de um futuro melhor é embalada por guitarras e teclados que complementam perfeitamente o clima. A banda cria uma experiência sonora envolvente, com uma base rítmica sólida que intensifica ainda mais a música. “The Pursuit Of Excellence” traz uma mudança de tom com sua curta duração e sensação folk, remetendo ao lado mais celta do progressivo. A história de um imigrante cheio de esperança em busca de oportunidades nos EUA é tocante, e a música, com seu tom melancólico, acrescenta uma pausa reflexiva ao álbum.

“Guardian of my Soul” é uma peça que começa com uma bateria tribal que logo se transforma em uma paisagem sonora de rock sinfônico. A banda exibe sua habilidade em transições dinâmicas e complexas, enquanto os teclados de Nolan constroem a base para o desfile dos demais instrumentos. Com uma guitarra belíssima e toques de Pink Floyd, essa música evolui de uma maneira impressionante, carregando o mito de Ícaro em sua narrativa e movendo-se de um começo sombrio para um desenvolvimento mais otimista. “The Shadow” é um exemplo perfeito de como o Pendragon combina emoção com técnica. O piano inicial, as cordas de Nolan e o violão que entra em seguida criam uma balada rica em detalhes e cheia de transições suaves. Os solos de guitarra, acompanhados pelos vocais harmoniosos e pelo coral de Tracy Hitchings, trazem uma emoção palpável, especialmente no final da faixa, com uma conclusão exuberante e arrebatadora.

O álbum encerra com “Masters Of Illusion”, que começa de maneira um tanto simples, com um refrão que lembra o pop dos anos 80. No entanto, a música logo se transforma, e conforme avança, revela uma experiência inesquecível. O solo de guitarra final, é sem dúvida, um dos mais belos já produzidos por uma banda de neo-progressivo, com uma clara influência de Pink Floyd, mas também carregando a assinatura única do Pendragon. O coral que se junta à melodia torna o final épico.

The Masquerade Overture pode não ser uma obra-prima universal, mas sem dúvida é um dos discos mais representativos e belos da carreira do Pendragon. Com sua simplicidade e emoção, o álbum continua a crescer com o tempo, mostrando que mesmo sem pretensões gigantescas, a banda criou algo que se mantém atemporal e emocionante para os fãs de rock progressivo.

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The first time I heard The Masquerade Overture, I couldn't contain my excitement. With high-quality guitars and symphonic keyboards, Pendragon demonstrates absolute mastery of their music. The balance between complexity and beauty is clear; nothing here is excessive or showy, everything flows with a naturalness that reveals the talent of mature musicians, fully aware of their direction.

The title track, "The Masquerade Overture," opens the album in a majestic way, creating a symphonic atmosphere with the help of Clive Nolan's emotional keyboards. The choir, sung in Italian in the background, transports us directly to a Renaissance setting, as if we were in a cathedral listening to an ancient chant. It’s an excellent introduction that already sets the emotional tone of the album. "As Good As Gold" starts softly, with piano and vocals in perfect harmony. But it soon bursts with energy, featuring strong drums, creative synthesizers, and an electrifying guitar solo. The influence of Genesis is noticeable, especially in how the song grows and develops. The chorus is moving, making this one of the most memorable tracks on the album.

"Paintbox" continues this emotional journey, beginning with an introspective and solemn atmosphere, reminiscent of Genesis's "Entangled." The implicit narrative of a young person searching for a better future is enveloped by guitars and keyboards that perfectly complement the mood. The band creates an immersive sound experience, with a solid rhythmic foundation that further intensifies the music. "The Pursuit of Excellence" brings a tonal shift with its short duration and folk-like feel, evoking the Celtic side of progressive rock. The story of an immigrant filled with hope in search of opportunities in the U.S. is touching, and the song’s melancholic tone adds a reflective pause to the album.

"Guardian of My Soul" is a piece that starts with tribal drums, soon transforming into a symphonic rock soundscape. The band showcases their skill in dynamic, complex transitions, while Nolan's keyboards lay the foundation for the rest of the instruments to shine. With a beautiful guitar and touches of Pink Floyd, this song evolves impressively, carrying the myth of Icarus in its narrative and moving from a dark beginning to a more optimistic development. "The Shadow" is a perfect example of how Pendragon combines emotion with technique. The initial piano, Nolan's strings, and the acoustic guitar that follows create a ballad rich in detail and full of smooth transitions. The guitar solos, accompanied by harmonious vocals and Tracy Hitchings' choir, bring palpable emotion, especially at the track's end, with an exuberant and breathtaking conclusion.

The album closes with "Masters of Illusion," which begins somewhat simply, with a chorus reminiscent of '80s pop. However, the song quickly transforms, and as it progresses, it reveals an unforgettable experience. The final guitar solo is undoubtedly one of the most beautiful ever produced by a neo-progressive band, with a clear Pink Floyd influence, but also carrying Pendragon's unique signature. The choir that joins the melody makes for an epic finale.

The Masquerade Overture may not be a universal masterpiece, but it is undoubtedly one of the most representative and beautiful albums of Pendragon's career. With its simplicity and emotion, the album continues to grow over time, showing that even without grand pretensions, the band created something that remains timeless and moving for progressive rock fans.

NOTA: 9/10

Tracks Listing

1. The Masquerade Overture (3:03)
2. As Good As Gold (7:15)
3. Paintbox (8:39)
4. The Pursuit Of Excellence (2:37)
5. Guardian Of My Soul (12:41)
6. The Shadow (9:55)
7. Masters Of Illusion (12:51)

Ouça, "Masters of Illusion"



Pink Floyd - Atom Heart Mother (1970)

 

Atom Heart Mother marca um ponto de transição fundamental no som do Pink Floyd, emergindo do seu período mais experimental e psicodélico para algo mais coeso e contido. Esse disco é uma peça valiosa e intrigante na discografia da banda. A faixa-título, por exemplo, é uma verdadeira epopeia sonora de quase 24 minutos, misturando as habilidades instrumentais da banda com uma sofisticada orquestração elaborada por Ron Geesin. Embora muitas bandas tenham adotado a fusão de rock com elementos sinfônicos anos mais tarde, o Pink Floyd foi um dos pioneiros nesse estilo, criando, para alguns, uma obra-prima; para outros, uma tentativa ousada e desnecessária. Mas a verdade é que este é um álbum que pode ser apreciado sem precisar aderir a extremos de adoração ou rejeição.

O disco começa com a faixa-título, um motivo de desconforto para a própria banda, que alega não gostar do resultado. No entanto, é difícil entender essa aversão, pois o que ouvimos é uma peça atmosférica e hipnótica, quase uma viagem espiritual, com coro, orquestra e a banda em perfeita sincronia. Trata-se de uma composição genuinamente progressiva, cheia de camadas que se desenrolam lentamente, arrastando o ouvinte para um estado de contemplação quase meditativa. O teclado de Richard Wright, sombrio e denso, estabelece o tom, enquanto as linhas simples, porém eficazes, do baixo de Roger Waters complementam as guitarras distintivas de David Gilmour. A orquestração e o coro conferem uma majestade clássica à peça, com vocalizações que vão desde o coral tradicional até cânticos que lembram a musicalidade maori. A faixa muda de humor ao longo do tempo, passando de uma atmosfera mais melancólica para um groove descontraído, sempre mantendo elementos de efeitos sonoros que evocam cenários enigmáticos. Enxergar essa composição como ambiciosa e talvez pretensiosa é comum, mas a verdade é que o Pink Floyd conseguiu algo grandioso, e pessoalmente, não entendo a razão para o desprezo da banda por ela.

“If” abre a segunda metade do disco com uma tranquilidade quase necessária, após o caos orquestral da faixa anterior. Talvez seja a faixa mais fraca do álbum, mas ainda assim tem seu valor, proporcionando uma pausa relaxante. A simplicidade do violão de Waters, somada às sutis intervenções de Gilmour na guitarra, oferece um respiro bem-vindo, ainda que sem grandes inovações. Em seguida, “Summer '68” traz à tona um dos pianos mais expressivos de Richard Wright, dramático e belo ao longo de toda a faixa. Wright também assume os vocais, dando início a uma melodia suave que se intensifica após o primeiro refrão, com instrumentos de sopro e cordas contribuindo para a grandiosidade. A letra, que parece descrever de maneira amarga uma relação passageira, talvez com uma groupie, contrasta um pouco com a instrumentação, mas a música em si permanece forte e marcante.

“Fat Old Sun”, precedida por suaves badaladas de sino, começa de maneira tranquila e remete ao tom relaxado de “If”. Essa faixa, no entanto, foi resgatada por Gilmour em suas performances solo a partir de 2007 e nunca mais saiu de seu repertório. Seus vocais são suaves e melódicos, e o solo de guitarra no final é uma verdadeira obra de arte, tornando essa música uma joia discreta do álbum. Por fim, “Alan's Psychedelic Breakfast” é, sem dúvida, a peça mais vanguardista e experimental do disco. Aqui, somos apresentados ao som de um homem – Alan Styles, roadie da banda – preparando seu café da manhã, com reflexões descontraídas sobre o tema. Sem elementos tradicionais de rock, a faixa é dividida em três partes: “Rise And Shine”, dominada por um piano suave; “Sunny Side Up”, onde Gilmour traz belos acordes de violão; e “Morning Glory”, que envolve todos os membros da banda em um encerramento sereno, finalizado com o som de uma torneira pingando.

Atom Heart Mother pode não ser o maior feito do Pink Floyd, e sua estrutura talvez não tenha sido tão cuidadosamente planejada quanto os discos icônicos que viriam depois. No entanto, seu valor reside em sua ousadia e no seu caráter experimental, principalmente na faixa-título. Não se trata de um álbum essencial, mas é, sem dúvida, uma peça interessante e digna de figurar em qualquer coleção de fãs de rock progressivo ou da banda.

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Atom Heart Mother marks a fundamental transition point in Pink Floyd's sound, emerging from their more experimental and psychedelic phase into something more cohesive and contained. This album is a valuable and intriguing piece in the band's discography. The title track, for instance, is a true sonic epic of nearly 24 minutes, blending the band's instrumental prowess with sophisticated orchestration crafted by Ron Geesin. While many bands would adopt the fusion of rock with symphonic elements in later years, Pink Floyd was one of the pioneers of this style, creating, for some, a masterpiece; for others, a bold and unnecessary attempt. But the truth is, this is an album that can be appreciated without needing to adhere to extremes of worship or rejection.

The album opens with the title track, a source of discomfort for the band itself, which claims not to like the outcome. However, it’s hard to understand this aversion, as what we hear is an atmospheric and hypnotic piece, almost a spiritual journey, with choir, orchestra, and band in perfect sync. It is a genuinely progressive composition, full of layers that slowly unfold, dragging the listener into an almost meditative state of contemplation. Richard Wright's keyboards, dark and dense, set the tone, while Roger Waters' simple yet effective bass lines complement David Gilmour's distinctive guitars. The orchestration and choir lend a classical majesty to the piece, with vocalizations ranging from traditional chorale to chants reminiscent of Maori musicality. The track shifts mood over time, moving from a more melancholic atmosphere to a laid-back groove, always maintaining sound effects that evoke enigmatic scenarios. Seeing this composition as ambitious and perhaps pretentious is common, but the truth is that Pink Floyd achieved something grand, and personally, I don’t understand the band's disdain for it.

“If” opens the second half of the album with an almost necessary calm after the orchestral chaos of the previous track. It might be the weakest track on the album, but it still holds value, providing a relaxing break. Waters' acoustic guitar simplicity, combined with Gilmour's subtle guitar interventions, offers a welcome breather, though without major innovations. Then, "Summer '68" brings forth one of Richard Wright's most expressive pianos, dramatic and beautiful throughout. Wright also takes on vocal duties, starting with a gentle melody that intensifies after the first chorus, with brass and strings adding to the grandeur. The lyrics, which seem to bitterly describe a fleeting relationship, perhaps with a groupie, contrast a bit with the instrumentation, but the music itself remains strong and memorable.

“Fat Old Sun,” preceded by gentle bell chimes, begins calmly and echoes the relaxed tone of “If.” However, this track was revived by Gilmour in his solo performances starting in 2007 and has remained in his repertoire ever since. His vocals are smooth and melodic, and the guitar solo at the end is a true masterpiece, making this song a hidden gem on the album. Finally, “Alan's Psychedelic Breakfast” is undoubtedly the album’s most avant-garde and experimental piece. Here, we're introduced to the sound of a man – Alan Styles, the band’s roadie – preparing his breakfast, with laid-back reflections on the theme. Lacking traditional rock elements, the track is divided into three parts: “Rise And Shine,” dominated by gentle piano; “Sunny Side Up,” where Gilmour delivers beautiful acoustic guitar chords; and “Morning Glory,” involving all the band members in a serene conclusion, finishing with the sound of a dripping faucet.

Atom Heart Mother may not be Pink Floyd's greatest achievement, and its structure may not have been as carefully planned as the iconic albums that followed. However, its value lies in its boldness and experimental nature, especially in the title track. It may not be an essential album, but it is undoubtedly an interesting piece, deserving a place in any progressive rock or Pink Floyd fan’s collection.

NOTA: 8/10

Tracks Listing

1. Atom Heart Mother (23:51)
2. If (4:24)
3. Summer '68 (5:26)
4. Fat Old Sun (5:17)
5. Alan's Psychedelic Breakfast (12:56)

Ouça, "Atom Heart Mother"




Van Der Graaf Generator - The Least We Can Do Is Wave To Each Other (1970)

 

O álbum The Aerosol Grey Machine é frequentemente descrito como uma obra solo de Peter Hammill, dada a sua influência dominante na composição. No entanto, com o lançamento de The Least We Can Do Is Wave To Each Other, a Van der Graaf Generator marca uma mudança notável. A banda, agora em sua forma mais autêntica, ganha vida com a colaboração criativa de todos os membros, demonstrando um crescimento semelhante ao que o Genesis experimentou em seu segundo álbum. Embora as bandas sejam musicalmente distintas, a evolução histórica e o amadurecimento são claramente paralelos.

O título do álbum faz referência a uma frase do britânico John Minton, um pintor e ilustrador cuja trágica morte aos 39 anos em 1957 adiciona uma camada de melancolia ao contexto do disco. A partir deste ponto, a banda estabelece seu estilo distintivo, com uma abordagem progressiva e uma sonoridade impressionante. A bateria se destaca pela sua excelência e o trabalho de órgão por vezes é brilhante. As partes de guitarra são propositalmente simples, mas não comprometem a qualidade geral do álbum. O saxofonista David Jackson traz um toque inovador e peculiar, enquanto Peter Hammill já demonstra, mesmo neste estágio inicial, a profundidade emocional e a singularidade de sua voz.

A faixa de abertura, "Darkness (11/11)", é uma escolha perfeita para iniciar o álbum. Começa com ventos soprando e címbalos que são gradualmente acompanhados por vocais, saxofone e bateria, criando uma sonoridade completa e envolvente. As melodias encantadoras podem levar algum tempo para se estabelecer, mas carregam uma magia que é ao mesmo tempo obscura e brilhante. O solo final de saxofone é notável. "Refugees" se destaca como uma das baladas mais comoventes do rock progressivo. Com uma introdução feita de flauta e violoncelo, além de vocais em falsete que anunciam a entrada da bateria, a faixa é uma combinação de delicadeza e cuidado. A letra, que aborda o tema do deslocamento e da mudança, é uma reflexão pessoal de Hammill, tornando-a uma obra encantadora.

"White Hammer" oferece uma visão intrigante da Inquisição Espanhola, envolta em uma atmosfera sombria. A contribuição de Jackson com seu saxofone é particularmente perceptível, enquanto o baixo pulsante e o poderoso trabalho de órgão sustentam a faixa. O solo final de saxofone é ótimo, conferindo aos últimos dois minutos uma sensação de inquietação e tensão. "Whatever Would Robert Have Said?" é uma das faixas mais experimentais e menos acessíveis do álbum. Com letras peculiares e uma abordagem inicial descontraída, a música evolui para um som mais selvagem e progressivo, destacando-se pelo trabalho de guitarra, especialmente no final.

"Out Of My Book" é outra balada introspectiva e com letras pessoais de Hammill. A simplicidade instrumental, destacando-se pelo violão, é eficaz, enquanto o órgão constrói uma parede sonora interessante. A performance vocal de Hammill é intensa e sentimental, oferecendo um momento de introspecção agradável. Finalmente, "After The Flood" é a faixa mais longa e a que encerra o álbum. Embora não seja a mais agressiva, é deslumbrante em sua beleza. A faixa começa com uma ambientação suave que evolui para um som mais perturbador, com uma luta de supremacia entre a flauta e o saxofone. A seção instrumental do meio é um frenesi absoluto, mas a faixa mantém a capacidade de cativar do início ao fim.

The Least We Can Do Is Wave To Each Other, sem dúvida é o primeiro grande álbum da Van der Graaf Generator, mostrando o que fez a banda se destacar. Com letras complexas e belas, a voz singular e original de Hammill, arranjos de teclados fantásticos, ótimos trabalhos de saxofone e flautas excepcionais, além de uma bateria criativa e sólida, o álbum define a identidade da banda com maestria.

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The Aerosol Grey Machine is often described as a solo work by Peter Hammill, given his dominant influence on the compositions. However, with the release of The Least We Can Do Is Wave To Each Other, Van der Graaf Generator marks a significant shift. The band, now in its most authentic form, comes to life through the creative collaboration of all its members, showing a growth trajectory similar to that of Genesis on their second album. While the bands are musically distinct, the historical evolution and maturation are clearly parallel.

The album's title references a phrase by British artist John Minton, a painter and illustrator whose tragic death at the age of 39 in 1957 adds a layer of melancholy to the album’s context. From this point, the band establishes its distinctive style, with a progressive approach and an impressive sound. The drumming stands out for its excellence, and the organ work is brilliant at times. The guitar parts are purposefully simple, yet they do not compromise the overall quality of the album. Saxophonist David Jackson brings an innovative and quirky touch, while Peter Hammill already demonstrates, even at this early stage, the emotional depth and uniqueness of his voice.

The opening track, "Darkness (11/11)," is a perfect choice to start the album. It begins with winds blowing and cymbals that are gradually joined by vocals, saxophone, and drums, creating a full and immersive sound. The enchanting melodies may take some time to settle in, but they carry a magic that is both dark and brilliant. The final saxophone solo is remarkable. "Refugees" stands out as one of the most moving ballads in progressive rock. With an introduction featuring flute and cello, and falsetto vocals announcing the entry of the drums, the track is a combination of delicacy and care. The lyrics, addressing the theme of displacement and change, are a personal reflection by Hammill, making it a charming piece.

"White Hammer" offers an intriguing look at the Spanish Inquisition, enveloped in a dark atmosphere. Jackson’s saxophone contribution is particularly noticeable, while the pulsing bass and powerful organ work sustain the track. The final saxophone solo is excellent, giving the last two minutes a sense of unease and tension. "Whatever Would Robert Have Said?" is one of the more experimental and less accessible tracks on the album. With peculiar lyrics and a laid-back initial approach, the song evolves into a wilder, more progressive sound, with the guitar work, especially toward the end, being a highlight.

"Out Of My Book" is another introspective ballad with personal lyrics by Hammill. The simplicity of the instrumentation, notably the acoustic guitar, is effective, while the organ builds an interesting sonic wall. Hammill’s vocal performance is intense and sentimental, offering a pleasant moment of introspection. Finally, "After The Flood" is the longest track and the album closer. Although not the most aggressive, it is stunning in its beauty. The track starts with a gentle ambiance that evolves into a more disturbing sound, with a battle of supremacy between the flute and saxophone. The middle instrumental section is an absolute frenzy, but the track remains captivating from start to finish.

The Least We Can Do Is Wave To Each Other is undoubtedly Van der Graaf Generator’s first great album, showcasing what made the band stand out. With complex and beautiful lyrics, Hammill's singular and original voice, fantastic keyboard arrangements, great saxophone work, exceptional flutes, and creative, solid drumming, the album masterfully defines the band's identity.

NOTA: 8.5/10

Tracks Listing

1. Darkness (11/11) (7:27)
2. Refugees (6:22)
3. White Hammer (8:15)
4. Whatever Would Robert Have Said? (6:17)
5. Out of My Book (4:07)
6. After the Flood (11:28)

Ouça, "White Hammer"



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